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Coreia do Sul tem 129 mil milhões para construção naval nos EUA e cimentar aliança com Trump

Cimeira entre Coreia do Sul e EUA decorreu sem incidentes, com promessas de investimento e reforço estratégico.

Cho Hyun aborda o aumento do orçamento de defesa da Coreia do Sul em Seul
Cho Hyun aborda o aumento do orçamento de defesa da Coreia do Sul em Seul Jeon Heon-Kyun / Pool / Lusa - EPA
26 de Agosto de 2025 às 10:54

A visita do presidente sul-coreano Lee Jae Myung a Washington ficou marcada por promessas multimilionárias para reanimar a combalida indústria naval dos Estados Unidos, uma das apostas mais concretas do pacote de investimento de 350 mil milhões de dólares acordado entre os dois países, dos quais 150 mil milhões de dólares (129 mil milhões de euros) são para a construção naval. Ao lado de Donald Trump, Lee apresentou a iniciativa “Make America Shipbuilding Great Again”, procurando conjugar interesses económicos e estratégicos numa altura em que a competição com a China se intensifica.

No encontro de segunda-feira na Casa Branca, Trump não escondeu a ambição de recuperar uma indústria que já foi líder mundial durante a Segunda Guerra Mundial e que atualmente detém apenas 0,04% da produção global. “Vamos voltar ao negócio dos estaleiros navais”, disse o presidente norte-americano, lembrando que Pequim domina tanto na construção de navios comerciais como na projeção de poder marítimo.

De acordo com a Reuters, Lee deslocou-se ao estaleiro da Hanwha em Filadélfia, adquirido pelo conglomerado sul-coreano no ano passado. A empresa prevê investir até cinco mil milhões de dólares para aumentar drasticamente a capacidade de produção: de menos de dois navios por ano para cerca de 20. Ainda assim, trata-se de uma escala modesta quando comparada ao estaleiro da Hanwha Ocean na Coreia do Sul, dez vezes maior e capaz de entregar um navio por semana.

“O setor naval coreano, equipado com as mais fortes capacidades do mundo, trará uma verdadeira renascença à indústria naval dos Estados Unidos e criará um novo ponto de viragem para a prosperidade mútua”, afirmou Lee em Washington.

Além da Hanwha, outros gigantes sul-coreanos assinaram acordos de cooperação. A HD Hyundai juntou-se ao Korea Development Bank e ao fundo Cerberus Capital para criar um fundo que visa reforçar capacidades marítimas e logísticas dos EUA e aliados. Já a Samsung Heavy Industries estabeleceu parceria com a norte-americana Vigor Marine Group para trabalhar na manutenção da frota da Marinha dos EUA, modernização de estaleiros e construção conjunta de navios.

Revitalização do setor enfrenta vários entraves

Apesar do entusiasmo, os desafios são significativos. “As instalações são antigas e há escassez de técnicos”, alertou Steve SK Jeong, responsável pela divisão naval da Hanwha Ocean, em declarações anteriores à Reuters. A formação de mão de obra local poderá levar entre quatro a cinco anos, e a dificuldade em recrutar trabalhadores dispostos a tarefas pesadas é outro entrave. Questões logísticas, como o acesso a aço e outros materiais essenciais, também podem atrasar os planos.

As barreiras legais agravam o quadro. O Jones Act, em vigor desde 1920, exige que o transporte marítimo entre portos norte-americanos seja feito em navios construídos nos EUA. Já a Byrnes-Tollefson Amendment impede a construção de embarcações navais em estaleiros estrangeiros, embora o presidente possa suspender a norma por razões de segurança nacional. Em Seul, responsáveis reconhecem que, sem ajustes às regras de proteção, o alcance dos projetos será limitado.

“Estamos a conduzir vários estudos para aumentar a cooperação, tendo em conta possíveis melhorias institucionais”, admitiu Wi Sung-lac, conselheiro de segurança nacional de Lee.

Uma cimeira "sem drama" e sem "momento Zelensky"

A dimensão económica foi acompanhada por compromissos políticos e militares. Lee aceitou e assumir maior protagonismo na resposta às mudanças na geopolítica regional. Embora muitos detalhes do novo pacote comercial e militar ainda estejam por definir, o clima da cimeira foi considerado positivo em Seul, sobretudo por não se ter repetido um “momento Zelensky”, uma referência à .

Desta vez, tanto Trump como Lee exibiram cordialidade e elogios mútuos. Há analistas que consideram que a Coreia do Sul conseguiu evitar choques que poderiam fragilizar a aliança em plena escalada nuclear da Coreia do Norte e . “A cimeira terminou sem drama”, avaliou Cheong Seong-chang, do Sejong Institute, em Seul.

Ainda assim, algumas das pretensões de Lee ficaram em suspenso, como o pedido de revisão das leis norte-americanas sobre construção naval e a autorização para reprocessamento de combustível nuclear. Por agora, a prioridade parece ser assegurar que o plano para reerguer a indústria naval norte-americana sai do papel.

Se os investimentos e parcerias forem concretizados, Washington poderá recuperar parte da sua capacidade naval, mas os próximos anos dirão se as promessas multimilionárias e os sorrisos na Casa Branca se traduzem em navios prontos a competir com a produção em série da Ásia.

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