O novo Canal do Suez é hoje inaugurado e já tem muita história
Esta quinta-feira marca a inauguração oficial do novo e alargado Canal do Suez. Com este projecto, as autoridades egípcias pretendem assegurar um importante impulso à economia do país. Mas o novo canal também serve para melhorar a imagem de um país assolado pela instabilidade política interna.
Um ano volvido desde o anúncio da sua construção, o novo Canal do Suez é oficialmente inaugurado esta quinta-feira, 6 de Agosto. A conclusão da obra permite assim cumprir o objectivo definido pelo presidente egípcio, Abdel Fattah Al Sisi, que há um ano estabeleceu que as obras teriam de estar concluídas num prazo de 12 meses, e não em três anos como inicialmente previsto.
Este novo canal contemplou a construção de uma nova via navegável, com 35 km de extensão, a que acresceu o alargamento e aprofundamento de 37 km do canal original, cuja inauguração data de 1869, após 10 anos de construção. Assim, o novo canal terá um total de 72 km, ao longo dos quais as autoridades egípcias asseguram ser possível navegar simultaneamente em ambas as direcções.
De acordo com a Autoridade do Canal do Suez (SCA, na sigla inglesa), responsável pela gestão da hidrovia artificial, cerca de 8% do tráfego comercial marítimo mundial passa pelo Canal do Suez. A SCA, totalmente detida pelo governo egípcio após a nacionalização decretada em 1956 pelo então presidente Abdel Nasser, estima um trânsito médio diário de 97 navios em 2023, acima dos actuais 49.
Ainda segundo a SCA, para atravessar os renovados 72 km, que continuarão a ligar o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo, serão precisas 11 horas, bem menos do que as 18 horas actualmente necessárias para ir desde o Porto do Suez até ao Porto Said. Hoje em dia, o Canal do Suez já é a mais rápida rota marítima para chegar da Ásia à Europa, permitindo poupar os cerca de 15 dias necessários para contornar o continente africano. A cerimónia da inauguração terá lugar em Ismailia, sensivelmente a meio caminho entre o topo sul (Porto do Suez) e o topo norte (Porto Said) do canal. Entre as pessoas que irão assistir ao evento estarão vários egípcios que venceram uma espécie de sorteio nacional em que o prémio era, precisamente, o de poder presenciar a inauguração. Todavia, hoje não será a primeira vez que o canal agora alargado é percorrido, dado que a 25 de Julho vários navios internacionais participaram num ensaio devidamente acompanhado por helicópteros e navios militares que providenciaram a segurança do evento. Porque na Península do Sinai, junto à fronteira do canal, persistem combates entre apoiantes do actual governo militar e forças afectas à Irmandade Muçulmana.
A cerimónia da inauguração terá lugar em Ismailia, sensivelmente a meio caminho entre o topo sul (Porto do Suez) e o topo norte (Porto Said) do canal. Entre as pessoas que irão assistir ao evento estarão vários egípcios que venceram uma espécie de sorteio nacional em que o prémio era, precisamente, o de poder presenciar a inauguração.
Todavia, hoje não será a primeira vez que o canal agora alargado é percorrido, dado que a 25 de Julho vários navios internacionais participaram num ensaio devidamente acompanhado por helicópteros e navios militares que providenciaram a segurança do evento. Porque na Península do Sinai, junto à fronteira do canal, persistem combates entre apoiantes do actual governo militar e forças afectas à Irmandade Muçulmana.
"Renascimento do Egipto"
Designado pelas autoridades egípcias como propiciador do "renascimento do Egipto", Cairo encara o novo canal como o principal motor de uma economia depauperada pelos problemas internos de segurança e instabilidade política. De acordo com a SCA, a expansão do original Canal do Suez, agora concluída e que custou 8,5 mil milhões de dólares, permitirá arrecadar receitas de 13,2 mil milhões de dólares até 2023. Mas poderá não ser bem assim.
Segundo economistas consultados pelo New York Times, o agora antigo canal já não estava a operar na sua máxima capacidade, pelo que o aumento da mesma poderá ter um efeito diminuto, até porque provavelmente contrariado pela actual "quebra do comércio marítimo em termos globais".
Segundo a agência Reuters, para concluir este projecto, que contou com a colaboração de mais de 43 mil pessoas, as autoridades egípcias colocaram obrigações de dívida que ofereciam dividendos trimestrais de 12% aos investidores. Facto evidenciado por Ali Sisi que proclamou que "o novo Canal do Suez representa um feito do povo egípcio, que foi capaz de autofinanciar este projecto nacional". O Canal do Suez assume especial preponderância para o povo egípcio na medida em que a sua nacionalização, uma decisão que deu origem à Guerra do Suez, determinou um importante impulso para os movimentos anti-imperialistas e pan-arabistas que marcaram o pós-Segunda Guerra.
No entanto, este novo projecto tem também uma dimensão política e que se prende com uma tentativa de mudar um pouco a percepção da comunidade internacional relativamente a um país em convulsão desde que a Primavera Árabe ditou a queda do ex-presidente Hosni Mubarak. O presidente Al Sisi, general e líder do golpe de Estado militar que, em 2013, foi responsável pela deposição do primeiro presidente democraticamente eleito (Mohammed Morsi, da Irmandade Muçulmana) da história do Egipto, por alegadas ligações ao Hamas. Entre outras decisões, Al Sisi proibiu a realização de qualquer tipo de manifestação ou ajuntamentos populares, assim tentando precaver o surgimento de movimentos que possam colocar em causa a legitimidade da junta militar que governa o país.
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