BE destaca convergências recentes com Mário Soares, PCP não esconde divergências
Ainda assim, sociais-democratas, socialistas, bloquistas, democratas-cristãos, comunistas, ecologistas e o deputado único do PAN deverão ser unânimes na aprovação do voto de pesar pela morte do ex-chefe de Estado, proposto pelo presidente da Assembleia da República, o também ex-líder socialista, Eduardo Ferro Rodrigues.
PUB
No final da votação, todas as bancadas se levantaram em ovação, partilhada com a família, convidados e cidadãos nas galerias do hemiciclo, à excepção da maioria dos deputados do PCP, que optaram apenas por se levantar em sinal de respeito.
PUB
O Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) e o Pessoas-Animais-Natureza (PAN) destacaram ambos a importância das "Presidências Abertas", pela proximidade do então Presidente ao povo e ao território, nomeadamente um dos périplos dedicado precisamente ao ambiente, em Abril de 1994, sem deixarem de admitir discordâncias para com Soares.
"Cunhou na história o verdadeiro significado de animal político (vitoria sobre Freitas do Amaral nas presidenciais de 1986), criticou a terceira via de Tony Blair [primeiro-ministro britânico dos trabalhistas, da sua família política]. Levantou-se contra a invasão do Iraque e na defesa da Constituição Portuguesa contra as novas regras impostas pela 'troika', opôs-se às políticas de austeridade do Governo PSD/CDS e saudou a mudança imposta pelas eleições de 2015", disse o bloquista Pedro Filipe Soares.
PUB
O deputado do BE caracterizou o antigo Presidente da República como "obstinado, imprevisível, impaciente, frontal, controverso, mas sempre lutador", sublinhando que, depois do 25 de Abril de 1974, teve, "por vezes, as forças à sua esquerda como aliadas, por vezes como adversárias".
PUB
"O PCP divergiu profundamente de Mário Soares pelo papel destacado que assumiu no combate ao rumo emancipador da Revolução de Abril e a muitas das suas conquistas, incluindo a soberania nacional. Continuamos hoje a ser oposição a um conjunto largo das suas ideias e posições", vincou o comunista João Oliveira, "a começar pelas consequências da adesão à então CEE (União Europeia) em que assumiu" a liderança do processo.
Segundo o presidente da bancada do PCP, Soares "será lembrado como personalidade relevante na vida política nacional das últimas décadas, pela participação no combate à ditadura fascista e apoio aos presos políticos", além dos numerosos cargos políticos desempenhados, os quais elencou.
PUB
"Não deixa de ser lembrado pelas convergências e divergências com que marcou as posições e percurso. Não é este o momento apropriado para dissecar o deve e o haver... Mas seria hipocrisia política esconder as divergências, quanto ao presente e o futuro de Portugal", disse.
PUB
O deputado de "Os Verdes" José Luís Ferreira também reconheceu que, "ao longo deste tempo, o PEV nem sempre acompanhou as decisões ou opções políticas de Mário Soares, seja como primeiro-ministro, seja como Presidente, mas é também verdade que 'Os Verdes' sublinham e reconhecem a natureza inovadora das suas Presidências Abertas, nomeadamente sobre ambiente e qualidade de vida".
"Permitiu dar grande visibilidade a graves problemas ambientais e contribuiu para reforçar a importância e a relevância das questões ambientais e dos recursos naturais na discussão política", elogiou.
PUB
André Silva, parlamentar do PAN e que citou o antigo líder sul-africano e combatente anti-apartheid Nelson Mandela para elogiar Soares, afirmou: "independentemente das imperfeições que tinha e dos erros que cometeu - afinal, somos todos seres humanos, imperfeitos e errantes -, Mário Soares ensinou-nos, a todos e a todas, que desistir não é o caminho e que o futuro existe, desde que não deixemos de o sonhar".
PUB
"Termino com as palavras de outro ícone na luta pela liberdade, Nelson Mandela, que um dia disse - 'a morte é inevitável, quando um homem fez aquilo que considera ser o seu dever para com o seu povo e o seu país, poderá descansar em paz'", concluiu.
Mário Soares morreu sábado após 26 dias de internamento hospitalar e o Governo decretou três dias de luto nacional, até hoje, inclusive. As cerimónias fúnebres de Estado começaram segunda-feira, com o corpo em câmara ardente, no Mosteiro dos Jerónimos, uma sessão solene nos claustros manuelinos com a presença de altas figuras nacionais e estrangeiras e novo e emocionado cortejo popular até ao cemitério dos Prazeres.
PUB
Nascido a 7 de Dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi o primeiro secretário-geral do PS.
PUB
Após a revolução do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respectivo tratado, em 1985, precisamente no mesmo edifício manuelino em que foi velado desde segunda-feira.
Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.
PUB
Saber mais sobre...
Saber mais Pedro Filipe Soares João Oliveira BE PCP André Silva PAN política Mário SoaresEstamos em fim de festa?
A música continua a tocar
Mais lidas
O Negócios recomenda
 
                             
                            