“A instabilidade política tem três custos em i: inércia, incentivo e investimento”
António Ramalho e Gonçalo Moura Martins avisam que a instabilidade política tem custos para o país. E explicam quais. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.
Portugal vai novamente a votos no próximo domingo, para as terceiras eleições legislativas antecipadas em três anos. No 31.º episódio do podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas, António Ramalho e Gonçalo Moura Martins analisam os custos da instabilidade política e as consequências dos miniciclos.
Para António Ramalho, a instabilidade "afeta, em primeiro lugar, pela inércia na capacidade de mudança dos nossos principais atores, em segundo por falta de incentivo, em que todos os organismos do Estado ficam presos a esta incerteza e incapazes de decidir, e finalmente afeta as decisões de investimento, sobretudo internacionalmente". "A instabilidade tem três custos em i: inércia, investimento e incentivo", resume o gestor, que garante que "estudos empíricos e académicos parecem demonstrar que a imprevisibilidade nunca é boa e até pode ser considerada negativa".
Para Gonçalo Moura Martins, "o recurso constante a ciclos eleitorais curtos, por ausência de soluções políticas estáveis, tem um impacto devastador na gestão da coisa pública, na implementação de políticas sociais e económicas de longo prazo, no descrédito da atividade política e dos políticos e na degradação das instituições". Em seu entender, "se destas eleições não sair um quadro governativo minimamente estável, isso vai ter impacto na economia".
Os dois gestores não têm dúvidas que "os portugueses gostam de estabilidade", mas salientam que o sistema eleitoral propicia a fragmentação e a dificuldade de construção de maiorias estáveis. "A partir do momento que se fragmentou, como se tem visto na política portuguesa com muitos outros partidos a acederem ao Parlamento, nunca mais vamos ter governos minoritários que consigam ter um quadro de estabilidade governativa daqui para a frente", considera Moura Martins, lembrando que, ao nível dos quadros constitucionais, "alguns países já entenderam que é preciso criar condições de estabilidade governativa".
António Ramalho não tem dúvidas que, se a estabilidade no país foi um caso de sucesso reconhecido internacionalmente, Portugal "não se preparou para a instabilidade do ponto de vista da organização da administração pública", a qual "está impreparada para decidir sem Governo". Para o gestor, outro aspeto tão importante "é que não só não estamos preparados, como também não somos reconhecidos como estando preparados". Por isso, conclui: "parece-me evidente que a instabilidade tem um custo".
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