BPN: Discurso de Cavaco Silva descodificado
O candidato a um novo mandato em Belém defendeu-se das críticas dos rivais, atacando a gestão do BPN, e até foi buscar o exemplo inglês.
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Campanha dominada pelo BPN | Candidato a Presidente da República garante que não há qualquer contrato de venda das acções da SLN, tentando calar rivais |
No Verão, quase dois anos após a nacionalização, o Estado lançou o concurso público de venda do banco. Primeiro, o prazo para entrega de propostas terminava a 30 de Setembro. Como nenhum candidato formalizou o seu interesse, foi definido um novo calendário. Mais uma vez, a venda fracassou.
Agora, prepara-se a autonomização dos activos problemáticos do banco e uma injecção de 500 milhões, por forma a colocar o rácio de capital da instituição acima do mínimo de 8% e a permitir o seu funcionamento como banco da esfera pública até surgir um comprador interessado. Para o "bad bank" vão ser transferidas também as imparidades, responsáveis pelo buraco do BPN, avaliado em dois mil milhões de euros, e as assistências de liquidez que a CGD prestou ao banco, avaliadas em 4,6 mil milhões.
"Nos bancos ingleses foram nomeadas administrações altamente profissionais e independentes. Em Portugal são administradores em 'part-time'"
Mais tarde, o Presidente da República (PR) tentou esclarecer a sua crítica à gestão comparando a situação do BPN com a dos bancos ingleses intervencionados pelo Estado, onde foram nomeadas administrações independentes. No caso do BPN, a opção da tutela foi entregar a gestão do banco à CGD, que nomeou três gestores comuns mais quatro em exclusividade. Com esta estratégia, Cavaco seguiu a linha adoptada por alguns quadros do BPN, que acusam a gestão de ter contribuído para a transferência dos melhores clientes para a Caixa.
A equipa de Bandeira já por diversas vezes repudiou esta acusação. Agora, em resposta a Cavaco, lamentou o facto de o PR nunca ter pedido informações sobre o BPN. Certo é que a actual gestão do banco, cujo mandato terminou no final do ano, deverá ser substituída em breve, pelo menos no que diz respeito aos gestores comuns com a CGD. Afinal, a missão desta equipa era fazer a privatização. Com a venda adiada, fica aberta a porta a uma nova gestão.
"Temos de nos interrogar por que houve recuperações rápidas" em bancos ingleses cujos problemas eram maiores "e por que não acontece o mesmo em Portugal"
Com esta afirmação, o candidato a um segundo mandato em Belém parece fazer referência ao facto de o Tesouro britânico ter decidido nacionalizar o Bradford & Bingley num fim-de-semana e, nesse mesmo momento, ter acordado a venda de balcões e depósitos ao Santander Abbey, então liderado por António Horta Osório.
No caso do BPN, a nacionalização foi decidida num fim-de-semana, a sua concretização foi aprovada duas semanas mais tarde e o concurso público de venda teve início mais de um ano e meio depois, fracassando pouco depois do segundo aniversário da nacionalização. Mas no Reino Unido houve várias instituições intervencionadas ou que tiveram ajuda estatal, num esforço actualmente quantificado em 512 mil milhões de libras (quase 600 mil milhões de euros) mas que chegou a ser de 955 mil milhões de libras.
O presidente de uma das instituições que chegaram a posicionar-se como candidatas à privatização do BPN - Tomás Correia, do Montepio - defendeu recentemente que em Portugal se devia ter adoptado um modelo de venda do banco idêntico ao adoptado no Bradford & Bingley. E ainda está disponível para negociar com o Estado uma solução deste género.
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