Portuense ColorADD entra em “Astérix & Compagnie” e conquista França

Albert Uderzo, um dos "pais" da banda desenhada de Astérix e Obélix, desenhava a lápis e não usava cores. Porquê? "Sou daltónico, não poderia colori-los", justificava-se.

Há aproximadamente 350 milhões de daltónicos no mundo. A perturbação visual que impede a diferenciação de todas ou de algumas cores afeta um em cada 12 homens; do lado das mulheres, apenas uma em cada 200.

A relação de Uderzo com esta sua condição não visível era reforçada pela importância que os coloristas que acompanhavam o seu processo criativo tinham em levar as cores aos personagens que povoam o universo fantástico de Asterix e companhia.

Ora, cinco anos depois da morte de Uderzo, o código de identificação de cores para daltónicos criado por um portuense integra o jogo sensação do ano em França com os mais famosos gauleses do mundo.

"O código de identificação de cores ColorADD, criado em Portugal pelo designer Miguel Neiva, chega aos jogos de sociedade e de tabuleiro em França, conquistando os maiores editores e o setor um pouco por todo o mundo, e eis que o muito aguardado ‘Asterix & Compagnie’ chega às lojas a 25 de abril em França, pela mão da editora Matagot", avança a ColorADD.

Todas as personagens emblemáticas do universo gaulês estão acompanhadas pelo código  ColorADD, distinguindo gauleses, romanos e neutros.

O processo de internacionalização da ColorADD, que já está em 92 países, fica assim mais colorido, num setor que tem uma função de disseminação do "alfabeto das cores" multigeracional.

"Desde a sua aplicação no UNO, do gigante dos jogos e brinquedos Mattel, em 2017, e com a reedição ‘premium’ em 2024, que o mundo da edição de jogos de sociedade e de tabuleiro se rendeu a uma linguagem única, universal e inclusiva que nasceu no Porto", enfatiza a ColorADD.

"Em 2022 foi lançado em França, e em mais 17 países até 2024, o jogo ‘Sea, Salt & Paper’, pela editora francesa Studio Bombyx, que vem a ser premiado como o melhor jogo de cartas da Europa em 2024 por aquela que é uma das iniciativas de referência do setor a nível mundial - The Spiel of Approval Award 2024 da norte americana "The Spiel Foundation", este jogo e todo o sucesso comercial alcançado são uma alavanca determinante para o reconhecimento do sistema como standard no setor, contando já mais de 60 referências internacionais no mercado em todo o mundo", realça.

De resto, "a estratégia de crescimento e internacionalização passa por consolidar Portugal como país modelo na acessibilidade universal pela cor, pela abordagem aos setores críticos e estratégicos para este nível de integração em geografias de proximidade física e cultural, das que destacamos Espanha, Brasil e França", aponta.

"Todos estes mercados em pontos de crescimento, desenvolvimento e consolidação distintos, em setores diversificados, dos quais destacamos saúde e hospitais, os jogos e didáticos, ‘mall industry’ e a segurança balnear", detalha.

O branco e o preto são representados por um quadrado sólido ou "vazio"

Com 90% da informação no mundo a usar a cor como fator prioritário de comunicação, conclui-se que 90% dos daltónicos  precisam de ajuda para comprar roupas, por exemplo, criando ainda dificuldades de integração, perda de oportunidades, constrangimento e "bullying". Situações que afetam a autoestima e a vida destas pessoas.

Foi a pensar nisto que Miguel Neiva, nascido no Porto em 1969, criou o ColorADD, um sistema de identificação de cores para daltónicos, um código pioneiro e universal que permite a inclusão de quem sofre deste problema.

Designer de Comunicação, com mestrado em Design e Marketing, Neiva demorou quase uma década a desenvolver este alfabeto cromático, estando desde 2008 totalmente dedicado à implementação mundial do ColorADD.

Trata-se de um sistema aprovado pela comunidade científica internacional, utilizando símbolos gráficos que, combinados entre si, criam uma linguagem que permite ao daltónico identificar as cores em qualquer ecossistema em que estejam inseridos, independentemente do idioma.

Funcionando a partir da combinação dos símbolos que representam as três cores primárias (azul, vermelho e amarelo), permite criar uma ampla paleta de cores - o azul é representado por um triângulo que aponta para baixo, e o vermelho por um triângulo que aponta para cima.

Já o amarelo, surge como uma barra inclinada. O branco e o preto são representados por um quadrado sólido ou "vazio", que permitem criar os tons claros e os tons escuros.

A soma das cores primárias cria uma nova cor. Se juntarmos o vermelho com o amarelo, por exemplo, criamos a cor laranja. Se conjugarmos o símbolo do azul com o símbolo do branco, criamos o azul claro. E assim por diante. Até os tons de cinza e as cores metalizadas podem ser representadas.