Novas saídas de executivos expõem desafios de gestão no império de Elon Musk
Elon Musk enfrenta um momento delicado na gestão do seu vasto conglomerado de empresas, que inclui a Tesla, a SpaceX, a xAI e a rede social X, que empregam mais de 140 mil pessoas. Nos últimos meses, um número significativo de executivos abandonou os respetivos cargos de liderança, revelando tensões internas associadas a uma cultura de trabalho intensa, mudanças estratégicas repentinas e à crescente politização do empresário.
De acordo com o Financial Times, a Tesla perdeu quadros de topo em áreas centrais como vendas, baterias, motorização, assuntos públicos e tecnologia da informação. Entre as saídas mais relevantes estão Drew Baglino, responsável pela divisão de energia e "power-train", Rohan Patel e Hasan Nazar, ligados à área de políticas públicas, bem como David Zhang, gestor dos lançamentos do Model Y e do Cybertruck. Também Rebecca Tinucci, líder da rede de supercarregadores, deixou a empresa após Musk dissolver a equipa, tendo-se juntado à Uber. No campo da robótica, Milan Kovac, responsável pelo projeto Optimus, e Ashish Kumar, chefe da equipa de IA do mesmo programa, que seguiu para a Meta, juntaram-se à lista de baixas mais recentes.
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A vaga incluiu ainda nomes associados a projetos estratégicos, como Daniel Ho, diretor do cancelado veículo elétrico de baixo custo NV-91, que se mudou para a Waymo, e Vineet Mehta, veterano da Tesla há 18 anos, considerado essencial para a área de baterias. Em paralelo, Omead Afshar, gestor de operações na América do Norte e braço direito de Musk, foi afastado após uma queda nas vendas da Tesla, seguido pelo seu adjunto Troy Jones.
A instabilidade não se limita à Tesla. A xAI, startup de inteligência artificial criada em 2023 e integrada na rede X este ano, também enfrenta forte rotatividade. O diretor financeiro, Mike Liberatore, abandonou o cargo após três meses para se juntar à OpenAI, enquanto o conselheiro geral, Robert Keele, saiu ao fim de 16 meses. O cofundador Igor Babuschkin também se demitiu recentemente para criar uma empresa dedicada à segurança em IA. Segundo a Reuters, a xAI dispensou ainda cerca de 500 anotadores de dados numa reestruturação, apostando em “tutores especializados”.
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Outras saídas de peso atingiram a rede social X após a fusão com a xAI. Linda Yaccarino, CEO da plataforma, renunciou em julho de 2025, frustrada com a centralização de decisões por Musk. Executivos como Haofei Wang (engenharia de produto) e Patrick Traughber (pagamentos e produto de consumo) também se afastaram, enquanto engenheiros de infraestrutura como Uday Ruddarraju e Michael Dalton foram recrutados pela OpenAI, segundo o Financial Times.
Vários antigos colaboradores apontam para uma cultura organizacional marcada por horários extenuantes, descritos como uma “campanha política permanente”, com mais de 100 horas semanais de trabalho. A pressão terá aumentado com a ascensão do ChatGPT, intensificando a rivalidade com Sam Altman, líder da OpenAI. Segundo o Wall Street Journal, disputas internas sobre segurança e metas financeiras acentuaram as tensões entre Musk e executivos da xAI, precipitando muitas saídas.
As mudanças estratégicas também geraram descontentamento. O cancelamento do NV-91, um veículo elétrico de baixo custo pensado para mercados emergentes, foi interpretado como um desvio da missão ambientalista da Tesla. Simultaneamente, cortes em programas como a rede de supercarregadores reforçaram a perceção de instabilidade.
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A dimensão política tem igualmente desempenhado um papel importante. Musk tem intensificado a sua presença em debates polarizados e a sua posição no cenário político, por exemplo, como o apoio a Donald Trump no início do mandato e a figuras da direita radical nos EUA e na Europa. Segundo o Financial Times, vários executivos reconheceram desconforto com essa postura, relatando dificuldades em conciliar a imagem pública do empresário com a sua vida pessoal e familiar. Giorgio Balestrieri, ex-responsável da Tesla em Espanha, chegou a afirmar publicamente que Musk causou “enorme dano à missão da Tesla e às instituições democráticas”.
Apesar da onda de saídas, a Tesla insiste que continua a ser uma referência no setor. Robyn Denholm, presidente do conselho de administração, afirmou ao Financial Times que a empresa mantém-se “um íman para talento” e destacou a capacidade interna de formar novos líderes.
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Contudo, a instabilidade preocupa investidores e analistas. Existem receios de que a constante reorganização interna possa atrasar projetos estratégicos como o desenvolvimento de robotáxis e fragilizar a posição da Tesla e da xAI perante concorrentes como a OpenAI.
As ações da Tesla terminaram a sessão de segunda-feira com uma subida de 0,61% para os 443,21 dólares. Neste terça-feira, antes da abertura de mercado, as ações estão a cair 0,70%.
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