Elétricos sobem na Europa, híbridos lideram e BYD ganha terreno à Tesla
As novas matrículas na UE ficaram estáveis até agosto, mas o mercado muda rápido: elétricos ganham peso, híbridos dominam e marcas chinesas aceleram enquanto a Tesla acumula quedas.
As vendas de automóveis novos na União Europeia mantiveram-se praticamente estáveis no acumulado de janeiro a agosto de 2025, com 7,16 milhões de veículos matriculados, uma ligeira variação de -0,1% face ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Associação Europeia de Construtores de Automóveis (ACEA). Apesar da estagnação global, os números mostram uma transformação clara no tipo de veículos escolhidos pelos consumidores: os híbridos reforçam a liderança, os 100% elétricos continuam a ganhar quota e os motores a combustão tradicional recuam para mínimos históricos.
Em agosto, porém, o mercado europeu ganhou novo fôlego. As matrículas subiram 5,3% em comparação com o mesmo mês de 2024, impulsionadas sobretudo pelo crescimento expressivo das opções eletrificadas. Os carros totalmente elétricos dispararam 30,2% no mês, para mais de 120 mil unidades, enquanto os híbridos subiram 14,1% e os "plug-in" híbridos registaram um avanço de 54,5%, naquele que foi o sexto mês consecutivo de forte aceleração deste segmento. A procura sólida por estas opções contrastou com o recuo persistente dos motores tradicionais: os automóveis a gasolina caíram 16,3% em agosto e os a gasóleo encolheram 17,5%, prolongando a tendência de declínio estrutural dos combustíveis fósseis, de acordo com a ACEA.
Entre os principais mercados, a Alemanha destacou-se com um crescimento de 45,7% nos veículos elétricos em agosto, enquanto França registou um salto de 29,3% e Espanha apresentou uma das maiores acelerações, com um aumento de 160,8% nas vendas de carros a bateria. Já a Itália também contribuiu, com uma subida de 27,3% neste segmento.
Entre janeiro e agosto, foram matriculados 1,13 milhões de veículos totalmente elétricos, o que corresponde a 15,8% do mercado europeu, uma subida face aos 12,6% registados em igual período do ano anterior. Já os híbridos consolidaram a posição como principal escolha, com 2,48 milhões de unidades e 34,7% de quota, enquanto os "plug-in hybrids" cresceram de forma expressiva, atingindo 8,8% do mercado. Esta tendência reflete o apelo das soluções intermédias, que combinam autonomia e preço acessível com alguma familiaridade para o consumidor, num contexto em que a infraestrutura de carregamento ainda não está plenamente desenvolvida em todos os países da UE.
O recuo dos motores de combustão é igualmente marcante: as vendas de carros a gasolina caíram quase 20% até agosto, representando 28,1% do mercado, contra 34,9% no ano anterior. No gasóleo, a quebra foi ainda mais acentuada, de 25,7%, reduzindo a quota para apenas 9,4%. França e Alemanha registaram algumas das maiores quedas, confirmando a rapidez com que os consumidores estão a abandonar estas motorizações.
A análise por mercados revela trajetórias distintas. A Alemanha destacou-se como motor do crescimento, com um aumento de 39,2% nas matrículas de elétricos. A Bélgica e os Países Baixos também avançaram de forma sólida, mas a França apresentou uma queda acumulada de 2% nos veículos elétricos a bateria, embora tenha conseguido inverter a tendência em agosto, com uma recuperação de 29,3% nesse mês. No segmento híbrido, França e Espanha lideraram com crescimentos acima de 29%, seguidas pela Alemanha (+10,1%) e Itália (+9,4%).
No mapa dos construtores, o Volkswagen Group continua destacado à frente, com quase dois milhões de veículos matriculados até agosto (+4,1%), o que lhe garante 27,5% do mercado europeu. O Renault Group também reforçou a posição, com 814 mil unidades (+5,8%), tal como a BMW (+6,9%), enquanto a Stellantis perdeu força, ao cair 8,9% para 1,14 milhões de veículos.
Já no segmento elétrico, os sinais de mudança são mais nítidos. A Tesla registou apenas 85,6 mil matrículas na União Europeia nos primeiros oito meses do ano, uma quebra de 42,9% face a 2024 e o prolongamento de uma tendência negativa que a marca norte-americana ainda não conseguiu inverter. A BYD, em contrapartida, mais que triplicou as vendas: disparou 244% para 67,6 mil veículos no mesmo período. Se a análise se estender a toda a Europa, o contraste ganha ainda mais dimensão: a Tesla soma 133,8 mil unidades (-32,6%), enquanto a BYD alcançou quase 96 mil (+280%), consolidando-se como o principal rival emergente.
O relatório da ACEA volta a deixar claro que a transição automóvel na Europa é tudo menos linear. Os híbridos mantêm-se como a solução preferida para grande parte dos consumidores, por equilibrarem autonomia, custo e disponibilidade, ao passo que os elétricos a bateria crescem de forma consistente mas ainda insuficiente para garantir uma transformação rápida. Ao mesmo tempo, a ascensão das marcas chinesas, sobretudo da BYD, está a redesenhar o panorama competitivo, forçando os fabricantes europeus a acelerar a renovação das suas gamas e estratégias comerciais.
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