Novo Nordisk corta empregos nos EUA em plena ofensiva contra a rival Eli Lilly
A Novo Nordisk iniciou cortes de pessoal em plena linha de produção da sua maior fábrica nos Estados Unidos, num sinal de que a reestruturação global anunciada pela farmacêutica dinamarquesa está a atingir também funções essenciais. De acordo com a Reuters, dezenas de trabalhadores foram despedidos na unidade de Clayton, na Carolina do Norte, incluindo técnicos de produção, responsáveis por controlo de qualidade e coordenadores de projeto. O número exato de dispensas não foi divulgado, mas uma análise de 73 publicações no LinkedIn revelou que, pelo menos, 47 ex-funcionários assumiram publicamente terem sido afetados.
Os cortes em Clayton, onde são fabricados os principais ativos de medicamentos como Wegovy e Ozempic, fazem parte do plano mais amplo de redução de 9 mil postos de trabalho a nível global, o equivalente a 11% da força laboral da empresa. Segundo a BBC, trata-se da primeira grande decisão do novo presidente executivo, Mike Doustdar, que assumiu o cargo em maio, depois de a farmacêutica ter alertado para um abrandamento no crescimento das vendas e dos lucros.
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A fábrica da Carolina do Norte, que empregava cerca de 2.500 pessoas em 2024, é uma das principais infraestruturas da Novo Nordisk fora da Dinamarca. Além de produzir o ingrediente ativo semaglutida, realiza etapas de enchimento, acabamento e embalagem das injeções, e será responsável também pela futura produção da versão oral do Wegovy. O corte de pessoal ocorre em paralelo a um investimento de 4,1 mil milhões de dólares para expandir a capacidade da instalação, com a promessa de criar mais mil empregos nos próximos anos.
De acordo com a Reuters, os despedimentos inserem-se num esforço da empresa para reduzir custos, simplificar a estrutura organizacional e concentrar recursos nas suas áreas de maior crescimento: a diabetes e a obesidade. O objetivo é poupar 8 mil milhões de coroas dinamarquesas por ano (cerca de 1,07 mil milhões de euros), num contexto de crescente concorrência e de pressões sobre os preços.
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A farmacêutica enfrentou nos últimos meses uma forte perda de valor em bolsa, depois de ter alcançado, em 2023, o estatuto de empresa mais valiosa da Europa graças ao sucesso global dos medicamentos para emagrecimento. Com a desaceleração das vendas e a aproximação da expiração da patente do semaglutida, prevista para março de 2026, a empresa procura agora ajustar a estrutura ao novo cenário competitivo e preparar-se para a chegada de genéricos.
A decisão de Mike Doustdar reflete também o impacto da concorrência cada vez mais agressiva da Eli Lilly, fabricante dos medicamentos Mounjaro e Zepbound, que disputam o mesmo mercado de fármacos para perda de peso. Segundo a BBC, o novo CEO justificou as medidas dizendo que “os mercados estão a evoluir, particularmente no segmento da obesidade, que se tornou mais competitivo e orientado para o consumidor”, acrescentando que “a empresa também precisa de evoluir”.
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Além dos cortes nos EUA, a reestruturação está a afetar outros mercados. Segundo o jornal económico indiano Mint, cerca de 150 trabalhadores serão despedidos na Índia, sobretudo nas áreas de vendas, marketing e serviços globais, no centro de operações de Bengaluru. Estas dispensas surgem pouco depois de a empresa ter lançado o Wegovy no país, num mercado avaliado como altamente promissor, mas dominado por rivais que se anteciparam.
A Reuters recorda que a administração do presidente norte-americano Donald Trump tem pressionado a indústria farmacêutica a reforçar a produção doméstica e a criação de empregos nos EUA, o que torna a decisão da Novo Nordisk politicamente sensível. No entanto, a empresa não especificou o impacto total dos cortes em território norte-americano e afirmou apenas que “este processo leva tempo” e que “a prioridade é apoiar os colaboradores afetados”.
Os analistas consideram que os despedimentos nas linhas de produção, e não apenas em cargos administrativos, evidenciam a profundidade da reestruturação e a tentativa de Doustdar de imprimir uma nova disciplina financeira à empresa. A estratégia visa restaurar a competitividade da Novo Nordisk num mercado em rápida transformação, pressionado pela chegada de alternativas mais baratas e pelo aumento de programas públicos de controlo de preços nos Estados Unidos.
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De acordo com a Reuters, a empresa dinamarquesa enfrenta também um desafio adicional: um tribunal norte-americano rejeitou recentemente o seu recurso contra o programa de negociação de preços de medicamentos do Medicare, no âmbito do Inflation Reduction Act, o que poderá limitar as margens de lucro das farmacêuticas no país.
Embora o anúncio das reduções tenha sido inicialmente recebido de forma positiva pelos investidores, impulsionando as ações da empresa, a execução do plano será determinante para o seu sucesso. A BBC sublinha que Doustdar reconheceu “ser sempre difícil ver colegas talentosos e valorizados partir”, mas defendeu que “esta é a decisão certa para o sucesso a longo prazo da Novo Nordisk”.
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A farmacêutica apresentará os seus resultados financeiros no próximo dia 5 de novembro, data em que deverá detalhar o impacto financeiro e operacional da reestruturação. Até lá, a incerteza persiste sobre o alcance total dos cortes e sobre a capacidade da empresa de manter a produção dos seus medicamentos de maior sucesso sem comprometer o abastecimento global.
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