Patentes do Ozempic expiram em 2026 e Índia já prepara genéricos
Indústria farmacêutica indiana aposta em ampliar capacidade produtiva, de olho num mercado de dezenas de milhares de milhões de dólares com terapias para diabetes e obesidade.
As patentes da semaglutida, substância ativa dos medicamentos Ozempic e Wegovy da dinamarquesa Novo Nordisk, começam a expirar em 2026 em vários mercados, incluindo Brasil, Canadá, Índia e China. De acordo com a Bloomberg, a proximidade desse prazo está a acelerar os planos da indústria farmacêutica indiana, com vários fabricantes de ingredientes farmacêuticos ativos (API) a investir em novas unidades de produção para responder a uma procura que se estima gigantesca.
A Dr. Reddy’s, um dos maiores grupos farmacêuticos indianos, já construiu uma unidade com capacidade para produzir centenas de quilos de péptidos, essenciais para a síntese da semaglutida. Também a Granules India lançou uma divisão dedicada, a Ascelis Peptides, para reforçar a produção de API. Segundo a Reuters, a Dr. Reddy’s planeia lançar versões genéricas de semaglutida em dezenas de países assim que o vencimento das patentes o permitir, numa corrida em que também participam empresas como a Macleods Pharmaceuticals.
A expectativa é enorme. Estimativas citadas pela Bloomberg apontam para um mercado global de 94 mil milhões de dólares até 2035 associado a terapias baseadas em semaglutida, que se tornaram referência no tratamento da diabetes tipo 2 e no combate à obesidade. Pequenos fabricantes indianos já começam a fornecer quantidades modestas do ingrediente ativo para testes de desenvolvimento, prevendo que a procura dispare de forma exponencial a partir de 2026.
Mas a oportunidade vem acompanhada de riscos. De acordo com a Bloomberg, cerca de 80% da cadeia mundial de fornecimento de API genéricos depende ainda da China, incluindo parte dos produtores indianos que importam matérias-primas. Esta dependência é vista como uma vulnerabilidade num mercado em rápida expansão. Além disso, a semaglutida é uma molécula complexa e difícil de reproduzir em escala, exigindo processos sofisticados de purificação e matérias-primas de elevada qualidade.
Apesar dos obstáculos técnicos e da concorrência chinesa, a Índia parece determinada em garantir um papel de liderança. A Reuters afiança que o governo indiano prepara incentivos para estimular a produção local de medicamentos contra a obesidade e a diabetes, apoiando empresas nacionais numa área em que o país já se destaca como maior fornecedor mundial de genéricos.
O fim da exclusividade da Novo Nordisk em vários mercados deverá traduzir-se numa descida acentuada dos preços, o que poderá ampliar significativamente o acesso global a tratamentos considerados revolucionários. Para milhões de pacientes, especialmente em mercados emergentes, o lançamento de versões genéricas pode marcar a diferença entre ter ou não acesso a terapias eficazes.
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