Porsche desiste da produção de baterias na Cellforce devido à baixa procura
Decisão da Porsche surge num momento em que a Europa enfrenta crescentes dificuldades para construir uma indústria de baterias capaz de rivalizar com a Ásia.

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A Porsche decidiu abandonar os planos de produção de baterias de alto desempenho através da sua subsidiária Cellforce. De acordo com a empresa, a mudança é justificada pela fraca procura global de veículos elétricos e pelas condições adversas nos mercados da China e dos Estados Unidos. A informação foi avançada esta segunda-feira pela Reuters.
O anúncio representa mais um revés para a ambição europeia de reduzir a dependência da Ásia na indústria de baterias, numa altura em que o continente enfrenta dificuldades acrescidas no processo de eletrificação automóvel. Em fevereiro, a Porsche já assumia as dificuldades que o setor tem vindo a enfrentar e anunciou um corte de 1.900 empregos, cerca de 4,5% do total da Porsche.
A Cellforce, criada em 2021 em parceria com a alemã Customcells, tinha como objetivo inicial desenvolver tecnologia de ponta com recurso a ânodos de silício e instalar uma fábrica-piloto no estado de Baden-Württemberg. Em 2023, a Porsche assumiu o controlo total da empresa e chegou a equacionar uma expansão da capacidade para 20 gigawatts-hora por ano, um salto significativo face aos planos originais, recorda o portal especializado Electrive. No entanto, a desaceleração na procura por veículos elétricos, a pressão competitiva dos fabricantes asiáticos e os custos elevados levaram a fabricante a recuar.
“A Porsche não seguirá com a produção própria de células de bateria por razões de volume e falta de economias de escala”, afirmou Oliver Blume, presidente executivo da marca e acionista maioritário do grupo Volkswagen, citado pela Reuters. Também Michael Steiner, responsável pela área de investigação e desenvolvimento, sublinhou, em comunicado divulgado pela Porsche Newsroom, que “devido à falta de volume a nível mundial, não é possível escalar a produção própria para a posição de custos planeada”.
A reestruturação da Cellforce deverá afetar cerca de 200 dos quase 300 postos de trabalho existentes, segundo fontes próximas do processo ouvidas pela agência de notícias. Parte dos funcionários poderá ser absorvida pela PowerCo, a unidade de baterias do grupo Volkswagen, enquanto o conhecimento tecnológico da empresa será canalizado para a V4Smart, adquirida pela Porsche no início deste ano. A própria Cellforce será transformada numa unidade independente de investigação e desenvolvimento, abandonando assim a vertente industrial.
O recuo da Porsche soma-se a outros episódios que têm fragilizado a estratégia europeia para criar uma cadeia de abastecimento robusta em baterias. A falência da sueca Northvolt, que durante anos foi apontada como símbolo da autonomia industrial europeia, já havia exposto as fragilidades do setor, relembra a Euronews. Alguns analistas alertam que, sem produção em escala, o continente poderá enfrentar um défice considerável de capacidade face à procura prevista para os próximos anos.
Ainda que a eletrificação continue a ser o caminho estratégico, pois no primeiro semestre de 2025, mais de metade das vendas de novos veículos no continente europeu foram de modelos eletrificados, de acordo com dados da Porsche, a decisão evidencia os desafios de transformar esse impulso comercial em projetos industriais sustentáveis. Ao renunciar à produção própria de células, a marca opta por um modelo mais cauteloso, assente em investigação, parcerias e utilização das sinergias dentro do grupo Volkswagen.
O caso da Cellforce revela, em última instância, a dificuldade das fabricantes europeias em competir com os gigantes asiáticos que dominam a produção global de baterias. Para já, a aposta da Porsche passa por reforçar a investigação tecnológica e procurar formas de integração mais eficiente, em vez de tentar, sozinha, replicar a escala de produção que a China, a Coreia do Sul e o Japão consolidaram ao longo da última década.
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