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Relatório final: "Em alguns casos a CGD agiu como qualquer banco privado"  

O documento final da comissão de inquérito à Caixa indica que a gestão não se distanciou "o suficiente dos interesses dos grupos económicos que dominam ou dominaram boa parte da economia nacional".  

carlos pereira
carlos pereira Bruno Simão
18 de Julho de 2017 às 17:13

O relatório final da comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos refere que o banco público não se distanciou das restantes instituições financeiras privadas nos financiamentos em que se foi envolvendo.

"Em alguns casos a CGD agiu, na verdade, como qualquer outro banco privado sendo um financiador fiel e constante de operações financeiras, muitas vezes com garantias frágeis, independentemente de ter existido nesses negócios uma intervenção ou pressão do representante do accionista", aponta o documento final, da autoria do deputado socialista Carlos Pereira (na foto), após as propostas de alteração recebidas do BE e do PCP – o PSD e o CDS, por discordarem de raiz com o documento, não apresentaram sugestões de modificação do documento inicial.

A ideia retirada no relatório final, alvo de votação final esta terça-feira, 18 de Julho, é que a CGD se viu envolvida em perdas que também afectaram outros bancos. "Não se pode considerar que a Caixa tenha actuado isoladamente no mercado, sendo que muitas dessas perdas afectaram outras instituições bancárias, ou seja, a CGD acompanhou a estratégia de outras instituições ao financiar determinados projectos".

Segundo o relatório final da comissão de inquérito, a gestão da CGD, "ao longo das últimas décadas e determinada pela acção de sucessivos Governos" não se distanciou "o suficiente dos interesses dos grupos económicos que dominam ou dominaram boa parte da economia nacional".

Apesar desta conclusão, o relatório que integra algumas propostas do BE e PCP avança outra ideia: "A comissão pôde apurar que a natureza pública do capital da Caixa Geral de Depósitos funcionou ao longo dos anos como garantia de existência de um banco robusto e sólido que funcionou desde o princípio da crise bancária como um importante suporte do sistema financeiro geralmente considerado".

Tal como já acontecia na primeira versão, a primeira recomendação do relatório final aponta para a "manutenção da CGD nas mãos do Estado". E esse facto exige uma postura "mais conservadora". "No passado, em algumas operações, a CGD envolveu-se em certos projectos por entender que estes trariam maior rendibilidade; no entanto, pode ter levado o banco público a registar prejuízos. Como foi referido, em sede de comissão de inquérito, e a título de exemplo, 80% das perdas registadas em Espanha estavam relacionadas com a banca de investimento; foram perdas demonstradas", assinala o documento.

Nomeações partidárias e dividendos

 

Sobre especificamente o período entre 2000 e 2008, o relatório final da comissão de inquérito deixa a admissão de pressões: "Não obstante os ex-detentores da pasta das Finanças dos vários Governos refutarem a ideia de intervenção política em operações concretas da CGD, é possível verificar que para além das situações de nomeação de administradores e de estabelecimento de linhas estratégicas, ocorreram, ao longo do tempo, situações de intervenção e de pressão em vários assuntos, assim como o alinhamento entre o que eram as políticas económicas de cada Governo e as políticas da própria Caixa Geral de Depósitos".

"Nomeações partidárias, a pressão sobre os dividendos a distribuir ao Estado, a utilização do fundo de pensões como medida extraordinária para melhorar o défice do país ou a ‘sensibilização’ para determinados projectos e o cuidado em perguntar sobre a classificação de determinado projecto", continua o documento. 

António de Sousa, Mira Amaral, Vítor Martins e Carlos Santos Ferreira são os presidentes do banco público neste período. Oliveira Martins, Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix, Campos e Cunha e Teixeira dos Santos foram os ministros das Finanças, com a tutela da banca. 

Muito por escrutinar

Apesar destas conclusões, muita da matéria sobre a qual se debruçou o inquérito parlamentar ficou por escrutinar mais fortemente, segundo admite o relatório: "Não é possível concluir que não tenham existido pressões externas para aprovação de créditos a projectos específicos", diz o documento sobre o período entre 2000 e 2008, até ao arranque da crise financeiro internacional.

"Não ficou demonstrado na comissão parlamentar de inquérito o racional de interesse público na participação da CGD no projecto Vale do Lobo", acrescenta o relatório, adiantando ainda o projecto La Seda.

A comissão de inquérito pediu o acesso a documentação confidencial sobre a Caixa ao próprio banco e aos reguladores, mas, embora o Tribunal da Relação de Lisboa tenha sido favorável a essa divulgação, foram interpostos recursos que impedem que a decisão se torne definitiva. Aliás, o facto de não se esperar pelas decisões judiciais é o motivo para que o PSD e o CDS estejam contra o encerramento do inquérito parlamentar, como ditado pela esquerda. 

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