El Corte Inglés já tem xeique no núcleo duro de accionistas
A assembleia-geral do El Corte Inglés este ano tinha uma importância especial. Um novo accionista vai entrar no capital dos grandes armazéns espanhol e era o momento para dar luz à entrada no seu conselho de administração. É o primeiro investidor estrangeiro no capital do El Corte Inglés.
Os accionistas numa assembleia que o El Pais diz ter sido "mais tensa do que nunca" aprovaram a mudança de estatutos e a entrada no conselho de um representante do xeique do Qatar Hamad bin Jassim al-Thani que, através da empresa luxemburguesa Primefin, ficou com 10% do capital do El Corte Inglés, depois do acordo que já tinha sido alcançado em Julho. Hamad bin Jassim al-Thani é dos homens mais poderosos do Qatar.
A entrada do xeique no capital e na administração ditou, no entanto, a saída de quem se opunha: Carlota Areces, principal accionista da Corporación Ceslar, opôs-se à venda de capital a interesses do Qatar, considerando-a opaca e irregular. Foi, segundo o El País, expulsa do conselho, explicando a empresa que esta administradora não cumpria os seus deveres e acusa-a de revelar segredos e detalhes das operações da empresa.
O investidor Hamad Bin Jassim pagou mil milhões de euros para ficar com 10% do El Corte Inglés, que eram detidos pelo próprio grupo retalhista (acções próprias). O acordo prevê que possa aumentar a sua participação para 12,25% em três anos, cobrando juros (já que a compra é feita dentro de três anos, funcionando os mil milhões como um empréstimo), e até pode ascender aos 15,25% se acontecerem determinadas acções na próxima década, acrescenta o El País, explicando que na assembleia, onde se aprovou a mudança de estatutos, os accionistas tradicionais não terão direito de preferência na aquisição das acções próprias. O El Corte Inglés compromete-se a um plano de negócios para cinco anos, com uma promessa de crescimento do EBITDA de pelo menos 10,7%. Se não cumprir terá, como penalização, entregar mais capital ao xeique. Tal como entregará mais títulos se os actuais accionistas saírem da sociedade, ou se esta entrar em bolsa ou ainda se o valor da empresa se reduzir drasticamente e a avaliação actual de 10 mil milhões de euros se tornar desactualizada.
Condições que pelo menos um accionista minoritário considerou leoninas. Mas o EL Mundo escreve que com esta operação o grupo vai conseguir reduzir a dívida e os custos financeiros, além de libertar dinheiro para o negócio. As acções próprias estavam há sete anos à venda, tendo conseguido um acordo com uma avaliação entre 11 e 14 vezes o EBITDA de 2014. O EL Corte Inglés vê, assim, a entrada deste accionista como um apoio ao seu plano de expansão.
Mas foi esta operação de venda que motivou que a assembleia-geral, por regra sem grandes histórias, realizando-se a aprovação das contas, fosse este ano mais sensível. Ceslar, um dos accionistas, já tinha dito estar contra a entrada dos interesses do Qatar e, como tal, opunha-se à venda das acções próprias ao xeique. Mas a Ceslar só detinha 9%, uma posição minoritária que lhe retirava força.
A posição maioritária do El Corte Inglés está na Fundação Ramón Areces, que detém 37,39% da sociedade, seguindo-se a IASA, a sociedade que criou Isidoro Álvarez e que está hoje nas mãos das filhas Marta e Cristina e o primo Dimas Gimeno, actual presidente. A IASA detém 22,18% Há outros herdeiros dos fundadores, como as firmas Ceslar e Mancor, que têm cerca de 9% e 7% respectivamente. Agora, a Ceslar apesar desta posição está fora do conselho. Mas Carlota Areces já fez saber, segundo os jornais espanhóis, que vai impugnar a assembleia.
O xeique do Qatar vai, assim, tornar-se o terceiro maior accionista do El Corte Inglés. Oficialmente não será accionista senão daqui a três anos, quando fica concluída a venda das acções, mas entrará já no conselho através de um assessor pessoal, Shahsad Shahbaz, que, segundo o El Mundo, dirigiu as negociações. Para que entrasse este representante os estatutos tiveram, pois, de ser alterados.
Na assembleia deste domingo, além da entrada do representante do xeique, o El Corte Inglés aprovou a reeleição do presidente Dimas Gimeno. Entra no conselho, ainda, a filha do fundador do grupo Cristina Álvarez. O conselho de administração ficará com um total de onze elementos.
Mais lidas