Durão Barroso: “Nas grandes empresas o risco geopolítico é agora o maior”
O ex-presidente da Comissão Europeia assinala que o contexto internacional está a mudar tanto que o mundo nunca mais vai ser o mesmo. Em nenhum outro momento o risco geopolítico teve a importância atual.
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Tarifas e guerra comercial, invasão da Ucrânia, conflitos no Médio Oriente. O mundo está em mudança e não vai voltar ao que era, avisa o antigo presidente da Comissão Europeia. “Nunca nas últimas décadas o contexto geopolítico representou um risco tão significativo para o tecido empresarial europeu e português”, afirmou Durão Barroso numa conferência organizada pela Associação Business Roundtable Portugal (BRP) no Porto.
“Com o que se passou com a Rússia, as grandes empresas tiveram de retirar-se de um dia para o outro. Há uma mudança radical. Estamos numa fase de transição. Esta ordem mundial já não existe, mas ninguém sabe a que aí vem”, atirou.
“O mundo nunca mais vai voltar a ser o mesmo”, acrescentou, identificando uma figura central nessa mudança: “Trump é o grande disruptor”.
Desde logo no comércio internacional: “Hoje em dia simplesmente não há Organização Mundial do Comércio”, ironizou, argumentando que “vender a ideia de comércio livre neste contexto é impossível”
“À UE, uma palavra: obrigado”
Numa intervenção que teve tanto de reconhecimento das falhas na União Europeia como de defesa acérrima dos 27, o antigo primeiro-ministro português respondeu às observações lançadas na mesma conferência pelo economista Nuno Palma, para quem o país está “a viver de empréstimos”. “Os salários não correspondem à produtividade do país”, afirmou, defendendo que as muitas dezenas de milhares de milhões de euros de fundos europeus que Portugal recebeu ao longo de décadas serviram para desresponsabilizar o país, que na sua ótica não convergiu com a Europa.
Nada mais longe da verdade, acredita Durão Barroso. “Portugal não teria a mortalidade infantil ou a esperança de vida que tem sem a União Europeia”, reafirmou, insistindo que em vários indicadores Portugal está mais próximo da Europa. “Nós convergimos. E se outros nos ultrapassaram, foi graças a fundos europeus” que eles próprios receberam – casos, por exemplo, da República Checa, da Polónia e da Roménia.
“Quando o muro de Berlim caiu diziam que a Ucrânia ia ser incrível”, exemplificou. E agora? “A Polónia está várias vezes acima da Ucrânia graças à União Europeia”. Uma observação que era válida antes da invasão russa, enfatizou.
“O que era melhor? A União não existir?”, questionou, projetando o exemplo do que poderia ter sido a vida dos países europeus mais pobres durante o período do covid-19. “Na pandemia, Portugal e Roménia competirem com a Alemanha e a Suécia na compra de vacinas?”, atirou, concluindo que “para a União Europeia há uma palavra: obrigado”.
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