Governo criticado por lei que pode evitar cobrança de 1,2 mil milhões em projetos elétricos
O Movimento Cultural Terra de Miranda (MCTM) criticou esta segunda-feira o Governo de estar a preparar uma lei para impedir a cobrança de mais de 1,2 mil milhões de euros do IMI relativo aos centros eletroprodutores eólicos, fotovoltaicos e barragens.
Em declarações à agência Lusa, o economista e membro do MCTM Óscar Afonso disse que para chegar a este montante foi tido em conta o valor médio pago por megawatt de energia produzida por via das centrais eólicas, fotovoltaicas e barragens, que foi multiplicado pela potência instalada em cada centro produtor e que tem de ser pago independentemente da vontade do Governo e das concessionárias.
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"Nós tomamos o valor médio de construção por megawatt nestes centros eletroprodutores, fizemos os cálculos e depois fomos ver quantas instalações deste tipo há no país e qual a potência instalada em megawatts em cada uma delas. Multiplicamos o custo de construção pela potência instalada e apuramos este valor tendo em conta uma taxa de IMI de 0,4%, o que deu 1,2 mil milhões de euros", explicou o também professor universitário.
De acordo os membros deste momento cívico, "esse é o valor do IMI gerado por todos os centros eletroprodutores do país de 2017 a 2024: 1,2 mil milhões de euros, a que acrescem mais 131 milhões anuais".
Segundo Óscar Afonso, as contas foram feitas para o valor de IMI devido pelas concessionárias para o período de 2017 a 2024, tendo em conta uma taxa de 0,4% de juros compensatórios, o que dá no caso das eólicas 304 milhões de euros, já nas centrais fotovoltaicas 47 milhões de euros e nas barragens 857 milhões de euros.
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"O MCTM, ao fazer estas contas e apresentar este valor de dívida de IMI por parte das respetivas concessionárias, quer dizer que o dinheiro é do povo e das autarquias e tem de ser cobrado", vincou.
O economista refere ainda que a alteração ao código do IMI, já referida pelo Governo, poderá alterar toda esta situação e as populações ficam sem o que lhes é devido.
"Em 14 acórdãos até agora publicados, o Supremo Tribunal Administrativo (STA) determinou, sempre por unanimidade, que a lei (o Código do IMI) é absolutamente clara e que as concessionárias são obrigadas a pagar o IMI sobre todas essas centrais", esclarece o MCTM numa nota enviada à Lusa.
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Segundo o movimento, "esta questão do não pagamento do IMI já foi perdida pelo lóbi da energia nos tribunais, de forma irreversível, e ao mesmo tempo este Governo insiste em alterar a lei, exatamente nas partes sobre que assentam estas decisões judiciais".
O MCTM exorta de novo os candidatos presidenciais a assumirem compromissos sobre este problema, a quem já foram pedidas reuniões de urgência.
O movimento cívico trasmontano deixou ainda um aviso ao Governo: a cobrança do IMI não pode ficar por fazer e serão mobilizadas as populações para esta luta.
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"Exortamos o Governo, em especial o ministro das Finanças [Joaquim Miranda Sarmento], a não se deixar manipular por lobistas e facilitadores que apenas querem ganhar dinheiro à custa do povo. E este é um assunto grave, e de primeiro plano em Portugal", reitera o MCTM.
Em 17 de novembro, o MCTM já havia afirmado que "a lei é clara" no que respeita à cobrança de IMI em centros eletroprodutores "e só o Governo é que não vê isso".
"Para o STA, a lei é muito clara e estes centros eletroprodutores [barragens, parques eólicos e fotovoltaicos] têm que pagar IMI pelo simples facto de que têm prédios, e, por serem prédios, produzem riqueza e, por isto, têm de pagar IMI", vincava Graciano Paulo, membro do movimento.
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Em 7 de novembro, o ministro da Finanças confirmou que o Governo vai apresentar uma proposta de lei sobre as regras de cobrança do IMI das barragens.
A informação foi avançada por Joaquim Miranda Sarmento em resposta à bancada do PCP durante uma audição no parlamento no âmbito da apreciação na especialidade do Orçamento do Estado para 2026 (OE2026), durante a qual foi abordada a recente decisão do Ministério Público relativa ao negócio da venda de seis barragens do Douro Internacional pela EDP ao consórcio liderado pela Engie.
A questão do IMI das centrais hidroelétricas é um tema separado do da transação que a elétrica portuguesa alienou ao consórcio francês da Engie entre finais de 2020 e início de 2021.
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"Haverá uma proposta legislativa a vir a este parlamento [sobre o IMI] muito em breve", disse o ministro, sem, no entanto, esclarecer quando é que o executivo o fará.
Em janeiro deste ano, o Governo de Luís Montenegro criou um grupo de trabalho presidido pela juíza conselheira Dulce Neto para definir "os termos e condições para a aplicação do método do custo adicionado do terreno" previsto no Código do IMI relativamente às barragens, parques eólicos e parques solares fotovoltaicos.
Miranda Sarmento disse que o grupo de peritos "já concluiu os seus trabalhos", seguindo-se agora a proposta legislativa.
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