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REE culpa elétricas pelo apagão. EDP, Iberdrola e Endesa acusam operador

Em Espanha, ninguém quer assumir a culpa pelo apagão de 28 de abril. A Red Eléctrica aponta o dedo às grandes empresas, enquanto estas dizem que a responsabilidade é de quem gere sistema.

António Pedro Santos
18 de Junho de 2025 às 13:23

A presidente da Red Eléctrica Española (REE), Beatriz Corredor, acusou esta quarta-feira as empresas de energia que operam em Espanha de não terem fornecido todas as informações pedidas pela operadora do sistema elétrico espanhol, consideradas necessárias e fundamentais para investigar o apagão de 28 de abril, de acordo com a agência de notícias EFE.  

"Posso garantir que nem todas as informações recebidas tiveram a qualidade desejada, nem foram tão completas quanto necessário", disse a responsável numa conferência de imprensa na manhã desta quarta-feira, para apresentar o relatório da REE sobre o incidente que deixou Portugal e Espanha sem eletricidade durante mais de 12 horas. O documento revela que a oscilação de tensão "atípica" que poderá estar na origem do apagão foi registada numa central fotovoltaica conectada à rede de alta tensão em Badajoz.

De acordo com Concha Sánchez, diretora-geralde Operações da Red Eléctrica, tratou-se de um evento "forçado" nesta central solar em específico, localizada no sul do país, sendo que "não foi a primeira vez" que a REE observou "este comportamento". "A causa pode ter estado em falhas no controlo interno", sugeriu a responsável, identificando também um disparo "injustificado" ocorrido numa subestação em Granada. 

As acusações dos responsáveis da REE surgem menos de 24 horas depois do Governo de Madrid ter apresentado as conclusões da análise levada a cabo, ao longo de um mês e meio, pelo comité criado pelo Executivo de Pedro Sanchéz para investigar as causas do apagão. 

O relatório detalhado na terça-feira pela ministra da Transição Ecológica, Sara Aagesen, aponta do dedo à REE por má gestão da rede no dia 28 de abril e também a 10 centrais térmicas (a gás, carvão ou nucleares) remuneradas para prestar serviços ao sistema mas que falharam na sua função de absorver as flutuações de tensão registadas. No entanto, o Governo optou por não revelar quais são estas centrais nem as empresas a que pertencem. Em Espanha, elétricas como a Iberdrola, Endesa, Naturgy e EDP detêm quase todo o parque de geração térmica no país. 

A presidente da REE lembrou ainda que a empresa, enquanto operadora do sistema a nível nacional, não gere redes privadas, centros de controlo espalhados pelo país nem redes locais de distribuição de eletricidade, sendo que esta última atividade cabe a outras entidades, que variam consoante as diferentes regiões de Espanha. Uma delas, por exemplo, é a portuguesa EDP, que através da sua subsidiária E-Redes Distribución Eléctrica atua como operadora das redes de distribuição em Alicante, Astúrias, Barcelona, Huesca, Madrid, Valência e Saragoça, com mais de 50 mil quilómetros de linhas elétricas no país. Sobre o tema do apagão, a EDP mantém-se até agora em silêncio, sem prestar declarações.

Segundo Beatriz Corredor, o que cabe à REE é receber as informações por parte do Operador do Mercado Ibérico de Energia (Omie) que refletem os acordos estabelecidos entre produtores e compradores de energia no mercado grossista, para cada hora do dia seguinte. Com estes dados em mãos, o operador do sistema deve então verificar se os mesmos são "compatíveis com a realidade da física" da rede. "É o que se chama de gestão de serviços de ajuste, que inclui o equilíbrio da rede e a resolução de restrições técnicas", explicou Corredor, sublinhando que o envolvimento da REE em todo esse processo deve ser "mínimo", "ao menor custo possível" e "plenamente justificado", já que o operador é regido pelos princípios de "eficiência, segurança, neutralidade e independência".

"A Red Eléctrica não produz eletricidade, não comercializa eletricidade, não define a matriz energética, não estabelece preços e nem ganha dinheiro com o preço da eletricidade que transporta pela sua rede", insistiu. Beatriz Corredor acrescentou ainda que a atividade da Red Eléctrica é "um serviço público estratégico", que passa por garantir que o sistema elétrico funciona em pleno equilíbrio.

Na conferência de imprensa, a responsável disse ainda que se as centrais elétricas que são pagas para serem capazes de absorver e controlar oscilações de tensão na rede tivessem atuado corretamente - e não tivessem falhado nas suas responsabilidades - o apagão podia ter sido evitado. "A gestão da REE para 28 de abril forneceu recursos suficientes ao sistema. No entanto, constatamos que não houve um controlo dinâmico da tensão por parte das centrais", refere o relatório do operador.

O CEO da Redeia (empresa que detém a REE), Roberto García Merino, defendeu que "a empresa não tem qualquer responsabilidade, face ao apagão, não violou nenhum procedimento operacional e agiu com diligência em todos os momentos. Por todos esses motivos, acreditamos que não devemos aceitar nenhuma reclamação ou pagar indemnizações".

O mesmo dizem as elétricas. Em comunicado, a Aelec - que reúne Iberdrola, Endesa e EDP, com mais de 600 mil quilómetros de redes de distribuição de energia elétrica em Espanha - reiterou que todas as centrais e  redes estavam dentro das normas exigidas, negando assim qualquer responsabilidade pelo apagão. A associação acredita que a "causa principal" do apagão foi um "problema de controlo de tensão", cuja responsabilidade cabe à REE. As três elétricas acusam a REE de ter feito uma "distribuição geográfica desequilibrada [dos recursos de controlo de tensão da rede], o que deixou o sistema em uma situação vulnerável".

"Temos evidências de que centrais cumpriram as suas responsabilidades relativas ao controlo de tensão, operando até acima das obrigações regulatórias para contribuir para a estabilidade do sistema elétrico", referiu a Aelec. 

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