Aumento do consumo de carne no mundo cria nova oportunidade para o calçado português
Com o calçado em couro a suportar mais de 80% das suas exportações, a “indústria mais sexy da Europa” rejubila com o aumento do consumo mundial de carne, cenário que reforça a disponibilidade de matéria-prima e potencia a competitividade internacional.
A indústria portuguesa de calçado exportou mais de 90% da sua produção em 2024, tendo vendido 67 milhões de pares, dos quais 39 milhões em couro, para 170 países, em todos os continentes, que geraram uma faturação superior a 1,7 mil milhões de euros.
Portugal continua a dar cartas nos sapatos em couro, que são substancialmente mais caros do que em outros materiais e que representam mais de 80% das vendas em valor, porque é um produto natural, tecnicamente mais robusto e consideravelmente mais sustentável.
Daí que aquela que se apresenta como “a indústria mais sexy da Europa” regozije com o aumento do consumo mundial de carne, que deverá atingir 28,6 quilos “per capita” em 2033, segundo o mais recente estudo da OCDE.
Embora o ritmo de crescimento esteja a abrandar — passando de uma taxa média anual de 2,27% entre 1990 e 2024 para 0,14% até 2033 — a tendência mantém-se positiva.“Trata -se naturalmente de uma boa notícia para a indústria portuguesa de calçado, altamente especializada na transformação de couro”, defende Paulo Gonçalves, porta-voz da associação do setor (APICCAPS), em comunicado.
A associação presidida por Luís Onofre nota que o fenómeno é particularmente visível nos países em desenvolvimento, onde o consumo deverá crescer para 22,85 quilos “per capita” até 2033.
“A expansão da classe média e a melhoria dos níveis de rendimento continuam a impulsionar a procura por proteína animal, de acordo com a OCDE”, aponta, assinalando que “estes segmentos têm registado, de forma consistente, crescimento estável, oferecendo maior previsibilidade para as cadeias de abastecimento que trabalham com couro como subproduto”.
Para Portugal, cuja indústria de calçado é reconhecida globalmente pela capacidade de transformar couro em produtos de alto valor acrescentado, este cenário reforça a disponibilidade de matéria-prima e potencia a competitividade internacional.
“Sempre que há crescimento da produção mundial de carne, há impacto direto na oferta global de couro. Isso significa estabilidade e, muitas vezes, melhor qualidade do material disponível”, explica Paulo Gonçalves.
O consumo de carne bobina, em particular, associado a couros de alto valor, deverá aumentarpara atingir 1,39 quilos “per capita” em 2033.
Exportações aumentaram 3,8% em quantidade e 2,1% em valor até setembro
“Portugal tem uma das indústrias de calçado mais avançadas e sustentáveis do mundo. Transformamos couro — um subproduto da indústria alimentar que, de outro modo muito provavelmente seria desperdiçado— em peças de enorme valor, com design, durabilidade e prestígio internacional. O crescimento do consumo mundial de carne reforça a disponibilidade de uma matéria-prima que sabemos trabalhar como poucos”, enfatiza o porta-voz da APICCAPS.
“Com o setor global da carne a manter-se num ciclo de crescimento moderado mas contínuo, Portugal encontra no couro uma vantagem competitiva numa altura em que o mercado internacional exige produtos de qualidade, longevidade e origem rastreável”, sublinha a associação dos industriais portugueses de caçado.
"Num tempo em que se fala tanto de sustentabilidade, é importante lembrar que o couro é um material circular, aproveitado de uma cadeia produtiva já existente, e que o calçado português é referência mundial nessa integração responsável”, remata Paulo Gonçalves.
A APICCAPS acredita que, “combinando inovação, tecnologia e materiais de origem responsável,Portugal está bem posicionado para consolidar o seu estatuto como produtor de calçado ‘premium’, precisamente num momento em que as dinâmicas globais da proteína animal geram novas condições de mercado”.
Acresce que, “num contexto de maior competição internacional, esta ligação entre indústrias pode transformar-se num fator-chave de diferenciação”.
Entretanto, nos primeiros nove meses deste ano, a indústria portuguesa de calçado exportou 53,3 milhões de pares, no valor de 1.322 milhões de euros, o que representou um aumento de 3,8% em quantidade e 2,1% em valor face ao mesmo período do ano passado
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