A Meo e a Nos iniciaram uma batalha pelos conteúdos desportivos, que até agora eram dominados pela PPTV, empresa de Joaquim Oliveira. O Benfica foi o primeiro clube a fechar acordo para a venda de direitos televisivos com a Nos. A Meo contra-atacou e ganhou o FC Porto, seguindo-se o Sporting que optou por assinar com a Nos. Os contratos estão fechados. E agora, quais vão ser os próximos passos?

Onde os clubes vão aplicar os montantes?

O Benfica vai receber 400 milhões de euros nos próximos 10 anos, 300 milhões relativos à cedência dos direitos de TV à Nos e 100 milhões pela distribuição da BTV. O contrato entra em vigor já na próxima época, 2016-2017, o que vai permitir que o clube encaixe no imediato 37 milhões de euros. O restante pagamento será progressivo. O presidente do clube, Luís Filipe Vieira, já sublinhou que este dinheiro não vai ser direccionado para a compra de jogadores. Mas sim para aliviar o passivo que em Junho de 2015 se situava em 429,6 milhões de euros. O mesmo irá acontecer aos 457,5 milhões de euros que o FC Porto vai receber da Meo e aos 446 milhões que o Sporting irá obter da Nos. Além deste montante, o Sporting vai adicionar às suas contas mais 69 milhões de euros até 2018 relativos à revisão em alta do contrato com a PPTV. Na época 2014-2015 os dragões foram os únicos dos três grandes que viram o passivo aumentar, em 42 milhões, para um total de 276 milhões. O do Sporting cifrou-se em 228,4 milhões de euros. Estas quantias vão permitir ainda facilitar a negociação com os bancos, antecipando receitas.

Onde vão ser transmitidos os jogos?

Até 2018 os jogos do Sporting e do Porto vão continuar a passar na Sport TV, uma vez que os clubes têm contratos até essa data com a PPTV, empresa de Joaquim Oliveira que tem acordos para a transmissão dos mesmos nesse canal "premium". A novidade passará pelo regresso dos jogos do Benfica à Sport TV, que agora são transmitidos na BTV. Como Miguel Almeida, CEO da Nos, já sublinhou, a hipótese de os jogos na Luz serem transmitidos na BTV é "a menos provável". Os planos das operadoras a partir de 2018 não são conhecidos. Como a Nos é accionista da Sport TV, a par com Joaquim Oliveira, pode manter a transmissão dos jogos neste canal. Já a Altice, dona do Meo, pode optar por passar as partidas do Porto no Porto Canal ou lançar um canal específico para agrupar todos os jogos cujos direitos está a negociar.

A Sport TV e a BTV passam a ser exclusivas da plataforma da Nos?

Não. Miguel Almeida já garantiu que a intenção da Nos não é ficar com a BTV em exclusividade. A operadora irá vender o conteúdo às concorrentes que mostrarem interesse. Quanto à Sport TV, de acordo com as actuais regras da Autoridade da Concorrência, não pode ser exclusiva de nenhuma plataforma.

A factura de telecomunicações vai ficar mais cara?

Hoje para os adeptos de futebol verem todos os jogos do campeonato têm de subscrever a dois canais "premium": a Sport TV (desde 26,79 euros) e a BTV (9,99 euros). Miguel Almeida, CEO da Nos, adiantou que o objectivo da operadora é baixar os custos dos portugueses. Ou seja, se os jogos do Benfica passarem a ser transmitidos na Sport TV, a BTV deixa de ser "premium". No entanto, o mais provável é que os preços da Sport TV aumentem no próximo ano. O canal já anunciou que as assinaturas para os proprietários de cafés e restaurantes vai aumentar já a partir do dia 1 de Janeiro de 2016, de 40 para 50 euros. As actualizações para os clientes residenciais ainda não foram decididas. Mas ao passar a incluir os jogos do Benfica, o preço deverá aumentar, de modo a rentabilizar o investimento que a Nos tem realizado.

Quais são as alterações nos patrocínios?

A partir do dia 1 de Janeiro de 2016 as camisolas do FC Porto e do Sporting vão passar a incluir o "naming" da Meo e da Nos, respectivamente. O primeiro jogo onde os logos serão visíveis será precisamente no dia 2 de Janeiro no clássico Sporting–Porto. O Benfica não incluiu o patrocínio da camisola no contrato com a Nos. Os encarnados já têm a Emirates como patrocinadora. A Nos e Meo também vão ficar responsáveis pela gestão da publicidade dos estádios de Alvalade e do Dragão a partir de 1 de Julho de 2018, data em que terminam os actuais contratos dos clubes com a PPTV. Este acordo não significa que os espaços publicitários dos estádios vão ser cobertos com publicidade à Meo e à Nos. As operadoras ficam apenas responsáveis pela venda dos espaços a terceiros, ganhando comissões.

O plano de centralização da Liga morreu?

Se o acordo entre a Nos e o Benfica representava um obstáculo para o modelo de centralização dos direitos de TV, os recentes negócios com o Sporting e o Porto complicam ainda mais o projecto de centralização da Liga Profissional de Futebol desenhado por Pedro Proença. Além destes três acordos, em breve, a Liga enfrentará novos obstáculos com a Meo e a Nos a fecharem acordos com mais clubes. Para a Liga estes valores comprovam o potencial do mercado português de futebol. Motivos que levam Pedro Proença a não desistir do projecto de centralização dos direitos desportivos, segundo fontes do sector. E apesar dos recentes acordos complicarem os planos, a Liga continua a defender que o seu papel deve manter-se como ‘pivot’ para impôr soluções de equilíbrio e sustentabilidade. Um objectivo que pode passar pela negociação centralizada de direitos de TV, como os da II Liga, segundo as mesmas fontes.