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Como um "decacórnio" da biotecnologia quer evitar a extinção do rinoceronte branco

A startup Colossal Biosciences está a trabalhar com investigadores de diversos países para conceber, nos próximos quatro anos, um animal dos quais só existem mais dois da sua espécie. O envolvimento em diferentes projetos de edição genética têm feito catapultar o valor da empresa.

As fêmeas Fatu e Najin são os únicos espécimes vivos do rinoceronte branco do norte
As fêmeas Fatu e Najin são os únicos espécimes vivos do rinoceronte branco do norte Sunday Alamba / AP
17:00

"É muito mais fácil e barato prevenir uma extinção do que reverter uma extinção". A frase é de Matt James, diretor de espécies animais na startup de biotecnologia Colossal Biosciences. Esta jovem empresa conseguiu, no início do ano, uma avaliação superior a 10 mil milhões de dólares, alcançando o estatuto de "decacórnio" (termo que define uma startup que vale dez vezes um "unicórnio", que por sua vez equivale a uma valorização de mil milhões de dólares).

De onde vem tamanha valorização? Do facto de esta empresa estar a usar a biotecnologia, em particular a engenharia genética, com o objetivo de trazer à vida animais que já estão extintos. O projeto mais conhecido da startup é o da "desextinção" do mamute lanoso, mas a empresa está também a trabalhar na recriação do dodo, uma ave que habitava as ilhas Maurícias. Já este ano, a Colossal Biosciences andou nas bocas do mundo quando em abril anunciou ter criado três lobos gigantes (dire wolf), que desapareceram da Terra há cerca de 10 mil anos.

Mas desta vez o projeto é diferente. Em vez de trazer à vida um animal já extinto, a Colossal Biosciences quer evitar a extinção de mais uma espécie. Trata-se do rinoceronte branco do norte, da qual já só existem dois animais vivos em todo o mundo: as fêmeas Fatu e Najin, que estão no parque Ol Pejeta Conservancy, no Quénia. Por ambas serem fêmeas, em termos técnicos é como se a espécie já estivesse extinta. E é aqui que entra a biotecnológica do Texas.

A startup juntou-se em 2023 a um consórcio internacional, o BioRescue, que está a tentar há já vários anos, e sem sucesso, a inseminação artificial de um rinoceronte branco do norte (diferente dos do sul por serem mais pequenos). A chegada da startup americana vai permitir uma abordagem diferente ao problema e que envolve a edição genética.

10,3MIL MILHÕES
Atual avaliação da startup Colossal Biosciences depois de duas rondas de financiamento em 2025

Quando o projeto começou, em 2015, ainda existiam três rinocerontes brancos do norte, incluindo um macho, chamado Sudan. Este animal acabou por morrer em 2018, mas os investigadores já tinham preservado o seu esperma. O plano passa agora por usar os óvulos das fêmeas ainda vivas, o esperma do macho já morto, para gerar um embrião que depois será colocado numa fêmea de outra espécie, de rinoceronte branco do sul, pois tanto Fatu como Najin já não estão numa idade considerada ideal para a reprodução. Mas este embrião será diferente, pois conterá modificações genéticas extraídas a partir do ADN de outros rinocerontes brancos do norte já mortos (retiradas a partir de restos mortais como esqueletos e presas).

A ideia é usar as alterações genéticas para dar aos animais uma maior amplitude genética dos seus antepassados, o que poderá melhorar as perspetivas de repopulação da espécie. Pois em casos nos quais existem poucos animais para reprodução, a limitação genética pode ser um problema no sucesso do projeto.

É muito mais fácil e barato prevenir uma extinção do que reverter uma extinção Matt James, diretor de espécies animais da Colossal Biosciences

"Isto é um resgate genético sintético", começa por explicar James Matt, citado pela agência de notícias financeiras . "Trata-se de usar ferramentas de biologia sintética para criar alterações direcionadas dentro de um genoma, de forma a aumentar artificialmente a diversidade genética de uma população em declínio", acrescentou, para depois assegurar: "Está a três ou quatro anos de distância". O projeto BioRescue é ainda composto por investigadores do Quénia, Itália, Japão e Alemanha, entre outros países.

A Colossal Biosciences assegurou, em janeiro, um financiamento de 200 milhões de dólares (cerca de 170 milhões de euros ao câmbio atual) para poder prosseguir com este e outros projetos. Em setembro, o capital foi reforçado em mais 120 milhões de dólares (cerca de 100 milhões de euros), elevando a valorização da empresa para 10,3 mil milhões de dólares. Desde que foi criada em 2021, a startup já angariou 555 milhões de dólares em financiamento. A empresa de biotecnologia é liderada por Ben Lamm, cofundador e atual presidente executivo (CEO).

Apesar do mediatismo dos projetos nos quais a Colossal está envolvida, o que tem ajudado a atrair investidores de elevado perfil e feito aumentar significativamente a valorização da startup, o modelo de negócio da startup ainda está por definir. Em termos de monetização, o objetivo da empresa passa por usar algumas das tecnologias criadas para os processos de reversão da extinção animal para criar "spin-offs" que possam depois monetizar essas novas tecnologias. "Tens de criar computação biológica, engenharia celular, reprogramação de células estaminais, engenharia genética e embriologia", detalhou Ben Lamm numa entrevista à publicação em março, sobre como a empresa pretende gerar dinheiro.

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