Dionísio Pestana: o gestor que definiu o turismo nacional

Dionísio pestana é fundador do Grupo Pestana. Além da hotelaria, conta com negócios no imobiliário, nos casinos, no golfe e na indústria cervejeira. Filho único, nasceu em Joanesburgo, na África do Sul, em 1952. É formado em Business Economics pela Universidade de Natal. É casado com Margarida Pestana e pai de quatro filhos: Carlota, Lourenço, Manuel e Vasco.
Alexandre Azevedo / Sábado
Wilson Ledo 30 de Maio de 2018 às 09:00

O piano Steinway & Sons que preenche uma das salas do Pestana Palace, em Lisboa, tem muitas histórias para contar. O instrumento cruzou, pelo menos, duas vezes o Atlântico: primeiro da África do Sul para a Madeira, depois da Madeira para Lisboa.

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Nele poderíamos replicar o percurso do seu dono, Dionísio Pestana. Há quarenta anos deixava o país que o viu nascer para, depois da faculdade, tentar salvar da falência o único hotel que o pai tinha na Madeira, numa época marcada pelas nacionalizações. Hoje, o Carlton Madeira.

É uma das quase 100 unidades do maior grupo hoteleiro com raízes portuguesas. Para se ultrapassar a barreira da centena, 2018 já deu dois contributos, com a inauguração em Amesterdão e a recuperação do histórico edifício A Brasileira no Porto.

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E, nestas coisas, não há duas sem três: em Junho inaugura a nova pousada de Óbidos, reforçando a oferta do grupo nesta vila portuguesa. É parte de um plano de investimento na ordem dos 200 milhões de euros até 2020, com metas bem específicas: colocar uma bandeira em diferentes capitais europeias e assegurar o sonho nova-iorquino com três projectos.

Hábitos e costumes

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"Vou sempre a casa almoçar." A garantia é dada pelo próprio Dionísio Pestana numa entrevista recente ao Expresso, uma das poucas excepções ao seu silêncio mediático. Sempre que está na Madeira, a sua "base", cumpre o ritual. À noite, faz questão de estar à mesa pelas 20 horas.

Hábitos de um homem que opta por manter uma atitude discreta. Apesar da fortuna acima dos 500 milhões de euros, o presidente do Grupo Pestana continua a pensar em poupança. Não gosta de ir às compras e diz comprar sapatos e camisas sempre da mesma marca, só mesmo quando precisa. Excepção feita para os novos hotéis: "Olho aquilo como investimento, luto sempre pelo preço."

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Um ensinamento deixado pelos pais, Manuel e Caridade, que, apenas com a quarta classe, não se conformaram com o destino que lhes guardava a Ribeira Brava. O pai pediu dinheiro emprestado para pagar a viagem, a mãe só se juntou seis anos depois. Numa África do Sul marcada pela segregação racial, lançaram-se numa loja de bebidas. E souberam ir aplicando o dinheiro.

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Dionísio Pestana, filho único, ajudou desde os dez anos. Na escola gostava de Geografia e Matemática. É em inglês que continua a fazer contas. Conheciam-no por Dennis nos treinos de râguebi. Também corria nas manifestações contra o apartheid. "No princípio ainda ia com o peito às balas, mas depois, quando soltavam os cães, a multidão vinha a grande velocidade, tinha de se correr rápido e era muito violento." Hoje acelera o passo apenas por lazer ou negócio.

Renovar o império

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Fora das quatro linhas do campo de futebol, Cristiano Ronaldo confiou a Dionísio Pestana a sua entrada no mercado hoteleiro. Um negócio a meias, que já se concretizou no Funchal e em Lisboa. Contudo, a verdadeira prova de fogo da aliança ainda está por concretizar, com projectos para abrir em Madrid, Nova Iorque e Marraquexe.

É uma tentativa do Grupo Pestana chegar a um público mais jovem, mais tecnológico, e assim continuar a aumentar não só a rede de hotéis como também o número de trabalhadores, que já ultrapassa os sete mil.

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Dionísio Pestana ouve com frequência os conselhos dos quatro filhos – Carlota, Lourenço, Manuel e Vasco –, o seu "prémio de vida". Apenas o mais novo, Vasco, diz querer seguir as pisadas do pai. O empresário já assegurou que o grupo está preparado para seguir com ou sem os seus herdeiros. A estrutura de gestão é liderada por José Theotónio, amigo de longa data.

Num momento em que os investimentos se sucedem dentro e fora de portas, com dezenas de projectos de novos hotéis a serem avaliados, Dionísio Pestana também tem preocupações. Entre eles, a concorrência do alojamento local, "um problema para o qual os governantes nacionais e locais têm de se sentar e arranjar uma solução", confessou ao Expresso.

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Reflexo de um crescimento da procura turística que tem marcado Portugal e, sobretudo, as cidades de Lisboa e Porto – que o próprio grupo tem beneficiado. Agora, no que diz respeito ao alojamento local, é preciso aprender com outros países onde essa tradição é mais forte. Tal como Dionísio Pestana faz nas suas viagens à volta do mundo, sempre acompanhado de um pequeno caderno de notas. As férias nunca o são na verdadeira acepção da palavra. Do estrangeiro evita uma tendência frequente no ramo da hotelaria: a entrada do negócio em bolsa.

Vida de hotel

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O líder do Grupo Pestana admite ter saudades de viver em hotéis. Faz-lhe falta a rotina do 18.º andar do Carlton Madeira, onde vivia antes de casar com Margarida, sua paixão "à primeira vista". Nesse quarto recebia as encomendas que a mãe Caridade enviava com frequência da África do Sul: jornais, batatas fritas com ketchup e Coca-Cola.

Ainda hoje se queixa, por brincadeira, dos dez minutos que teve de passar a fazer para chegar ao trabalho. Ter uma família falou mais forte do que as mordomias da vida de hotel. "Acabou por ser muito bom porque depois veio a família", reconhece.

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Uma das jóias do império, onde guarda o sentimental piano, é o Pestana Palace, na Rua Jau, em Lisboa. Abrir este hotel demorou cerca de dez anos. Foram várias as idas a tribunal porque os vizinhos embargaram a obra, querendo uma vista exclusiva sobre o jardim. Dionísio Pestana ainda ponderou desistir e transformar o imóvel na sua casa. Lá batalhou. E conseguiu fazer as duas coisas. 

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Por isso, há muitas mais oportunidades para fazer hotéis. dionísio pestana

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