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Mande os colaboradores para casa

As filas de trânsito, o difícil (e caro) estacionamento na metrópole e a rotina dos horários fixos já não fazem parte da experiência de Jaime Ernesto, um "webdesigner" que, há cerca de um ano, mudou de vida, mas não de empresa...

30 de Abril de 2009 às 16:31

A produtividade não se mede pelo local físico onde se trabalha, nem pelo número de horas sentado à secretária. Algumas actividades são beneficiadas pela flexibilidade que o teletrabalho garante, uma experiência que a TWO, a Junaman e a Teleman comprovam.

As filas de trânsito, o difícil (e caro) estacionamento na metrópole e a rotina dos horários fixos já não fazem parte da experiência de Jaime Ernesto, um "webdesigner" que, há cerca de um ano, mudou de vida, mas não de empresa.

A trabalhar na Two, uma companhia de desenvolvimento de soluções "web" e de telecomunicações, Jaime Ernesto decidiu mudar-se para Castelo de Vide por razões pessoais que, com o acordo da empresa em que trabalha, conseguiu conjugar com a sua actividade profissional em teletrabalho. "Já tinha experimentado algum teletrabalho quando vinha a Portalegre dar formação, normalmente por períodos de um mês. Decidi, depois, propor à empresa um regime mais alargado porque a experiência tinha sido boa", sublinha o "webdesigner".

As vantagens de qualidade de vida e de custos mais baixos estão no topo da lista, mas Jaime Ernesto admite também: "o tempo rende mais no trabalho, porque estou sozinho e há menos distracções, e na vida privada porque não tenho que me deslocar tanto para estar com amigos e fazer desporto, por exemplo".


As circunstâncias mandam

A actividade como agente de compras para retalhistas norte-americanos não coloca a Junaman na lista de empresas de sectores de negócios tradicionalmente ligados ao teletrabalho, mas as exigências da actividade fizeram com que ainda em 1998 fosse considerada a possibilidade de deslocalizar uma equipa para Alcobaça, dando-lhe os meios para poderem trabalhar à distância gerindo horários de forma flexível. A experiência tem sido bem sucedida e José Bigio garante que é para manter mas admite que nem todas as pessoas se adaptam ao ritmo e método necessários.

José Bigio

44 anos

Junaman

http://www.junaman.com/

Empresa criada em 1974

Junaman

http://www.junaman.com/


A produtividade de Jaime Ernesto é confirmada por Luís Martins, o chefe e fundador da Two e da e-ventos. "O Jaime é uma das pessoas mais produtivas da empresa porque tem um perfil que lhe permite manter-se concentrado no trabalho em casa como fazia no escritório", explica Luís Martins. Na empresa, há outras experiências de teletrabalho, mas são mais casuais, ficando as pessoas a trabalhar em casa quando surge alguma necessidade específica. Até porque nem todos se adaptam da mesma forma.

"Tenho conhecimento de pessoas que não se adaptaram ao teletrabalho. É preciso ter método e ter ritmo. Eu tenho o escritório em casa e podia trabalhar de pijama mas organizei-me de forma a fazer o mesmo que fazia quando ia para o escritório: arranjo-me, saio para tomar café, e só depois volto a casa para trabalhar", adianta Jaime Ernesto.

Prioridade ao lado privado

A flexibilidade de horários e a possibilidade de conjugar a vida profissional com a vida pessoal foram os factores que atraíram Filipa Pereira Coutinho para o teletrabalho. Depois de trabalhar num banco durante 10 anos começou a sentir dificuldade em gerir o tempo entre a profissão e os dois filhos e decidiu dar o passo para a independência, criando a i4Technologies. Embora se mantenha satisfeita com a decisão, a empresária admite que ainda não conseguiu atingir o mesmo nível de remuneração que tinha no banco, embora mantenha a visão de que em um ou dois anos poderá fazê-lo.

Mas nem tudo são facilidades. "O isolamento é difícil de ultrapassar. Nem sequer sou uma pessoa muito sociável mas faz falta ter alguém com quem partilhar ideias e trocar impressões sobre um projecto", explica Filipa Pereira Coutinho. Por isso, optou por usar um escritório do irmão para fazer reuniões e passar algum tempo a trabalhar, saindo de casa. "Esse é o próximo passo do teletrabalho: sair de casa. Já há algumas experiências internacionais de centros para teletrabalhadores", explica.

Contas bem feitas, Filipa Pereira Coutinho não afasta totalmente a possibilidade de voltar a trabalhar numa empresa grande, até porque sente saudades do ambiente profissional e de estar "tudo organizado". Confessa, porém, que não sabe se conseguiria renunciar à liberdade conquistada.


Encontro com a liberdade

A dificuldade de conciliar a carreira num grande banco com a vida pessoal e a gestão do tempo com os dois filhos fez com que Filipa Pereira Coutinho optasse pelo teletrabalho e a criação de uma empresa de consultadoria e desenvolvimento Web. A experiência é bem sucedida e dificilmente abdicaria da liberdade encontrada, mas confessa que tem saudades de trabalhar numa grande empresa «onde tudo está organizado».

Filipa Pereira Coutinho

40 anos

I4Technologies

http://www.i4.com.pt/

Empresa criada em Maio de 2007

I4Technologies

http://www.i4.com.pt/


Modelos organizados

Com uma carreira de pioneirismo no teletrabalho em Portugal, Miguel Reynolds Brandão criou em 1993 a Teleman em Portugal, uma empresa que baseou todo o seu modelo organizacional em teletrabalho, agregando profissionais de várias áreas que respondiam a diferentes necessidades de projectos em curso. Nos últimos 15 anos, a empresa sofreu variações diversas, com períodos de expansão que estenderam a actividade a vários países e chegando a juntar 300 pessoas. Actualmente numa fase mais calma, a Teleman agrega oito pessoas, todas teletrabalhadores e sem vínculo à empresa, mesmo que se mantenha alguma estabilidade e algumas já colaborem com a Teleman há mais de 10 anos, explica Miguel Reynolds Brandão.

"Esta estrutura dá-nos a capacidade de nos adaptarmos às diferentes circunstâncias do mercado, mas a total flexibilidade que damos aos nossos colaboradores também conduz à estabilidade", justifica o empresário. Como grandes vantagens do modelo, o empresário refere a infra-estrutura de apoio aos profissionais e a possibilidade de optimizar o tempo. "Gerimos muito poucos tempos mortos. Não há reuniões inúteis, nem deslocações desnecessárias", defende.

O modelo é semelhante ao adoptado pela Profitgrow, uma empresa que representa em Portugal a BCM/Telecomunity. Depois de várias experiências profissionais, onde se conta o trabalho numa grande empresa de construção nos anos 80 e a criação de uma empresa que desenvolvia sistemas de informação para este sector, João Caro de Sousa investiu já em 2000 num projecto onde o teletrabalho e é uma peça fundamental.

Especializada em prestação de serviços de redução e controle de custos, sobretudo de telecomunicações, a filial portuguesa da BCM/Telecomunity gere várias parcerias em diferentes áreas de negócio e um grupo de 10 colaboradores, a maior parte dos quais não faz parte do quadro da empresa. Todo o trabalho é realizado via "web", mesmo contactos com os clientes. O escritório físico serve de ponto de apoio à estrutura e para centralizar algumas funções.

João Caro de Sousa defende o mesmo argumento da flexibilidade de recursos humanos para resposta a flutuações do mercado, mas explica que alguns destes colaboradores não desenvolvem a sua actividade exclusivamente com a BCM/Telecomunity, o que também lhes traz outras vantagens. "Penso que a noção do vínculo à empresa é hoje diferente do tradicional. Utilizamos muitos recém-licenciados que têm aptidões de gestão e tarefas de controle mas que também estão à procura de outras oportunidades diferentes e não se querem vincular à empresa", justifica.


A gestão da disponibilidade

O empreendedorismo está no código genético de Miguel Reynolds Brandão que já criou várias empresas e que lançou em 1993 o projecto pioneiro da Teleman, uma empresa que agrega uma "pool" de profissionais em teletrabalho e gere a sua disponibilidade em diversos projectos. Passando por várias fases nos últimos 15 anos, a empresa chegou a estar presente em vários países e agregar 300 pessoas, mas actualmente conta com oito colaboradores, todos no mesmo modelo.

Miguel Reynolds Brandão

43 anos

Teleman

http://www.telemanworld.com/

Empresa criada em 1993

Teleman

http://www.telemanworld.com/


Escritório em qualquer lado

Operando num sector de actividade mais tradicional, para a Junamen, a opção pelo teletrabalho é uma decisão pensada que serve também de alternativa à abertura de um escritório em Alcobaça, onde grande parte do trabalho da equipa de controlo de qualidade se realiza. "Em vez de termos todas as pessoas a sair diariamente para Alcobaça a partir de Cascais ou de abrir um escritório na zona, que estaria quase sempre vazio, optámos pelo teletrabalho e a experiência é muito positiva", explica José Bígio, sócio gerente da empresa. Todos os colaboradores estão vinculados à empresa, funcionado três em regime de teletrabalho completo e mais três em regime de teletrabalho opcional, mas apesar da dispersão geográfica - com colaboradores sedeados em Cascais, outros em Alcobaça e Guimarães, mantém-se o sentimento de equipa e realizam-se reuniões periódicas, mas não obrigatórias.

José Bígio dá o exemplo e também recorre ao teletrabalho para optimizar o tempo. "O meu escritório é onde eu estiver, com o portátil e o telemóvel com Internet. Trabalho no aeroporto, nas fábricas, em casa ou no escritório da mesma maneira", justifica. A empresa investe nos equipamentos que servem de base ao trabalho à distância, pagando os portáteis, telemóveis e a ligação Internet em casa ou a Internet móvel. Mesmo assim há poupanças significativas. "A principal é em gasóleo e tempo", adianta José Bígio, mas o facto de não ter de manter um escritório físico, com o aluguer do espaço, também entra nesta contabilização.


O problema do pijama

Com experiência de vários anos em projectos Web, Luís Martins passou pela Rumos e pelo SAPO antes de avançar com a criação da e-ventos e da Two, uma empresa especializada em gestão de projectos Web. Actualmente tem um colaborador em regime de teletrabalho permanente mas outras pessoas da empresa utilizam este modelo de forma casual quando é necessário conjugar a vida profissional com questões privadas que impedem a deslocação ao escritório. Mas avisa: «Para que a experiência corra bem tem de haver uma separação clara do ambiente de trabalho e pessoal. Tipicamente, trabalhar de pijama e de pantufas não funciona».

Luís Martins

32 anos

Two

www.two.pt/

Empresa criada em 2001

Two

www.two.pt/


O gestor da Junaman admite que toda a equipa tem bastante liberdade de horários, não controlados, mas que isso exige também grande responsabilidade. "Provavelmente faço muita coisa que chumbaria num exame de gestão mas acho que as pessoas são mais produtivas se estiverem a fazer o que mais gostam e tentamos adaptar os colaboradores às funções". Até agora, a experiência tem sido positiva, mas é também fácil identificar rapidamente quando as pessoas não se adaptam ao ritmo exigido.

O que se ganha e o que se perde com o teletrabalho

vantagens:

+ Menos tempo desperdiçado em deslocações e reuniões inúteis.

+ Redução de despesas com deslocações e instalação de um escritório.

+ Gestão flexível de horário.

+ Maior disponibilidade para a família.

Desvantagens:

- Isolamento. Não ter colegas de trabalho com quem partilhar ideias ou simplesmente um momento de descontracção.

- Dificuldade de separar a vida profissional da vida pessoal.

- Necessidade de impor um método e ritmo de trabalho.

- Pode não ser encarado de forma séria pelos eventuais clientes.

Balancear os prós e contras

A flexibilidade de gestão de horários e a redução, ou mesmo eliminação, das deslocações de carro ou de transportes públicos são vantagens imediatamente percepcionadas no teletrabalho, que permite gerir de forma mais eficaz o tempo. Mas este regime de trabalho não deixa de ter desvantagens. A evolução das tecnologias da informação e comunicação permitiu ultrapassar alguns dos obstáculos tradicionais, facilitando o contacto permanente com colegas e clientes a partir de virtualmente qualquer lugar, mas o isolamento ainda é um peso para algumas pessoas.

vantagens:

+ Menos tempo desperdiçado em deslocações e reuniões inúteis.

+ Redução de despesas com deslocações e instalação de um escritório.

+ Gestão flexível de horário.

+ Maior disponibilidade para a família.

Desvantagens:

- Isolamento. Não ter colegas de trabalho com quem partilhar ideias ou simplesmente um momento de descontracção.

- Dificuldade de separar a vida profissional da vida pessoal.

- Necessidade de impor um método e ritmo de trabalho.

- Pode não ser encarado de forma séria pelos eventuais clientes.

Balancear os prós e contras

A flexibilidade de gestão de horários e a redução, ou mesmo eliminação, das deslocações de carro ou de transportes públicos são vantagens imediatamente percepcionadas no teletrabalho, que permite gerir de forma mais eficaz o tempo. Mas este regime de trabalho não deixa de ter desvantagens. A evolução das tecnologias da informação e comunicação permitiu ultrapassar alguns dos obstáculos tradicionais, facilitando o contacto permanente com colegas e clientes a partir de virtualmente qualquer lugar, mas o isolamento ainda é um peso para algumas pessoas.

Balancear os prós e contras

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