Porto Spot Hostel - "Low cost" chique por 4 economistas
Poderá a fusão de dois bancos britânicos levar ao aparecimento de um hostel em pleno centro do Porto? Não só pode, como aconteceu mesmo. A compra do ABN AMRO Bank pelo Royal Bank of Scotland, seguido de um processo de integração mal sucedido, fez com que...
A banca ficou para trás na vida de José Luís e José Miguel. Com mais dois amigos lançaram-se num novo desafio: construir o maior hostel no Norte
Poderá a fusão de dois bancos britânicos levar ao aparecimento de um hostel em pleno centro do Porto? Não só pode, como aconteceu mesmo. A compra do ABN AMRO Bank pelo Royal Bank of Scotland, seguido de um processo de integração mal sucedido, fez com que José Luís Boavista e o colega José Miguel Carvalho pensassem: "E que tal avançarmos para algo nosso?" Juntaram mais dois amigos, Nuno Ferraz e Gonçalo Albuquerque, e a ideia ergueu-se em forma de hostel. Os quatro economistas precisaram de um milhão de euros para remodelar 800 m2, que se distribuem por três andares, e abriram há um mês o maior hostel do Norte do País.
"Fomos comprados pelo Royal Bank of Scotland e a integração correu muito mal, não só cá em Portugal. Houve grandes dificuldades financeiras, e se não fosse a intervenção do governo até tinha desaparecido. Vimo-nos obrigados a reiniciar a nossa vida profissional. Ao mesmo tempo, foi uma oportunidade e pensámos que, mesmo no meio de uma crise, devíamos tentar algo por nossa iniciativa", explica José Luís Boavista, que passou 13 anos na banca.
Conservadores na crise
Numa época de crise, um investimento avultado poderia ser bloqueado pela falta de financiamento. Mas para homens com o abecedário da banca incorporado, esse problema não se colocou. "Dada a minha experiência, mas também a dos meus sócios, tínhamos quase a obrigação de saber montar uma operação em que os investidores se sentissem confortáveis. Nós, por natureza, até somos bastante conservadores, mas há sempre uma componente de risco", acrescenta.
Para apostar num hostel foi fundamental a experiência profissional de José Luís, que lhe permitiu identificar o turismo como uma área de grande potencial em Portugal. A este factor juntaram-se o "boom" da baixa do Porto, enquanto ponto de atracção, e a expansão das companhias de aviação "low-costs" na Invicta . As portas para a entrada de jovens, com idades entre os 18 e os 35 anos ("target" alvo do Porto Spot Hostel), ficaram escancaradas. "Temos a consciência que tudo o que fizermos tem de ser à escala do tamanho do país. A Lisboa e ao Porto falta dimensão, em termos europeus . Por isso, nada de projectos megalómanos que financeiramente não sejam sustentáveis", precisa o empreendedor.
IKEA já não chega
José Luís começa por dizer que um hostel é "muito fácil de montar". Uma casa, um toque IKEA e já está . "Mas o público está cada vez mais exigente, pelo que é preciso dar mais" , esclarece. E essa necessidade abre um problema. Como é que se mantém um preço baixo, elevando a qualidade? "Tentamos acrescentar valor com jantares, 'cocktails' e provas de vinho. O convívio é uma dimensão muito importante e sem haver a tentativa de forçar a compra, há criar condições para que as pessoas se sintam à vontade para consumir de forma natural", afiança.
Dar a conhecer um local sem nome no mercado é um desafio complicado. Mas a internet está aí para ajudar a quebrar barreiras. "O principal canal de promoção para este negócio são os sites, através das opiniões que as pessoas deixam . Não é um boca a boca tradicional, mas através da internet", conclui Boavista.
Perfil
Nome: Porto Spot Hostel
Sede: Porto
Ano de fundação: 2010
Sector de actividade: Turismo
Investimento: 1 milhão de euros
Proprietários: José Luís Boavista, José Miguel Carvalho, Gonçalo Albuquerque e Nuno Ferraz.
Nº de trabalhadores: três (que em breve crescerá para sete ou oito).
Eixo Porto-Vigo é anti-sazonalidade
Empreendedores com vontade de arriscar, mas com os pés bem assentes na terra. O lema dos quatro economistas é consolidar para crescer. O futuro pode passar pela criação de uma rede de "hostels", mas primeiro é preciso criar um modelo possível de replicar com sucesso. "Pode até ser já para o ano, mas ainda não sabemos. O Norte de Portugal está pouco explorado em termos de oferta turística, e as "low-cost" vão trazer pessoas não só para o Porto, mas para toda a região. A solução poderá também passar por Lisboa", afiançam os empresários. Outra aposta passa pelo eixo Porto-Vigo. "Pensamos que é uma forma de combater a sazonalidade", explica José Luís. Por enquanto, o objectivo é que o Porto Spot Hostel atinja uma taxa de ocupação de 50%, para depois alavancar o negócio para outro patamar. A aposta num edifício histórico, de 1935, obra do arquitecto Arménio Losa, é uma mais valia do projecto, que está ainda polvilhado com toques de bom gosto na decoração, com louças da fábrica Rafael Bordalo Pinheiro. Os preços so mais do que apelativos, entre os 15 e os 25 euros por pessoa, para uma lotação máxima de 48 hóspedes. A espera pelo retorno do investimento é de, pelo menos, sete anos. Muito tempo, mas nada que atemorize o quarteto, com idades entre os 32 e os 44 anos.
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