IA e CEO de Wall Street lançam medo nas ações e cripto
As bolsas pintaram-se de vermelho, numa altura em que o escasso fluxo noticioso fez virar as atenções dos investidores globais para os EUA. A desilusão com as contas da Palantir Technologies, os alertas de dois CEO e as dúvidas sobre a Fed ditaram o sentimento negativo.
As bolsas europeias afundaram esta terça-feira, seguindo o movimento geral nos mercados de ações, numa altura em que se levantam preocupações em relação ao rebentar de uma bolha no setor da inteligência artificial (IA) e dúvidas quanto ao próximo movimento de política monetária da Reserva Federal (Fed) no próximo mês.
As previsões da norte-americana Palantir Technologies fizeram soar os alarmes no setor da tecnologia. A empresa prevê uma receita de 1,33 mil milhões de dólares neste ano, acima dos 1,19 mil milhões esperados pelos analistas, segundo a LSEG, “mas os mercados ficaram desapontados com a falta de visibilidade da empresa para 2026”, escreveu Jim Reid, estratega do Deutsche Bank.
Já Henrique Valente, analista da ActivTrades Europe, afirma que “as avaliações extremamente elevadas começam a gerar desconforto entre investidores que temem sinais de exuberância excessiva”. Numa nota, o analista diz que os resultados da tecnológica levaram “a uma valorização superior a 3% e a um rácio preço/vendas de 80 vezes, ilustrando bem a magnitude do ‘rally’ nas tecnológicas”. Até segunda-feira, as ações acumulavam uma subida anual de 173%, a negociar 200 vezes acima do lucro projetado.
A desilusão com as contas juntou-se aos avisos feitos por dois líderes de Wall Street sobre a sobrevalorização das ações. Durante a madrugada, David Solomon, do Goldman Sachs, afirmou que “é provável que haja uma queda de 10% a 20% nos mercados de ações nalgum momento nos próximos 12 a 24 meses”. Já o CEO do Morgan Stanley, Ted Pick, também disse que se deve “considerar a possibilidade de que ocorram quedas, de 10% a 15%, que não sejam impulsionadas por algum tipo de efeito de colapso macroeconómico”.
Há ainda preocupações em relação à paralisação do Governo dos EUA, que, com 35 dias, é a mais longa da história, bem como a incerteza sobre se a Fed irá ou não avançar com um terceiro corte na taxa de juros na próxima reunião, em dezembro. Os investidores esperam que as taxas de juros mais baixas justifiquem a valorização das ações e impulsionem a economia norte-americana, bem como o mercado de trabalho em desaceleração.
Depois de o banco central dos EUA ter cortado, na semana passada, os juros pela segunda vez consecutiva, os responsáveis da Fed têm mostrado ter opiniões distintas sobre o que se segue para as taxas dos EUA. No encontro, o presidente Jerome Powell já tinha alertado que um corte em dezembro não está garantido.
“O fluxo de notícias está bastante escasso neste momento, por isso faz sentido que o mercado faça uma pausa” e se foque nas notícias vindas dos EUA, considera Karen Georges, gestora de fundos da Ecofi Investissements em Paris, sobre as quedas nas ações globais.
O índice de referência para o bloco europeu, o Stoxx 600, caiu 0,3% para 570,58 pontos, pressionado pelo setor das matérias-primas, pelas telecomunicações e retalho. Entre os principais índices da Europa Ocidental, o alemão DAX perdeu 0,76%, o espanhol IBEX 35 ficou inalterado, o português PSI caiu 0,24%, o francês CAC-40 deslizou 0,52% e o neerlandês AEX cedeu 0,18%. Em contraciclo, o britânico FTSE 100 ganhou 0,14% e o italiano FTSE MIB valorizou 0,09%.
A par das ações, a maior criptomoeda do mundo também afundou e apagou os ganhos conseguidos durante o verão. A bitcoin chegou a cair 3,7% para 102.870 dólares, o valor mais baixo desde 24 de junho, o que representa um tombo de quase 20% em relação ao recorde atingido no mês passado, nos 125.245,57 dólares. A Ether, a segunda maior criptomoeda em capitalização, também está em queda, tendo desvalorizado até 3,9% para 3.664,97 dólares, mínimos de 21 de julho.
Estas criptomoedas atraem muitos dos mesmos investidores que as ações de IA, interligando os dois investimentos quando um deles apresenta resultados negativos. “A queda da bitcoin para os mínimos de junho espelha o facto de o mercado ainda estar a lidar com o impacto psicológico da liquidação massiva de outubro”, disse Chris Newhouse, diretor de análise da Ergonia, à Bloomberg.
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