Propostas para reduzir períodos de fidelização baixam para a comissão de Economia
Os partidos de esquerda convergiram esta sexta-feira em períodos mais curtos de fidelização nos contratos com as operadoras de telecomunicações, mas o CDS-PP exigiu "responsabilidade do Parlamento" sobre a 14.ª alteração à lei em 14 anos.
Reunido esta sexta-feira, 6 de Abril, em sessão plenária, o Parlamento aprovou por unanimidade que baixassem à comissão de Economia projectos de lei do PEV, PAN e BE: enquanto os do PEV e do PAN prevêem que o limite máximo dos novos contratos passe de dois anos para seis meses, o BE pretende que a alteração seja para um ano.
"Em 14 anos, estamos a fazer 14 alterações à Lei" das Comunicações Eletrónicas, notou o deputado centrista Hélder Amaral.
Intervindo na sessão, o responsável salientou que "o período de fidelização garante preços mais baixos, melhor tecnologia e isso vai em benefício dos consumidores", pelo que diminuir o prazo "não ajuda" a resolver problemas no sector.
Hélder Amaral observou também que "nenhuma das propostas ataca" outros problemas, como o dos preços e da falta de fiscalização, que a seu ver urge solucionar.
"O CDS esperava que houvesse responsabilidade para que o parlamento não faça alterações à lei ano após ano, até porque [...] está para sair um pacote europeu profundo que vem normalizar e criar defesas ao consumidor", adiantou.
Antes, o socialista Hugo Pires vincou que este debate "é oportuno e indispensável" e as propostas em causa devem ter consenso visando uma mudança da lei.
"No plano ideal, todos concordamos que os contratos de fidelização deviam reduzir-se", mas "não nos parece que a alteração à lei deva comprometer investimentos", alertou Hugo Pires, referindo que o desafio é "responder a estes problemas sem correr o risco de aumentar os custos".
Além dos projectos de lei do PEV, BE e PAN, foi aprovada a submissão à especialidade de outros dois documentos: um projecto de resolução do PS que sugere ao Governo que crie uma ficha de informação simplificada de serviços de comunicações electrónicas e um projecto de lei do PSD para clarificar a lei, incutindo desde logo a designação de 'utente', isto é, de pessoa singular ou colectiva que faz contrato com a operadora.
"As comunicações electrónicas são um serviço essencial" e, por isso, "importa a aclaração de alguns conceitos que não ficaram claros na anterior versão", argumentou Joel Sá, do PSD.
Para Heloísa Apolónia, do PEV, nesta discussão o "PSD e o CDS tomaram o partido das operadoras".
A deputada afirmou, porém, que o partido ecologista "não tem problemas" em voltar a mudar a Lei das Comunicações Eletrónicas, até porque os períodos de fidelização de dois anos "têm condicionado a liberdade dos consumidores e têm levado a que se sintam prejudicados".
"A lei não veio dar uma resposta cabal nem resolver problemas porque as operadoras souberam contornar a lei", sustentou, falando "em abusos", desde logo no aumento dos preços.
Pelo BE, o deputado Paulino Ascenção apontou que este é um "sector muito fértil em reclamações" devido às "abordagens agressivas aos consumidores", pelo que urge reduzir os prazos dos contratos e apresentá-los de "forma clara e simples".
Já o deputado do PAN, André Silva, vincou que "é necessário regular o sector e rever a lei para reforçar os direitos dos consumidores".
Falando em "barreiras à mudança de operadora ou de serviço", André Silva precisou que Portugal tem uma taxa de mudança "manifestamente inferior à média europeia" devido às penalizações exigidas.
Por seu lado, o comunista João Dias afirmou que os períodos de fidelização "não devem ir além do suficiente".
O eleito do PCP criticou ainda "ausência de controlo do desempenho" das operadoras pelo regulador, lamentando que "a população fique exposta à regra do mercado".
A última alteração a esta lei foi feita em meados de 2016 e passou a obrigar as operadoras de telecomunicações a dispor de contratos sem qualquer tipo de fidelização ou com seis e 12 meses de fidelização, além da opção dos 24 meses, possibilidade que não existia.
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