"Fraude numa escala épica e geracional". Foi assim que o juiz Paul Engelmayer, de um tribunal em Nova Iorque, descreveu os crimes praticados pelo empresário do mundo dos criptoativos Do Kwon, antes de o sentenciar a 15 anos de prisão - um número mais elevado do que a própria acusação pedia. 

Em causa está o colapso da "stablecoin" TerraUSD e do token Luna que levou os investidores a perderem mais de 40 mil milhões de dólares em 2022. Esta criptomoeda deveria manter uma paridade de 1 para 1 no seu câmbio com o dólar através de um algoritmo, ao contrário de outras "stablecoins" que garantem a equivalência através de reservas que garantem a liquidez da moeda. A implosão da TerraUSD, em maio desse ano, abalou o mercado, provocou um "crash" na indústria cripto e diminui a confiança dos investidores nesta solução tecnológica. 

Kwon declarou-se culpado dos dois crimes de fraude de que era acusado e admitiu ter enganado os investidores em relação à forma como manteve a paridade entre a TerraUSD e o dólar norte-americano. Em maio de 2021, a "stablecoin" da Terraform Labs chegou a cair abaixo do nível de 1 dólar e o antigo CEO da empresa afirmou que a paridade tinha sido restaurada através de um algoritmo chamado "Terra Protocol". Mas, na realidade, Kwon pediu a uma empresa para comprar secretamente milhões de dólares do token para sustentar, de forma artificial, o preço da TerraUSD. 

Três anos depois, o empresário sul-coreano de 34 anos concordou em pagar um multa de 80 milhões e indemnizações em torno de 4,55 mil milhões de dólares, como parte de um acordo com a Securities and Exchange Commission (SEC), autoridade reguladora do mercado de capitais norte-americano. Kwon e a Terraform Labs foram ainda proibidos de realizar transações com criptomoedas. 

Esta quinta-feira, o antigo CEO esteve presente em tribunal para ouvir a sua sentença e aproveitou para pedir desculpas aos investidores que acabaram enganados pelo seu esquema. "Todas as suas histórias [das vítimas] são angustiantes e lembram-me novamente das grandes perdas que causei. Sinto muito", declarou. 

Do Kwon enfrenta ainda acusações judiciais na Coreia do Sul. Os advogados do empresário pediram ao tribunal norte-americano para a sentença não ultrapassar os cinco anos, de forma a permitir que Kwon possa voltar ao seu país de origem para responder judicialmente. O pedido acabou negado, mas o empresário poderá ser transferido para fora dos EUA assim que cumprir metade da pensa a que foi condenado.