Bolsa de Londres junta-se a Wall Street e quer negociar 24 horas por dia
A bolsa londrina segue o exemplo norte-americano para atrair investidores mais jovens e digitais. O pedido está em análise e várias gestoras receiam custos adicionais e riscos regulatórios.
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O London Stock Exchange Group (LSEG) está a considerar a implementação de sessões de negociação contínuas, refletindo um movimento mais amplo entre as bolsas de valores para modernizar o acesso aos mercados financeiros e acompanhar os hábitos dos investidores mais jovens e digitais.
Fontes próximas do processo, citadas pelo Financial Times, revelam que o grupo está a analisar “as implicações tecnológicas e regulatórias” de uma possível mudança para horários alargados ou até mesmo negociações de 24 horas. “A LSEG está a avaliar essa possibilidade, seja com negociações contínuas ou com uma extensão do horário atual”, afirmou uma das fontes, sublinhando que decorrem “discussões comerciais, políticas e regulatórias importantes sobre o tema”.
Este debate tem ganhado tração à medida que cresce o interesse dos investidores de retalho por negociações fora do horário habitual, em particular os mais jovens, que investem através de plataformas móveis. O sucesso e a atividade intensa dos mercados de criptomoedas, que operam sem interrupção, também estão a servir de inspiração para as bolsas tradicionais.
Embora apenas 2,7% das receitas do LSEG no primeiro trimestre tenham vindo das ações, o mercado de capitais continua a ser um elemento central da praça financeira londrina e da ligação dos investidores internacionais às empresas britânicas. Atualmente, a bolsa funciona entre as 08h00 e as 16h30.
Entre os fatores em análise estão não só os custos tecnológicos da transição mas também os impactos sobre a liquidez, atualmente concentrada nas aberturas e fechos de sessão, e os efeitos sobre empresas com dupla cotação. A avaliação da LSEG faz parte de uma discussão mais abrangente sobre novos produtos e serviços, adiantou outra fonte. A bolsa britânica optou por não comentar diretamente a informação.
O debate não é exclusivo do Reino Unido. Nos Estados Unidos, várias bolsas, incluindo a New York Stock Exchange, o Nasdaq e a Cboe Global Markets, já apresentaram pedidos formais à Securities and Exchange Commission (SEC) para alargar os horários de negociação. Estas três plataformas representam, em conjunto, cerca de 40% das transações em bolsa nos EUA. Os pedidos surgem após a aprovação preliminar da 24X, uma nova bolsa com ambição de operar 24 horas por dia, embora a autorização definitiva esteja dependente da resolução de questões regulatórias mais amplas.
Apesar do entusiasmo dos investidores de retalho, muitas gestoras de ativos profissionais mantêm reservas quanto a este modelo, receando custos adicionais e potenciais riscos regulatórios.
Na Europa, a Federação Europeia das Bolsas de Valores também já se pronunciou sobre o tema. Em maio, a entidade referiu que “janelas de negociação mais longas podem ser benéficas, sobretudo para atrair investidores de retalho”, mas alertou que “ainda não está claro se este modelo será sustentável ou vantajoso a longo prazo”.
Nos Estados Unidos, as discussões sobre o horário oficial não são novas. Investidores da costa oeste, por exemplo, enfrentam o encerramento oficial dos mercados às 13h locais, devido à diferença horária com Nova Iorque. Já a compatibilidade entre o horário noturno nos EUA e o diurno na Ásia tem sido aproveitada por países como Japão, Coreia do Sul e China, onde existe uma comunidade ativa de investidores individuais, o que poderá servir de base para a expansão global deste modelo.
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