Ursos nos BRIC ameaçam mercados desenvolvidos
Brasil, Rússia e sobretudo a China atravessam um período conturbado. A crise das matérias-primas e a implementação de reformas estão a colocar um travão às economias. E a arrastar os países desenvolvidos.
Chegaram a ser a locomotiva do crescimento da economia mundial no início da década, mas sucumbiram à crise das matérias-primas e a problemas específicos. Depois de um 2015 marcado por quedas expressivas nas acções e nas moedas, os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), liderados pela China, prometem abalar os alicerces da economia mundial. Tudo vai depender sobretudo da evolução da economia chinesa.
Os mercados accionistas mundiais estão a ter um início de ano turbulento, liderados pelos BRIC. À semelhança do que aconteceu em Agosto do ano passado, a China voltou a assustar os investidores. A bolsa chinesa e, desde esta quinta-feira, 14 de Janeiro, a praça brasileira estão já em "mercado urso", ou seja, caem mais de 20% desde o último máximo, perante os receios em torno das suas economias.
A intervenção no mercado cambial e as fortes quedas nas acções aceleraram a desconfiança em torno da China. Além de ser um dos maiores consumidores de matérias-primas, é ainda o destino de grande parte das exportações, bem como o maior "cofre" de reservas de dólares. "O principal problema é o abrandamento da procura chinesa e o elevado risco de se estar a desenvolver uma crise de crédito, levando a maior pressão nos activos de mercados emergentes em geral", diz Maarten-Jan Bakkum, estratego de mercados emergentes da NN Investments Partners.
Mas, além de afectar negativamente os países em desenvolvimento, o gigante asiático poderá ainda abrandar a economia mundial, cujo crescimento é modesto. "A China foi o motor do crescimento mundial por vários anos, mas agora parou", com o país a atravessar um demorado processo de reajustamento, explica Guy Haselmann, do Scotiabank. Apesar dos receios em torno do abrandamento chinês, os especialistas não antecipam uma travagem brusca na economia, limitando o impacto negativo, ainda que enfrente muitos desafios.
E se as perspectivas para a China são, no mínimo, conservadoras, para os restantes países que integram os BRIC não melhoram. A Rússia deverá continuar a ser penalizada pelos baixos preços das matérias-primas, enquanto o Brasil, além da crise das "commodities" enfrenta vários escândalos de corrupção. "Se os preços da energia e dos metais continuarem nos níveis actuais ou caírem mais ao longo de 2016, então os países exportadores de matérias-primas, como a Rússia, podem continuar a sofrer", argumenta Richard Dunbar, estratego de investimento da Aberdeen.
Dos quatro, a Índia é quem apresenta maior potencial, continuando a beneficiar das reformas estruturais implementadas por Narendra Modi e também da queda das matérias-primas.
Mais lidas