Novo crédito financiou em média 69% do valor da casa em 2023, abaixo do ano anterior

O Banco de Portugal indica que a banca cumpriu, de forma global, as regras de concessão de crédito inscritas na medida macroprudencial em 2023.
habitação, casas, crédito
Alexandre Azevedo
Leonor Mateus Ferreira 25 de Março de 2024 às 17:00

Quem recorreu a crédito para comprar casa, no ano passado, conseguiu um financiamento que cobria, em média, 69% do valor do imóvel. O valor caiu face aos 75% verificados em 2022, de acordo com dados divulgados esta segunda-feira pelo Banco de Portugal.

O rácio entre empréstimo e valor do ativo ("loan-to-value" ou LTV) tem de ser inferior a 90% no caso do crédito à habitação, sendo este um dos três fatores que compõem a medida macroprudencial do Banco de Portugal para as instituições de crédito, que entrou em vigor em 2018 com o objetivo de promover a adoção de critérios prudentes de concessão.

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"Em 2023, 68% das novas operações de crédito à habitação tiveram associado um rácio  inferior ou igual a 80%. A quase totalidade das novas operações registou um rácio loan-to-value (LTV) inferior ou igual a 90%. O rácio LTV médio das novas operações de crédito para habitação própria e permanente diminuiu quase dez pontos percentuais (pp) face ao terceiro trimestre de 2018 e seis pontos percentuais face a 2022, fixando-se em 69%", refere o relatório anual de acompanhamento da recomendação.

A segunda regra diz respeito ao teste de esforço do rácio entre serviço da dívida e rendimentos (DSTI, na sigla em inglês). No último trimestre de 2023, perante o aumento das taxas de juro de referência, o Banco de Portugal reduziu, para metade, o choque de taxa de juro considerado na avaliação deste fardo.

Este "choque extra" passou em outubro a fixar-se, nos contratos a taxa variável com prazo inferior ou igual a cinco anos, nos 0,5 pontos percentuais; 1 ponto percentual se o crédito tiver uma maturidade superior a cinco anos e igual ou inferior a 10 anos. No caso dos contratos de crédito superior a 10 anos deverá ser simulada uma subida de 1,5 pontos percentuais.

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"Cerca de 91% do montante associado a novos créditos à habitação e ao consumo foi concedido a mutuários com um rácio DSTI (avaliado tendo em conta o choque de taxa de juro) inferior ou igual a 50%. Observou-se a manutenção da utilização das exceções previstas na recomendação face a 2022, nomeadamente para os rácios DSTI entre 50% e 60% e acima de 60%. Num contexto de aumento das taxas de juro, o rácio DSTI efetivo médio aumentou novamente em 2023 face ao ano anterior", refere o BdP.

O terceiro fator que contribui para a regra diz respeito à maturidade média ponderada das novas operações de crédito à habitação, que se espera venha a convergir para 30 anos. Em dezembro de 2023, esta situava-se em 30,6 anos, o que resulta do "cumprimento quase generalizado" por parte das instituições. O supervisor liderado por Mário Centeno sumariza que a "recomendação está a ser globalmente cumprida".

Face a esta evolução continuou também a observar-se uma melhoria do perfil de risco dos mutuários das novas operações de crédito à habitação. A percentagem de crédito concedido a devedores de risco elevado (com rácio DSTI superior a 60% e/ou rácio LTV superior a 90%) manteve-se em 3% em 2023 (tal como em 2023), enquanto o risco intermédio caiu de 48% para 36%. O baixo risco já representa assim 61% (contra 49% em 2022).

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"Esta evolução deve-se principalmente ao aumento da percentagem de novas operações de crédito à habitação com um rácio LTV inferior ou igual a 80%, num contexto de aumento de taxas de juro e preços da habitação", aponta o BdP.

O conceito de novas operações de crédito no relatório do supervisor inclui as operações de transferência de empréstimos para outro banco pelo que o BdP ressalva que, em 2023, "registou-se um volume material deste tipo de operações face a anos anteriores" pelo que "o perfil dos mutuários observado neste relatório não é diretamente comparável com o de anos anteriores".

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