Startup japonesa prepara primeira "stablecoin" indexada ao iene

A JPYC quer dar o primeiro passo no Japão com rumo à digitalização do iene. O valor da "stablecoin" vai ser assegurado por títulos da dívida do país e a startup revela que não vai cobrar taxas nas transações.
Startup japonesa prepara primeira 'stablecoin' indexada ao iene
Bodo Marks / AP
Ricardo Jesus Silva 24 de Agosto de 2025 às 10:30

As "stablecoins" estão a ganhar cada vez mais tração no mundo dos pagamentos digitais e poucos são os que parecem querer perder o comboio. No Japão, a startup tecnológica JPYC prepara-se para lançar a primeira criptomoeda indexada à moeda local, o iene, num mundo que ainda está bastante concentrado e no qual o dólar é o indexante da grande maioria destes ativos. 

A moeda digital vai adotar o nome da empresa e será convertível em ienes, com o seu valor a ser assegurado por títulos da dívida soberana japonesa, de acordo com o presidente executivo da startup Noritaka Okabe. "Inicialmente, esperamos que a procura venha de investidores institucionais, fundos de investimento e gestoras de investimentos", afirmou. No entanto, e olhando para o longo prazo, Okabe vê a JPYC a chegar aos quatro cantos do mundo e a ser utilizada como uma forma de iene digital

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Para já, o cronograma aponta para um lançamento para o último trimestre do ano. A startup anunciou ainda que não pretende cobrar taxas nas transações com esta "stablecoin". De forma a rentabilizar a sua emissão, a empresa pretende continuar a comprar títulos da dívida japonesa à medida que crescem o número de JPYC no mercado, ganhando dinheiro com os juros das obrigações que detém. 

Através da "blockchain", estas moedas digitais, indexadas a um ativo mais seguro para alcançarem um grande grau de estabilidade, permitem transações mais rápidas e de menor custo do que os sistemas atuais. Vários bancos têm estado a aderir a estes ativos e têm planos para lançar a sua própria "stablecoin" nos próximos tempos, uma lista que inclui gigantes como o Bank of America e o Citi. Até para não perderem uma corrida que, como indicam os analistas da DBRS numa nota acedida pelo Negócios, pode levar, no curto prazo, a uma "perda nos depósitos" e, no longo, a um "desvio significativo no volume de transações". 

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Na Europa, já existe uma série de "stablecoins" indexadas ao euro, mas que têm tido dificuldade em ganhar tração. A mais popular é a EURC, emitida pela Circle e em conformidade com o Regulamento Europeu sobre o Mercado de Criptoativos (MiCA), que tem cerca de 180 milhões de euros em circulação. É um valor diminuto comparado com as maiores "stablecoins" do mercado, indexadas à "nota verde", com a mais popular de todas, a USDT da Tether, a contar com mais de 167 mil milhões de dólares em circulação. 

A grande diferença entre o valor de ambas explica-se, em parte, pelas divergências no quadro regulatório dos EUA e da União Europeia (UE). Enquanto do outro lado do Atlântico o Genius Act, que já passou pelo crivo de Donald Trump, introduz um ambiente mais flexível para a criação e emissão de "stablecoins", na Europa, o setor acusa o MiCA de ser "estrangulador" para este tipo de ativos. Enquanto a regulação europeia coloca o ênfase na , a norte-americana põe o dólar no centro da infraestrutura das "stablecoins".

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