As bolsas internacionais têm negociado no vermelho esta semana, pressionadas pelo setor tecnológico, numa altura em que se levantam preocupações em relação ao rebentar de uma bolha no setor da inteligência artificial (IA). Há já analistas a alertar para uma sobreavaliação do setor, com os CEO do Morgan Stanley e do Goldman Sachs a deixarem avisos de que dentro de um ou dois anos os mercados acionistas podem assistir a uma queda de 10% a 15%.

João Lampreia, "country manager" da corretora Freedom24 em Portugal admite que "o tema da bolha especulativa de IA (...) em algum ponto no tempo terá necessariamente de se materializar", mas diz que "os riscos de sobreavaliação do mercado são essencialmente positivos, numa lógica de contexto de mercado e de perfilamento de investimento num prazo mais longo".

O analista explica que, olhando para a época de resultados dos gigantes tecnológicos, "temos assistido mais a um 'reset' de avaliação e de preços, do que propriamente a um 'breakdown' estrutural", ressalvando que, ainda assim, os níveis de avaliação destas empresas hoje "são muito diferentes do que havia, por exemplo, quando se verificou o crash [das dotcom] em 2000". Em suma, Lampreia considera que "não estamos necessariamente no início de um precipício de preços e de avaliações".

Sobre a previsão dos CEO do Morgan Stanley e do Goldman Sachs, o "country manager" da Freedom24 diz ser "muito difícil de temporizar", mas, de qualquer forma, entende que "considerar 5% a 10% de 'drawdown' é um 'drawdown' saudável e não propriamente um risco de uma iminente bolha especulativa a rebentar".

É neste contexto que vê também a queda da bitcoin, que esta semana desceu abaixo do limiar dos 100 mil dólares, o que já não acontecia desde maio. "Há aqui uma relação causa-efeito (...) Esta narrativa de hype que transporta alguns nomes mais especulativos das tecnológicas também [alastra] para o mercado de criptoativos", considera.

Assumindo que se tratou de uma queda expressiva - tanto da bitcoin como de outros ativos cripto -, Lampreia acredita, ainda assim, que, no caso da bitcoin, "os fundamentais continuam robustos", principalmente tendo em conta um cenário de perda de valor das moedas tradicionais. "Creio que esta última correção, nas últimas semanas, decorre muito mais de fatores de liquidez (...)  por alavancagem excessiva, do que propriamente uma alteração dos 'drivers' fundamentais", remata.