Fed pode confrontar-se com "soluções de compromisso difíceis" se inflação persistir
As atas da última reunião da Reserva Federal norte-americana reiteram o que foi dito nesse encontro: que o banco central está bem posicionado para esperar por uma maior clareza sobre o panorama do país antes de voltar a mexer nos juros. Mas se a inflação for mais persistente do que o esperado e se as perspetivas para o crescimento e emprego se debilitarem, o cenário pode ser mais complexo.
Na sua última reunião, que decorreu a 6 e 7 de maio, a Reserva Federal (Fed) manteve os juros diretores, tal como se esperava, no intervalo entre 4,25% e 4,50%. Na conferência de imprensa que se seguiu, o presidente do banco central, Jerome Powell, disse que a Fed estava "bem posicionada" no que diz respeito à política a seguir. "Os riscos de maior desemprego e maior inflação parecem ter aumentado, mas acreditamos que o atual posicionamento da Fed em matéria de política monetária nos deixa bem posicionados para responder oportunamente a potenciais desenvolvimentos económicos", sublinhou. E agora as atas reiteram essa perspetiva.
No comunicado após a reunião, a Fed adiantou que os "riscos de maior desemprego e inflação" tinham aumentado e que, por isso mesmo, também que a incerteza em torno das perspetivas para a economia tinha registado "um incremento adicional". O presidente do banco central, por seu lado, advertiu para o facto de os níveis então anunciados para as tarifas alfandegárias poderem levar a uma desaceleração do crescimento económico e alertou para um potencial aumento da inflação no longo prazo.
No entanto, Powell também disse que a taxa dos fundos federais estava num bom nível, enquanto o banco central espera por mais clareza sobre a política tarifária de Trump, e considerou que a atual política monetária da Fed é apenas "moderadamente restritiva" e que o banco central continuará a monitorizar os dados económicos do país. "Isso deixa-nos numa boa posição de ‘esperar para ver’. Não cremos que haja necessidade de pressa. Podemos ser pacientes", apontou, relativamente ao cenário de novos cortes dos juros.
Ainda assim, as atas agora divulgadas mostram também alguma preocupação perante decisões futuras. "Os participantes sublinharam que o Comité Federal do Mercado Aberto (FOMC) poderá confrontar-se com soluções de compromisso difíceis se a inflação se revelar mais persistente e se, ao mesmo tempo, as perspetivas para o crescimento e emprego se debilitarem".
Os responsáveis do banco central mostraram-se de acordo quanto ao facto de se estar perante uma maior incerteza económica, mas também sublinharam que isso justificava a sua "abordagem paciente" aos ajustes dos juros diretores.
"Os participantes concordaram que, com o crescimento económico e o mercado laboral ainda sólidos, e com a atual política monetária moderadamente restritiva, o FOMC estava bem posicionado para esperar por maior clareza sobre o panorama para a inflação e para a atividade económica", revelam as atas.
E o documento prossegue: "os participantes concordaram que a incerteza sobre as perspetivas económicas aumentaram, tornando apropriado assumir uma abordagem cautelosa até que se tornem mais claros os efeitos económicos líquidos do leque de mudanças nas políticas governamentais".
As atas destacam ainda a vontade dos responsáveis da Fed de manterem os juros diretores "em espera" durante mais algum tempo, dado que as mudanças políticas em Washington ensombram o panorama económico.
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