pixel

Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

Notícias em Destaque

"Há um risco de erosão da Fed quando se questiona as suas decisões", defende Marlon Francisco

O economista não espera um discurso disruptivo de Jerome Powell na sexta-feira. Sobre se a independência da Fed pode ser colocada em causa no futuro, considera que "há uma questão de erosão da instituição" que pode "criar problemas não só na própria Fed, mas também nos efeitos práticos nas bolsas ou na própria economia".

A carregar o vídeo ...
21 de Agosto de 2025 às 15:23

Começa esta quinta-feira o simpósio económico de Jackson Hole com o tema “transformações ao mercado de trabalho”, mas as atenções estão viradas para o dia seguinte, no qual os mercados financeiros vão tentar ler nas palavras de Jerome Powell o que vai acontecer às taxas de juro dos Estados Unidos. A menos de um ano do fim do mandato à frente da Reserva Federal (Fed) norte-americana e sob constantes críticas do Presidente dos Estados Unidos, Powell vai enfrentar um importante teste à independência do banco central.

Marlon Francisco, economista e professor da Nova SBE, acredita que o discurso de Powell, esta sexta-feira, não vai aumentar a tensão com Trump. "Parece-me pouco provável que entrem em rota de colisão, pelo menos no discurso. Normalmente, quer a Fed, quer o próprio chair pessoalmente, costumam focar-se bastante mais em questões técnicas e em questões monetárias do que em questões políticas. Pelo menos tem sido essa a abordagem normal. Portanto, é possível que existam alguns laivos sobre a independência da Fed, mas não me parece que vá abordar diretamente. O que pode acontecer, tendo em conta realmente o tema deste simpósio, que é sobre o mercado de trabalho, é talvez vir a falar um bocado sobre a economia real quando tem vindo a falar sempre muito da inflação nos simpósios anteriores. Mas diretamente, relativamente ao Presidente Trump, não me parece", afirma.

Sobre se a independência da Fed pode ser colocada em causa no futuro, o economista considera que "institucionalmente, não. Agora, obviamente, há um risco de erosão política da própria Fed quando se começa a questionar as decisões da Fed que devem ser técnicas e se colocam no plano político, há uma questão de erosão da instituição. E isto pode criar problemas não só na própria instituição, mas também nos efeitos práticos nas bolsas ou na própria economia, com investimentos futuros. Portanto, há aqui consequências para lá da própria independência da Fed que devem se calhar ser mais estudadas".

É esperado que a Fed corte os juros em setembro, o que seria a primeira vez desde dezembro de 2024. Para o economista do ponto de vista técnico "faz todo o sentido". "Estamos num período de bastante incerteza com a entrada das tarifas. Aliás, chegou ainda há pouco tempo um estudo que mostra que os preços das importações pré-tarifas, pré-taxas, pré-qualquer tipo de outro pagamento que não seja os preços que são vendidos aos importadores, têm-se mantido bastante constantes. O que é que isto significa? Significa que os importadores estão, basicamente, a absorver o preço todo, quase, das tarifas. E isto ainda não se tem verificado muito no consumidor, apesar da subida já esperada da inflação, que já está nos 3%, a subjacente, e aquela que o Fed costuma olhar bastante, que é as despesas de consumo pessoal, que está nos 3,2%, mas é bastante provável que esta subida se venha a repercutir à medida que todos os produtos que estão a armazém se começam a esgotar. Obviamente a inflação é a maior preocupação neste momento", defende em entrevista ao Negócios no NOW.

Sobre a sucessão de Powell nos comandos da Fed, a Casa Branca já veio dizer que há 11 nomes possíveis. Na opinião de Marlon Francisco, os mais bem posicionados são "Christopher Waller, que é um atual governador do Comité, e temos também a Michelle Bauman, que é a vice-chair da supervisão. Ambos são ligeiramente mais 'doves', que é um termo que utilizamos para significar que são um bocadinho mais para o corte dos juros e são os dois que foram dissidentes nesta votação".

"Existem talvez outros dois nomes que têm sido bastante falados, um deles que é o Kevin Walsh, que é um antigo governador, e o outro é o Kevin Hassett, que é antigo membro do Conselho Económico Nacional. Ambos são bastante mais pró-cortes, especialmente o Hassett é bastante mais pró-político e muito ligado à área trumpista. Nenhum deles é atualmente governador", continua.

Ver comentários
Publicidade
C•Studio