Petróleo com pior desempenho em 20 anos
O ouro negro entrou em “mercado urso”. E pode não ficar por aqui. Há quem aponte os 30 dólares como o próximo mínimo do petróleo. As dúvidas dos investidores em relação à capacidade de cumprir o corte de produção explicam as quedas.
É preciso recuar a Novembro para ver os preços do petróleo negociarem em torno dos 42 dólares por barril. A matéria-prima entrou em território de "mercado urso" (cai 20% desde o máximo anterior) e o caminho pode continuar a ser rumo às perdas. Alguns analistas apontam os 30 dólares como o limite das descidas. O excesso de oferta continua a ser o detonador da desvalorização e este pode vir a ser o pior primeiro semestre desde 1997.
O petróleo atingiu, esta quarta-feira, o valor mais baixo em sete meses, em ambos os mercados de referência. Um desempenho que elevou para 21% a queda acumulada desde o último máximo atingido em Janeiro e que coloca oficialmente a matéria-prima em "mercado urso". Desde o início do ano, o Brent, em Londres, cai 21,7% enquanto o WTI, em Nova Iorque, perde 21,5%, o que a manter-se poderá ser o saldo mais negativo num primeiro semestre em 20 anos, segundo a Reuters.
"O petróleo está em tendência de queda e os riscos desta tendência apontam para os 30 dólares", defende Paul Ciana, estratega do Bank of America/Merrill Lynch, citado pela "Business Insider". Isso significaria que os preços voltariam aos níveis registados em Fevereiro do ano passado, quando atingiram mínimos de 12 anos.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) acordou, em Novembro do ano passado, cortar a produção em 1,8 milhões de barris por dia nos seis meses com início em Janeiro. Deste plano ficaram de fora a Líbia e a Nigéria, devido aos ataques e crises políticas que afectaram a sua oferta. Aliás, a Líbia anunciou, esta semana, que a sua produção atingiu máximos de quatro anos. Já o Iraque, segundo dados recentes, está a aumentar as suas exportações para os EUA. Notícias que afectam a confiança dos investidores em relação a um reequilíbrio do mercado. E, nem a decisão anunciada em Maio, de prolongar os cortes por mais nove meses (até Março de 2018) tem contido a desconfiança.
Ainda na semana passada, a Agência Internacional de Energia (AIE) revelou que a nova produção por parte de concorrentes da OPEP será mais do que suficiente para atender à procura no próximo ano, o que "esmaga" os esforços do cartel de fazer diminuir a oferta e, deste modo, levar a uma subida das cotações.
As preocupações em torno da oferta têm sido, assim, mais fortes do que as expectativas de recuperação da procura, nomeadamente num momento em que se aproxima o arranque da "driving season" nos EUA, época no Verão em que os automobilistas usam mais os seus carros para irem de férias.
"O futuro pode ser brilhante para os preços do petróleo mas o presente não é", defendeu Tamas Varga, ao Financial Times. O especialista da corretora PVM frisou ainda que qualquer recuperação imediata dos preços da matéria-prima não passa de um "desejo".
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