"Shutdown" nos EUA mexe com os mercados: Bolsas europeias divididas, ouro é refúgio
Bolsas europeias entre avanços e recuos com investidores atentos ao “shutdown” nos EUA
As principais bolsas europeias seguem mistas esta quarta-feira, com ganhos no setor da saúde a compensarem a pressão de outros setores, num contexto em que os investidores monitorizam os impactos do “shutdown” do governo norte-americano e aguardam novos dados económicos.
O índice Stoxx 600 avança 0,19% para 559,25 pontos, sustentado pelo desempenho das farmacêuticas e do setor das “utilities”. Em Londres, o FTSE 100 soma 0,37% para 9.385,33 pontos, renovando máximos históricos com a ajuda da GlaxoSmithKline e da AstraZeneca, segundo a Bloomberg. Em Lisboa, o PSI-20 sobe 0,12% para 7.967,43 pontos, destacando-se entre as maiores valorizações.
Já Frankfurt e Paris recuam: o DAX perde 0,27% para 23.815,85 pontos, enquanto o CAC-40 desce 0,21% para 7.879,14 pontos. Em Milão, o FTSE MIB recua 0,27% para 42.611,49 pontos, e em Amesterdão o AEX desce 0,11% para 941,78 pontos. Madrid também segue em terreno negativo, com o IBEX a ceder 0,40% para 15.413,80 pontos.
Setorialmente, os maiores ganhos vão para os media (+0,59%), petróleo e gás (+0,49%), “utilities” (+0,33%) e para o setor automóvel (+0,33%). Já nas quedas, a tecnologia é quem mais recua, com uma descida de 0,60%, seguida dos industriais (-0,53%), imobiliário (-0,49%) e retalho (-0,41%).
O setor da saúde (+2,7%) lidera os ganhos após a Pfizer chegar a acordo com a administração norte-americana para cortar preços de medicamentos, medida que impulsionou as ações da Roche (+4,5%), AstraZeneca (+3,6%) e Novartis (+2,8%).
Apesar da cautela com os EUA, a Bloomberg nota que o Stoxx 600 encerrou setembro com o melhor desempenho mensal em seis anos e que a sazonalidade tende a favorecer ganhos no último trimestre.
Dólar estende quedas com “shutdown” nos EUA. Euro e libra somam
A divisa norte-americana volta a cair esta quarta-feira, com o “shutdown” governamental a ameaçar atrasar a divulgação de importantes relatórios económicos usados para avaliar a trajectória de corte de taxas da Reserva Federal.
A esta hora, o índice do dólar DXY - que acompanha o desempenho da moeda face a um cabaz de divisas - cai 0,15% para 97,622 pontos.
"O shutdown do Governo Federal dos EUA adiciona pressão a um mercado de trabalho que já mostra motivação suficiente para um corte de taxas, apesar da inflação, o que é uma pobre combinação para o dólar", disse Sean Callow, analista sénior na In Touch Capital Markets, citado pela Bloomberg.
Entre as principais moedas, o euro avança 0,03% para 1,1760 dólares, enquanto a libra esterlina sobe 0,02% para 1,3470 dólares. Face ao iene japonês, o dólar segue pouco alterado nos 147,96 ienes.
Ouro renova máximos históricos com “shutdown” nos EUA
O ouro volta a disparar esta quarta-feira, atingindo um novo recorde histórico, impulsionado pela procura de ativos de refúgio após o início do “shutdown” do governo norte-americano e sinais de arrefecimento no mercado de trabalho dos EUA.
A esta hora, o ouro avança 0,40% para 3.874,53 dólares por onça, depois de ter tocado um novo máximo de sempre, de 3.875,53 dólares por onça. A prata segue em alta de 1,59%, para 47,38 dólares, também em máximos de mais de 14 anos, enquanto a platina soma 0,58% para 1.584,90 dólares.
O fecho parcial do governo em Washington e a incerteza política reforçaram a procura por ativos de refúgio. “O ouro beneficia de preocupações com um dólar mais fraco, o impasse político nos EUA e a incerteza geopolítica”, afirma Nicholas Frappell, da ABC Refinery, citado pela Reuters, sublinhando que os preços podem avançar acima dos 3.900 dólares, com probabilidade chegar aos 4.000 dólares.
A suspensão das operações federais ameaça atrasar a divulgação de indicadores cruciais, incluindo o relatório de emprego de setembro. O ouro já valorizou mais de 47% desde o início do ano, a caminho do maior ganho anual desde 1979, suportado por cortes de juros da Fed, compras de bancos centrais e fortes entradas em fundos cotados de ouro.
A incerteza sobre a política monetária norte-americana também mantém os investidores atentos. Enquanto alguns dirigentes da Fed sinalizam cortes adicionais de juros devido ao enfraquecimento do mercado laboral, outros defendem cautela perante a inflação ainda acima da meta.
Petróleo recupera de quedas, mas OPEP+ e “shutdown” nos EUA mantêm pressão
Os preços do petróleo estabilizam esta quarta-feira, depois de duas sessões consecutivas de fortes quedas, à medida que os investidores acompanham as discussões da OPEP+ sobre possíveis aumentos de produção e os impactos do “shutdown” do governo norte-americano.
A esta hora, o West Texas Intermediate (WTI), referência americana, avança 0,64% para 62,77 dólares por barril, enquanto o Brent, referência europeia, soma 0,62% para 66,44 dólares.
Na segunda e na terça-feira, tanto o Brent como o WTI registaram perdas acumuladas de cerca de 5%, a maior queda em dois dias desde agosto. O movimento reflete, segundo analistas, as perspetivas de maior oferta por parte da OPEP+.
O cartel e os seus aliados poderão discutir em novembro um aumento de até 500 mil barris por dia, o triplo da subida decidida para outubro. No entanto, a própria OPEP afirmou numa publicação na rede social X que os relatos sobre esse aumento eram “enganadores”.
Do lado da procura, os receios mantêm-se. O “shutdown” nos EUA, que paralisou parte das atividades governamentais, trouxe incerteza quanto ao impacto na economia e no consumo de energia. “O ‘shutdown’ adiciona ruído, sobretudo se atrasar a divulgação de dados, mas não altera a matemática de curto prazo de barris abundantes”, afirmou Charu Chanana, estratega-chefe da Saxo Markets, à Bloomberg.
Os investidores também analisam os últimos dados sobre inventários norte-americanos. O American Petroleum Institute estimou uma queda de 3,67 milhões de barris nos stocks de crude, mas, ao mesmo tempo, um aumento de 1,3 milhões nos de gasolina e de 3 milhões nos destilados. Para Sugandha Sachdeva, da SS WealthStreet, a desaceleração no ritmo de redução das reservas “tem limitado o otimismo dos investidores”.
Já na Ásia, os sinais de enfraquecimento industrial, especialmente na China, reforçam os receios de procura mais fraca, apesar da acumulação de reservas de crude por Pequim nos últimos meses.
Ásia fecha dividida com "shutdown" nos EUA a pesar sobre investidores
Os índices asiáticos fecharam com uma maioria de perdas, depois de o “shutdown” da Administração Federal dos EUA ter marcado a negociação pela negativa, num dia em que os mercados chineses, por força de feriados no país, não negociaram. Pela Europa, os futuros do Eurostoxx 50 seguem praticamente inalterados. E entre as cotadas, as empresas fornecedoras da Nike ganharam terreno após a apresentação de contas da gigante do vestuário desportivo.
Entre os principais índices da região, pelo Japão, o Nikkei desvalorizou 0,78% e o Topix cedeu 1,38%. Já o sul-coreano Kospi subiu 0,96%.
Pela China, iniciou-se hoje a Semana Dourada, que vai fechar as bolsas do país de 1 a 8 de outubro para assinalar o Dia Nacional da China - é o período mais longo de encerramento dos mercados a nível global.
O Governo dos EUA entrou em paralisação depois de os democratas e republicanos não terem chegado a acordo para um plano fiscal. O foco dos investidores está centrado neste fator – que pesou sobre a negociação nos EUA e agora também pela Ásia –, que obscurece as perspetivas para a maior economia do mundo e ameaça atrasar relatórios económicos importantes usados para avaliar o rumo das taxas de juros no país.
A incerteza adicional surge num momento em que o S&P 500 – o índice de referência norte-americano -, registou o melhor mês de setembro em mais de 15 anos, impulsionado pelo otimismo em relação à inteligência artificial e às taxas diretoras mais baixas.
Nesta linha, “a situação pode ficar feia se a paralisação criar um vácuo de informações sobre empregos e dados de inflação antes da próxima decisão da Fed sobre as taxas”, disse à Bloomberg Michael Bailey, da FBB Capital Partners.
Pelo Japão, o setor da banca foi negativamente impactado pelas notícias da paralisação da Administração Federal dos EUA, com o Mizuho Financial Group, por exemplo, a perder quase 4%.
Das 1.673 ações do índice Topix, 113 subiram e 1.547 caíram, enquanto 13 permaneceram inalteradas, segundo dados da agência de notícias financeiras.
Noutros movimentos de mercado, algumas fornecedoras da Nike registaram ganhos na Ásia depois de a maior empresa de roupa desportiva do mundo ter divulgado receitas no primeiro trimestre que superaram a estimativa média dos analistas. A Feng Tay Enterprise (+7,32%), a Taiwan Paiho (+1,29%) ou a India’s Sarla Performance Fibers (+1,24%) são disso exemplo.
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