Portugal será o primeiro a bater nos limites do BCE
Portugal é um dos países em que o Eurosistema tem sido mais comedido no programa de compras do sector público, devido à escassez de títulos que cumpram os critérios definidos pelo BCE. E, segundo a Pictet, a dívida portuguesa será a primeira a atingir os limites definidos pelo banco central. A estimativa é que isso aconteça no próximo Verão, assumindo já compras inferiores à da meta indicativa do BCE.
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"A nossa melhor estimativa é que o limite de 33% por emitente imposto nas compras de obrigações governamentais será provavelmente um duro constrangimento no Verão de 2017, ou alguns meses depois se Portugal emitir mais obrigações que o previsto", refere Frederik Ducrozet, numa nota a investidores a que o Negócios teve acesso. O economista-chefe da Pictet para a Europa estima mesmo que Portugal seja o primeiro a atingir os limites impostos pelo BCE, seguido pela Irlanda e pela Eslovénia.
Na última reunião, o banco central liderado por Mario Draghi não flexibilizou a regra do limite de 33% por emitente e por linha, contrariamente ao antecipado por alguns analistas. E Frederik Ducrozet não tem dúvidas, "além das preocupações sobre a retirada dos estímulos, a escolha de instrumentos por parte do BCE para mitigar a escassez de títulos é negativa para a periferia".
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Apesar de não ter flexibilizado os limites por emitente, o BCE deixou cair a regra de não poder comprar títulos com "yield" abaixo da taxa de depósitos (-0,40%), medida que resolve o problema de haver poucas obrigações germânicas para comprar.
E no mercado a diferenciação entre as obrigações alemãs e portuguesas intensificou-se após a reunião do BCE. O diferencial entre as taxas dos dois países alargou de 316 pontos base, para 351 pontos base, desde a reunião da instituição, no passado dia 8 de Dezembro. Nos últimos dois anos, a média dessa diferença é de 246 pontos base, segundo os dados da Bloomberg.
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Compras bem abaixo da chave de capital
Uma das indicações dadas pelo BCE é de que o ritmo das compras mensais deve corresponder à participação que cada país tem no capital do banco central. Mas, no caso português é onde se registam maiores desvios abaixo daquela referência.
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"As compras de obrigações portuguesas têm sido mais baixas que a ‘meta’ mensal implícita pelas chaves de capital desde Abril de 2016. Este desvio aumentou desde Julho, para uma média de 450 milhões, 30% a 40% da meta teórica", considera Frederik Ducrozet. E se o peso do BCE nas compras mensais de dívida portuguesa já é mais baixo, os receios dos analistas é que esse efeito se desvaneça mais.
O Commerzbank, por exemplo, estima, numa nota a investidores, que "para salvaguardar a implementação [do programa em Portugal], seria necessário uma redução de 50% do ritmo das compras mensais, contingente a que o IGCP atinja a meta de emissões de 17,5 mil milhões de euros". Também o Société Générale previa que para manter as compras de dívida nacional até final de 2017, o montante mensal poderia ser reduzido dos actuais mil milhões de euros para menos de 500 milhões.
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