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BCE aceita "junk bonds" como garantia de empréstimos

A instituição liderada por Christine Lagarde vai aceitar, até setembro do próximo ano, ativos com notação de categoria de investimento especulativo como garantia.

Christine Lagarde, BCE
Christine Lagarde, BCE EPA
22 de Abril de 2020 às 20:00

O Banco Central Europeu anunciou que vai "patrocinar até setembro de 2021 a elegibilidade de ativos negociáveis usados como garantia nas operações de crédito do Eurosistema que não cumpram os atuais requisitos mínimos de qualidade", avançou a Bloomberg citando o comunicado da instituição – que esteve reunida em videoconferência.

Ou seja, o BCE vai passar a aceitar "junk bonds" – obrigações com rating de categoria de investimento especulativo – como colateral (garantia).

O banco central diz que estas medidas se destinam a mitigar o impacto de possíveis cortes de rating das garantias disponíveis.

Em maio a instituição liderada por Christine Lagarde poderá decidir medidas adicionais, se necessário, de modo a continuar a assegurar uma transmissão suave da sua política monetária em todas as jurisdições da Zona Euro.

Ainda de acordo com o comunicado, serão aplicáveis "haircuts apropriados" aos ativos que não cumprem as exigências mínimas de qualidade da dívida.

Esta decisão, sublinha o BCE, vem complementar o pacote de medidas anunciado a 7 de abril de flexibilização das garantias necessárias para empréstimos – quando disse passara aceitar garantias de menor qualidade para conceder crédito.

Ontem à noite a Bloomberg tinha já referido que a reunião do BCE teria como intenção lidar com os receios de que algumas obrigações soberanas e corporativas possam em breve ver a sua notação cortada para o patamar de "lixo" devido ao custo do combate à pandemia de covid-19.

A Standard & Poor’s tem agendada para esta sexta-feira uma potencial avaliação da dívida soberana de Itália, à qual atribui atualmente uma classificação de dois níveis acima de "junk" – ou seja, no penúltimo grau do patamar de investimento de qualidade.

"Um ‘downgrade’ para a zona de investimento especulativo poderia ser um passo rumo à potencial exclusão da terceira maior economia do euro dos programas de compra de ativos no âmbito do refinanciamento do BCE, precipitando uma crise", sublinhou a agência.

Os ratings são uma preocupação crescente nos mercados, num momento em que os "lockdowns" – mais de meio mundo está confinado em casa – abrem caminho à maior recessão das últimas décadas.

Embora as atuais regras do BCE ditem que Itália teria que ser simultaneamente cortada para "lixo" por parte da S&P, Moody’s, Fitch e DBRS para ser excluída das suas operações de refinanciamento, a perpetiva de "downgrades" está a enervar os investidores.

Em maio, será a vez de a Moody’s se pronunciar sobre a dívida transalpina mas qualquer agência pode decidir antecipar-se face à data agendada – o que, por exemplo, aconteceu com Portugal na passada sexta-feira, quando a Fitch decidiu antecipar-se ao calendário e cortar a perspetiva da dívida da República (quando a data prevista para uma eventual decisão era 22 de maio).

No passado dia 18 de março, o Banco Central Europeu anunciou um programa de compra de ativos do setor público e privado, no valor de 750 mil milhões de euros, destinado a estimular as economias bastante castigadas pela covid-19.

No comunicado emitido nesse dia, o BCE disse que as compras decorrerão até ao final de 2020 e incluirão todas as classes de ativos elegíveis no âmbito do atual programa de compra de ativos.

Uma novidade apontada foi que a dívida soberana da Grécia será considerada neste programa de compra, bem como papel comercial de empresas não financeiras – mas desde que com qualidade de crédito suficiente para serem elegíveis, adiantou então o banco central liderado por Christine Lagarde. Agora, elegibilidade de "junk bonds" como garantia poderá trazer um alívio aos países e empresas com maiores fragilidades.

O corte de uma notação soberana normalmente desencadeia o mesmo movimento nas obrigações corporativas e no papel comercial – que o BCE também compra e aceita como colateral.

(notícia atualizada às 20:12)

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