Moody’s surpreende e mantém rating de Portugal em A3 com outlook estável
A decisão da agência de rating vai contra as previsões dos analistas, sendo a única que não elevou a notação da dívida soberana nacional este ano. O ainda elevado peso da dívida pública e as pressões de despesa a médio prazo terão contribuído para a decisão, que mantém a avaliação mais pessimista entre as principais agências.
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A Moody's manteve esta sexta-feira o rating de Portugal em A3 e o outlook estável, anunciou a agência em comunicado, ao contrário do que era esperado pelos analistas. Foi a última das principais agências a pronunciar-se sobre a dívida portuguesa este ano e também a única que não elevou o rating de Portugal em 2025.
A agência já não altera a notação de Portugal desde novembro de 2023, quando elevou o rating para o patamar de A, e é a mais pessimista entre os ratings das quatro principais agências: S&P (que atribui uma notação de A+), Fitch (A) e DBRS (A elevado).
A Moodys manteve a classificação da dívida no sétimo patamar mais elevado, enquanto a S&P e a DBRS classificam a dívida da República no quinto patamar mais elevado, ao passo que a Fitch a coloca no sexto nível. As restantes três agências também atribuem a Portugal uma perspetiva estável.
A decisão da Moody's surge depois de quatro aumentos da notação este ano, com a DBRS a subir a notação a 17 de janeiro, a Standard & Poor’s a 28 de fevereiro e novamente a 29 de agosto, e a Fitch a 12 de setembro.
Nos argumentos para a decisão desta sexta-feira, a reafirmação do rating de Portugal reflete “a competitividade e economia diversificada do país, assim como os elevados padrões de dívida”, com uma "elevada robustez institucional e governativa", diz a agência.
Contudo, o rating de A3 “também tem em conta o elevado peso da dívida e a robusta capacidade de pagamento da dívida, embora ambos sejam mais fracos quando comparados com soberanos avaliados de forma semelhante, apesar das melhorias orçamentais e da dívida nos últimos anos”, justifica a agência.
A agência fala num "enfraquecimento moderado" dos indicadores de capacidade de pagamento da dívida, "com os pagamentos de juros face à receita a crescerem para uma média de 5% em 2025-26 face a 4,8% em 2024", acima da média dos países avaliados com A3 de 3,4%.
Já o outlook estável reflete que “os riscos para o perfil de crédito e para o rating de A3 de Portugal estão equilibrados”, diz a Moody’s.
“Embora a incerteza política tenha aumentado nos últimos anos, com repetidas eleições antecipadas e fragmentação parlamentar, tornando a aplicação de políticas mais complexas, esperamos que estas mudanças na política doméstica não alterem significativamente o nosso Outlook de um robusto crescimento económico de cerca de 2% e uma redução contínua do peso da dívida pública ao longo do período em analise”, acrescenta a Moodys.
A agência espera que Portugal mantenha um crescimento de cerca de 2%, anualmente até 2027, “impulsionado pela procura doméstica e pelos fundos da UE”. Contudo, a tendência de crescimento vai abrandar para cerca de 1% na década seguinte, com a “imigração, a crescente participação na força laboral e o aumento das qualificações laborais a compensar parcialmente o impacto negativo das tendências demográficas adversas”.
No seguimento desta situação, alerta a agência, “as pressões de despesa vão aumentar devido aos custos relacionados com a idade, as exigências para aumentar os salários do setor público e a necessidade de aumentar os gastos da defesa para a o objetivo de 5% da NATO”.
A decisão da Moody's - a primeira a colocar Portugal no "lixo" e a última a retirar a dívida de nível especulativo - vai em sentido contrário ao das projeções adiantadas pelos analistas ouvidos pelo Negócios, que previam pelo menos uma subida do outlook para positivo.
O analista-chefe do Danske Bank, Jens Peter Sørensen, perspetivava um “upgrade” da classificação da dívida pública, que deveria "ter um impacto positivo no preço das obrigações soberanas de Portugal”. O que, consequentemente, faria baixar mais os juros da dívida – que, no vencimento a 10 anos, negociaram nos 3,058% na sexta-feira.
“Aqui, o foco está no plano de financiamento para 2026. Dado que Portugal é um dos emissores de menor dimensão, é provável que a atual redução do ‘spread’ [face às obrigações soberanas de outros países] continue também em 2026”, apontava ao Negócios o estratega do banco dinamarquês.
Sørensen sublinhava ainda que o Danske Bank já reformulou os membros daquela que é agora vista como a “antiga periferia”, dado que os países que faziam parte desse grupo – como Portugal – são agora o novo “semi-core”.
*Com Carla Pedro
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