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Banca europeia entre a hiperpersonalização e a segurança

A banca vive um paradoxo, antecipa comportamentos com inteligência artificial, mas continua lenta na execução. A disrupção tecnológica exige novas respostas, entre a inovação, a segurança e a regulação.

11 de Novembro de 2025 às 15:30
Nuno Sousa destacou as diferenças entre a capacidade preditiva da banca e a sua execução operacional, defendendo uma cultura de segurança e colaboração como vantagem competitiva.
Nuno Sousa destacou as diferenças entre a capacidade preditiva da banca e a sua execução operacional, defendendo uma cultura de segurança e colaboração como vantagem competitiva. Mariline Alves
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Nuno Sousa destacou as diferenças entre a capacidade preditiva da banca e a sua execução operacional, defendendo uma cultura de segurança e colaboração como vantagem competitiva.

“O banco consegue antecipar uma compra de um produto ou mesmo antecipar quando vamos tomar café antes de sairmos de casa, mas, quando utilizamos alguns serviços, como uma transferência internacional, esta pode demorar até três dias”, disse Nuno Sousa, diretor de Financial Services & Insurance da Claranet Portugal, keynote speaker na talk “Liderança Tecnológica na Era da Disrupção: Como Navegar entre Inovação, Regulação e Crescimento Sustentável”.

Este fosso entre as capacidades preditivas e a execução operacional revela os tempos interessantes que se vivem, repletos de desafios e paradoxos, como foi patente na sua intervenção com o tema “Da Hiperpersonalização à Hiper-segurança: As Tendências Tecnológicas do Futuro dos Serviços Financeiros”.

A personalização em larga escala não surge do vazio nem é possível sem fundações sólidas. “A hiperpersonalização não é possível sem um ecossistema de dados preparado”, alertou Nuno Sousa, sublinhando que “o back-end será sempre necessário” e a importância de “preparar infraestruturas com capacidade, seja em cloud, seja em edge, seja localmente ou em ambientes híbridos”.

Este ecossistema de dados assenta em dois pilares fundamentais que não podem ser esquecidos. O primeiro é o open banking, que permite “uma partilha segura de dados” e possibilita a integração com a inovação de diversos parceiros. O segundo é a chamada API Economy, que abre portas a “parcerias estratégicas, como, por exemplo, com startups que têm um ecossistema interessante e cujos produtos e serviços podemos explorar”, considera Nuno Sousa. Mas as aplicações tradicionais dos bancos, que constituem o front-end, enfrentam agora o desafio de evoluir para super-apps, não podendo deixar de se comparar com o modelo asiático.

Super-apps

O modelo asiático apresenta aplicações como o Alibaba, o Alipay ou o Telegram, que nasceram com um propósito específico e cresceram como aplicações financeiras. Perante este cenário, segundo Nuno Sousa, a banca tradicional pode criar de raiz uma super-app, mas existe um alto risco. “Pode integrar numa visão mais pragmática com outros parceiros tendo algumas vantagens. E pode também competir através da identificação de nichos de mercado.”

Nuno Sousa salientou que na Europa “não existem muitos bancos com super-apps”, o que se pode dever a questões de regulação, concorrência ou sistemas legacy. Este é um ponto nevrálgico da inovação bancária europeia e das barreiras que podem estar a impedir uma transformação mais acelerada do setor.

Os investimentos em pessoas serão a verdadeira vantagem competitiva numa era em que a tecnologia evolui mais depressa do que as organizações. Nuno Sousa, Diretor da Financial Services & Insurance da Claranet Portugal

Esta evolução tecnológica não está isenta de custos nem de riscos. Como alerta Nuno Sousa, “existem cada vez mais vetores de ataque, como são, por exemplo, a engenharia social com inteligência artificial. Os deepfakes são uma realidade. O voice cloning é, cada vez mais, presente. E o ransomware direcionado, mediante ataques específicos e críticos”. Para além destes riscos, existe também “a manipulação da identidade e ataques específicos também à supply chain”, ou seja, ataques dirigidos a todos os fornecedores da própria banca.

Computação quântica

Nuno Sousa abordou também a computação quântica, que considerou crucial. “Com a velocidade atual dos desenvolvimentos tecnológicos, a computação quântica será uma realidade.” Em 2025 “usamos o que podemos chamar de criptografia tradicional mas, possivelmente, em 2030, a computação quântica será um tema” que, no seu entender, pode gerar uma necessidade de, em 2035, fazer uma migração quase obrigatória para encriptação quântica.

Apesar destes desafios, houve uma resposta europeia através da regulamentação com o Digital Operational Resilience Act, um regulamento que defende “um princípio de resiliência” e que estabelece “algumas obrigações críticas, tendo em conta um impacto estratégico, nomeadamente a mobilização europeia. Tem também a resiliência como uma vantagem competitiva e promove mais colaboração no setor”.

A banca tem de se preocupar com o security by design, com práticas culturais e operacionais que integrem a segurança no próprio desenvolvimento, com aquilo a que tecnicamente se chama DevSecOps (desenvolvimento, segurança e operações,) com a encriptação quântica e com o edge computing.”

Três cenários para 2030

Considerando os cenários possíveis para o futuro em 2030, Nuno Sousa identifica três trajetórias distintas para o setor bancário. O primeiro é um cenário tipicamente conservador, que tem “uma evolução, possivelmente uma probabilidade de 60%, que será uma evolução incremental, onde os bancos tradicionais se adaptam gradualmente às novas exigências do mercado, com inovação controlada e medida”, embora corra o risco “de perder alguns clientes específicos de nichos de mercado, como no investimento, ou também em algumas áreas específicas como serviços financeiros.”

O segundo cenário, considerado provável “à volta de 20%”, é o da banca colaborativa, onde se desenvolveriam “parcerias estratégicas entre Big Tech e FinTech” e se criariam “ecossistemas integrados de serviços com regulação coordenada.”

Por fim, existe uma visão mais disruptiva, “que podemos chamar de bancos invisíveis”, onde existiriam “serviços financeiros totalmente integrado no quotidiano, uma experiência omnipresente em vários formatos”. Como exemplo desta experiência omnipresente e simplificada, Nuno Sousa recorda o caso do WeChat, “que tem uma experiência muito, muito simples.”

| Cenário Conservador (60% de probabilidade)

“Evolução incremental, onde os bancos tradicionais se adaptam gradualmente às novas exigências do mercado, com inovação controlada e medida”, e com risco de perder clientes em nichos específicos.

| Banca Colaborativa (20% de probabilidade)

Desenvolvimento de “parcerias técnicas entre Big Tech e FinTech” e criação de “ecossistemas integrados de serviços”.

| Bancos Invisíveis (cenário disruptivo)

“Serviços financeiros totalmente integrados no nosso quotidiano, com uma experiência omnipresente”, citando o WeChat como referência.

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