O fenómeno das fintechs evoluiu muito nos últimos anos. Quando o termo se começou a popularizar, em 2011, “eram duas pistas totalmente separadas de attackers, muito concentrados em empresas B2C, que vinham para acabar com a banca em algum tempo”, começou por explicar Afonso Eça, administrador executivo do BPI, no debate “Liderança Tecnológica na Era da Disrupção: Como Navegar entre Inovação, Regulação e Crescimento Sustentável”.
Com o tempo, a maioria destas fintechs mais B2C ajustou-se às legislações existentes. “Quando falamos de instituições financeiras, não existem só bancos. Há instituições de crédito, de pagamentos, Virtual Asset Service Providers (VASP) e um sem-número de figuras. É muito difícil um operador fintech estar a operar sem estar enquadrado nas regras do jogo”, considerou Afonso Eça, que passou por uma fintech, a Raize.
Hoje, como administrador do BPI, reconheceu que “a mesma atividade deve ser regulada da mesma forma para toda a gente. Os serviços de pagamentos devem ser tratados de igual forma, independentemente de quem os esteja a fazer.”
Para António Henriques, CEO do Bison Bank, existe complementaridade entre as fintechs e os bancos, mas reconheceu as vantagens competitivas das fintechs. “A característica mais tecnológica é a capacidade de inovar. Eu diria que ninguém vai conseguir bater as fintechs. Os bancos têm de entender isso, é impossível. O core business de um banco não é desenvolver aplicações informáticas, nem pensar a experiência do cliente, isso é o core de uma fintech”, explicou.
Ser relevante para os clientes
Quando confrontado com a entrada da Revolut no crédito à habitação em Portugal, Afonso Eça manteve uma postura pragmática. “Vai ter um efeito num mercado que já é altamente competitivo, em que temos mais de uma dezena de bancos em Portugal a fazer esse produto.” O administrador do BPI enquadrou esta entrada num contexto mais amplo. “É mais um concorrente, e é bom para o cliente. Obriga-nos a continuar a inovar e a pensar como somos relevantes para os clientes, porque essa é a variável-chave aqui.” Afonso Eça entende que um banco não terá “nenhum problema de sobrevivência enquanto for relevante para os clientes. O problema não é a existência de outros concorrentes, é quando o meu cliente deixa de me ver como relevante e está disponível para ouvir ofertas de outros concorrentes. O que nos obriga a estar atentos e a ser exigentes connosco próprios nos produtos que entregamos e nos serviços que prestamos.”
António Henriques trouxe uma perspetiva importante sobre a evolução da Revolut. “O Revolut já não é bem uma fintech, é um banco de retalho. Mas, ainda assim, acho que os bancos mais tradicionais têm de estar preocupados com bancos como o Revolut.” E explicou as vantagens competitivas que a Revolut obteve pelo facto de ser uma fintech. E concluiu que “o futuro vai acontecer, mesmo sem entendimento entre bancos e fintechs.”