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Menos balcões, mais tecnologia e proximidade: os clientes estão a mudar a banca

A banca está a atravessar uma transformação que ultrapassa a tecnologia e redefine a relação com os clientes. Os balcões, durante décadas o coração do contacto presencial, estão a perder relevância num setor cada vez mais digital.

11 de Novembro de 2025 às 15:00
António Henriques, CEO do Biosn Bank
António Henriques, CEO do Biosn Bank Mariline Alves
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António Henriques, CEO do Biosn Bank

“O blockchain pode ser visto como uma base de dados global altamente estruturada”, afirmou António Henriques, CEO do Bison Bank. “Imaginem um motor em blockchain que seria uma base de dados global com dados altamente estruturados. Sabemos que a inteligência artificial pode atuar sobre dados estruturados, mas também atua sobre dados não estruturados. No entanto, o resultado da inteligência artificial é tanto mais acertado quanto mais estruturada for a informação.”

Por isso, a combinação das duas tecnologias, segundo António Henriques, pode ser revolucionária. “Imaginem um mundo em que só tenho blockchain, dados altamente estruturados com uma camada de IA em cima. É um mundo novo. Um mundo que pode resultar em termos um diagnóstico médico dez anos antes de termos um problema, porque a IA tem esta capacidade de antecipar, de observar e de prever.”

António Henriques trouxe um exemplo concreto da relevância prática desta tecnologia através das stablecoins. “Se quiser fazer uma cross-border transfer, uma transferência de Portugal para o Japão em dólares, se calhar demoro seis dias e posso ter, no limite, seis intermediários.” A alternativa com stablecoins é muito mais eficiente. “Com uma stablecoin posso fazer isto peer-to-peer, mantendo o nível de compliance. Esta transformação e esta aceleração não são as fintechs nem os bancos que querem, são os clientes. Não consigo explicar ao cliente que só vai receber o dinheiro sete dias depois”, referiu António Henriques.

Salientou que no Bison Bank são early adopters, mas a banca em geral não é. “Acho que ainda não encontrou a forma de entender o valor que o blockchain traz e, na minha opinião, comete o mesmo erro que cometeu com as fintechs quando a banca achava que eram o inimigo”, adiantou António Henriques.

Se a tecnologia é fundamental, o toque humano é crucial. Precisamos de pessoas que criem empatia e confiança com os clientes. António Henriques, CEO do Biosn Bank

Na opinião de Afonso Eça, administrador do BPI, esta reinvenção do dinheiro vai influenciar a forma como o cliente se vai querer relacionar com os bancos e vai “ter muito impacto no que são os serviços de um banco comercial, para continuar a vender estes serviços às pessoas. Para não falar depois das iniciativas mais descentralizadas, em que já temos alguns clientes a chamarem para si próprios esta responsabilidade.”

António Henriques foi direto sobre a transformação que se avizinha. “Tenho 54 anos, já não vou a uma agência e não uso papel. Portanto, no máximo, a banca de agência muda com a minha geração, no máximo, mas acho que vai mudar antes.” E defende que se a tecnologia é fundamental, o human touch também é crucial. Acrescentou que dentro de dez anos não será preciso ter profissionais altamente qualificados para vender produtos bancários. “Preciso de ter pessoas que criem empatia com os nossos clientes e que mostrem que, se estiverem connosco, estão bem, estão com alguém em quem podem confiar”, concluiu António Henriques.

Afonso Eça sintetizou o desafio central. A banca não vai ser igual ao que é. “Vai ser mais digital. Quem vai ter o poder de mercado será muito mais o cliente do que as instituições que vendem o serviço. Enquanto instituição de retalho, acabamos por ir atrás do que a grande maioria dos clientes exige de uma determinada indústria.”

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