Hoje no mundo existem mais de 450 milhões de diabéticos e a diabetes é a doença mais mortal, com 5 milhões de mortos por ano. Se a mortalidade é elevada, "é relevante pela morbilidade associada de outras doenças e a complicações, como a retinopatia diabética", referiu Marco Dutra Medeiros.
"A nível mundial com base em dados entre 1980 a 2008, a prevalência global de retinopatia diabética foi de 35%, mas o estudo baseia-se em estudos com métodos de inclusão diferentes nos quatro continentes, tanto em idades como na duração da doença. A retinopatia diabética proliferativa, que se não for tratada, leva à cegueira, tem uma prevalência total de 7% e o edema ocular diabético de 6,8%", referiu Marco Medeiros.
Em relação a Portugal, Marco Dutra Medeiros citou vários estudos como o Retinodiab, que liderou e foi publicado em 2015, e apresentava uma prevalência de 16,3% ao nível de retinopatia diabética global. Um outro estudo feito no âmbito da APDP chegava-se a uma prevalência em torno dos 20%. Nas previsões do GER - Grupo de Estudos da Retina, a prevalência cifra-se em torno dos 25%.
Médico oftalmologista no Centro Hospitalar de Lisboa Central e professor na NOVA Medical School
O estudo da Retinodiab juntou a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) e a Faculdade de Ciências Médicas, para aferir a prevalência da retinopatia diabética em Lisboa e Vale do Tejo.
Foi feito a partir de 103 mil retinografias feitas entre 2009 e outubro de 2014, que correspondem a cerca de 53 mil pessoas rastreadas através do programa de rastreio da retinopatia diabética implementado pela APDP desde 2008, tendo sido validadas 96 mil retinografias, "o que demonstra a qualidade do rastreio", refere Marco Dutra Medeiros. A retinopatia diabética foi referenciada em 6,1% das pessoas, que "foram a uma consulta da especialidade no hospital central".
Foi feito um estudo de incidência de progressão, nesse mesmo rastreio, que envolveu 110 mil retinografias validadas de 57 mil doentes. A incidência cumulativa começou em 4,6% e, no final de cinco anos, era de 15%. "É uma patologia que, de ano para ano, aumenta de risco de agravamento, por isso os doentes têm de estar sensibilizados para a doença e para o rastreio", concluiu Marco Dutra Medeiros.
O Reino Unido começou, nos anos 60, a fazer o rastreio da retinopatia diabética de forma nacional e transversal. Um estudo comparou os biénios 1990-2000 e 2009-10 e conclui que, no segundo biénio, pela primeira vez, a retinopatia diabética não foi a primeira causa para o atestado de incapacidade para cegueira visual em idade activa em Inglaterra e País de Gales, 40 anos depois do rastreio. "As políticas públicas ao nível da diabetes e da retinopatia diabética não têm resultados imediatos, mas a médio e longo prazo", conclui Marco Medeiros.