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A energia é uma vantagem competitiva de Portugal

António Coutinho frisou que a autonomia estratégica na energia tem hoje uma importância maior, sobretudo quando se trata de renováveis, como acontece com Portugal. Salientou a importância da convergência entre indústria e energia.

15:31
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Portugal pode transformar as necessidades europeias em oportunidades e tem capacidade para fazer parte da solução dos problemas europeus porque possui vantagens competitivas na área da energia, referiu João Rui Sousa, secretário de Estado da Economia. António Coutinho, presidente da Associação Portuguesa de Energia, salientou ainda que, pela primeira vez na história, Portugal tem fontes de energia competitivas, como são as energias renováveis.

Mas, quando se cruzam as energias com as metas de descarbonização e da neutralidade carbónica da indústria, estes cenários são possíveis, mas tornam-se menos atrativos. Como afirmou Mário Jorge Machado, presidente da ATP (Associação Têxtil e Vestuário de Portugal), as políticas europeias permitem que produtos fabricados sem cumprirem as regras europeias concorram com os das indústrias instaladas na Europa. “Os consumidores, quando consomem, escolhem pelo preço e com isso estão a liquidar a sua indústria.”

Por sua vez, Ana Quelhas, EVP H2 & Data Centers, EDP-R, assinalou que as renováveis são, em termos grossistas, mais competitivas, mas não se pode derivar daí a competitividade da indústria. Adiantou que o vetor eletricidade devia ser privilegiado enquanto instrumento de política industrial, mas “acaba por ser um instrumento penalizador com componentes que não têm a ver com a energia”.

António Coutinho frisou ainda que a autonomia estratégica na energia tem hoje uma importância maior, sobretudo quando se trata de renováveis, como acontece com Portugal. Salientou também a importância da convergência entre indústria e energia. Face aos desafios demográficos, com o acentuado envelhecimento da população portuguesa e europeia, António Coutinho e João Rui Ferreira referiram a produtividade como um imperativo moral para manter o Estado social e os valores europeus.

Salto de produtividade

André Anacleto, partner da McKinsey, apresentou o plano Energia para Crescer Portugal 2026-2040, que traça uma estratégia de crescimento industrial através do aproveitamento das vantagens das energias renováveis. Referiu que a produtividade é crucial neste propósito, mas a intensidade laboral tem os seus limites, até por fatores demográficos. Contudo, este salto de produtividade pode ser alcançado através da inteligência artificial, com impacto de 20 vezes superior ao atual. Salientou ainda que 30 empresas líderes geram 50% do crescimento do produto e que, com mais oito empresas a contribuir, Portugal estaria a crescer ao mesmo ritmo que os Estados Unidos.

A primeira mesa redonda, com o tema “Oportunidades da Indústria Existente”, mostrou que as indústrias eletrointensivas têm mais custos energéticos do que os seus concorrentes europeus. Além disso, “um cliente eletrointensivo é muito mais eficiente para o sistema, o que não se reflete no sistema”, referiu Nuno Santos, administrador da The Navigator.

Jorge Marques dos Santos, presidente do CTCV (Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro), alertou que a eficiência energética é um fator de descarbonização e elimina desperdícios, e chamou a atenção para o facto de as tecnologias não poderem ser substituídas ao ritmo pretendido para a descarbonização.

Tanto Cecília Meireles, secretária-geral da ATIC (Associação Portuguesa de Cimento), como Mário Jorge Machado frisaram que o caminho da descarbonização implica custos de processos porque pode implicar, como no caso da transformação de calcário em clínquer, que os custos se dupliquem ou tripliquem, sem referir o impacto no acesso e na capacidade da rede elétrica. No caso da indústria de acabamentos têxteis de Mário Jorge Machado, a substituição de gás natural por eletricidade faria passar o custo de um milhão de euros para cinco milhões.

Segundo Álvaro Álvarez, administrador-delegado da Megasa, “temos de apostar no autoconsumo e numa regulação que permita a combinação do autoconsumo com a prestação de serviços ao sistema”.

Eletrificação e hidrogénio

Durante a segunda mesa redonda, “Oportunidades da Nova Indústria”, Ana Quelhas revelou que a União Europeia e os países têm uma estratégia para o hidrogénio, mas não têm para a eletrificação, o que mostra que muitas vezes os “entusiasmos fazem perder a noção primordial do real”. Defendeu que o hidrogénio renovável tem um papel em tudo aquilo que não pode ser eletrificável. Por outro lado, considerou que a estratégia industrial e energética em relação ao hidrogénio não deve passar pela exportação, mas pelo desenvolvimento de produto semi-acabado, de forma a atrair mais indústrias e reter maior valor acrescentado.

A Veolia tem negócios na energia, nos resíduos e nas águas, e uma das suas apostas tem sido o biometanol, que, como explicou José Costa Pereira, COO Energia da Veolia, utiliza resíduos. Revelou que até há pouco tempo era mais barato depositar os resíduos nos aterros do que direcioná-los para a produção de energia. Explicou ainda que há várias camadas de custos que têm de ser removidas para tornar o biometanol competitivo. “A legislação não é consistente, tem vários gaps que não permitem que os investimentos sejam feitos. Era só fazer o que se faz na Europa para permitir investir em biometanol”, afirmou.

“A transição energética é fundamental para a Galp, mesmo que a moda hoje seja a competitividade”, disse o Head of H2 & Renewable Fuels da Galp. A empresa tem produção upstream de petróleo e gás natural muito mais descarbonizada do que a média do setor, tem produção de energias renováveis, rede de carregamentos elétricos e biocombustíveis como o HVO e o SAF. Revelou ainda que a refinaria de Sines, onde a Galp investiu 2 mil milhões de euros na última década, representa 40% da energia final consumida em Portugal.

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