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Negócios: Cotações, Mercados, Economia, Empresas

A criação de um Estado virtual europeu

Para contornar a lentidão estrutural das reformas, Luís Cabral propôs uma solução de sistemas próprios de justiça, contratos e fiscalidade virtuais.

11 de Julho de 2025 às 16:00
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Os EUA dominam os registos de patentes desde o século XX, mas durante o século XXI o fosso entre a Europa e os Estados Unidos tem aumentado acentuadamente, afirmou Luís Cabral, economista e professor na New York University, diretor do Departamento de Economia da NYU Stern, e diretor do Instituto de Políticas Públicas da Nova SBE, na sua intervenção “Portugal e a Europa: ameaças e oportunidades”, que realizou na conferência Economia Sem Fronteiras: portugal 2050, organizada pelo canal Now e pelo Negócios.

Citando Mario Draghi, Luís Cabral disse “que as empresas que valem mais de 100 mil milhões de dólares e as que foram criadas nos últimos 50 anos, estão todas nos Estados Unidos, talvez haja uma na China, mas nenhuma é europeia”. Salientou ainda que “a Nvidia e a Microsoft têm um valor de mercado superior ao PIB do Reino Unido”. Para Luís Cabral, se esta diferença se iniciou com o grande êxodo de cérebros da Europa para os Estados Unidos em meados do século XX, hoje há várias possibilidades para explicar esta crise de inovação europeia. Existem várias causas como a ausência de um ecossistema de inovação como o de Silicon Valley, a fragmentação de mercados, a regulação, os custos de contexto, o papel do Estado, a continuação da fuga de cérebros, a burocracia, a fraca capitalização.

Programa de aceleração

Partilhou a sua experiência como membro do Conselho Consultivo no programa Endless Frontier Labs, em Nova Iorque, dedicado a empresas de alta tecnologia. “As startups vêm de todo o mundo, de Israel, Portugal - uma da Universidade de Aveiro -, Europa e muitas dos Estados Unidos, de Boston, de Silicon Valley. É um programa que junta cientistas, mentores, investidores, business angels e alunos de MBA”. É um programa não residencial, no qual as empresas “vêm cinco vezes por ano, sendo acompanhadas para fazer o scale-up”.

Na Europa somos vários países, temos várias línguas, não é tão fácil termos um só mercado. Luís Aguiar-Conraria, Economista e Professor na Universidade do Minho

Para contornar a lentidão estrutural das reformas, Luís Cabral propôs uma solução arrojada, a criação de um “Estado virtual europeu”, o EU28, com sistemas próprios de justiça, contratos e fiscalidade. “Seria temporária, mas seria boa”, defendeu. Reconhecendo as dificuldades práticas, apelou a que não se rejeite a ideia de imediato por representar um “atalho” face à impossibilidade de reformas profundas a curto prazo.“O ótimo é inimigo do bom”.

Há empresas especialistas em captar fundos europeus

“Na Europa somos vários países, temos várias línguas, não é tão fácil termos um só mercado, mesmo que esteja instituído legalmente que exista um mercado único. A verdade é que há várias realidades originais, várias culturas, mas podemos ver isto como uma riqueza”, afirmou Luís Aguiar-Conraria, economista e professor na Universidade do Minho, durante a mesa-redonda com Luís Cabral e moderada por Miguel Frasquilho.

A Europa e Portugal precisam de ligar escala, financiamento e talento e criar um ecossistema que tenha um grau de eficiência e eficácia semelhantes. Luís Cabral, Economista e Diretor do Instituto de Políticas Públicas da Nova SBE

Luís Aguiar-Conraria sublinhou a diversidade. “Temos na Europa, atualmente, países liberais, no sentido de ter um regime fiscal muito simples, com burocracias muito leves, com países quase socialistas, como a França, e países extremamente burocráticos, como o caso de Portugal, da Bélgica e de outros.”

Inverno demográfico

“É uma enorme diversidade que dificulta, de facto, tratar isto como um só mercado”, e concluiu que, nos últimos 20 anos, a Europa “foi-se tornando um monstro burocrático” e que “nunca conseguiremos ser os Estados Unidos da Europa, ou, pelo menos, será difícil”. Luís Cabral salientou que a Europa e Portugal precisam de ligar escala, financiamento e talento e criar um “ecossistema que tenha um grau de eficiência e eficácia semelhantes”.

Luís Aguiar-Conraria alertou para o facto de haver empresas na Europa que se especializaram em captar fundos europeus, em que o “modelo de negócio é captar fundos, já não é responder a mercados, satisfazer os consumidores, procurar investidores, é encontrar e encaixar-se nos vários desafios societais”. O professor da Universidade do Minho referiu ainda a estrutura de população muito mais envelhecida e com taxas de natalidade muito baixas, mas, ao contrário dos Estados Unidos, que “têm imigrações, uma capacidade de atrair imigrantes e imigração jovem, na Europa conseguimos atrair, mas não os queremos”.

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