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A jornada que mudou Portugal

Como o país passou da bancarrota a destino preferencial de investimento internacional em pouco mais de uma década.

16:00
Debate sobre investimento em Portugal por cidadãos globais
Debate sobre investimento em Portugal por cidadãos globais David Cabral Santos
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O debate “A jornada de investimento de Portugal: marcos, impacto e lições aprendidas” contou com a participação de Emanuel Silva, Raúl Marques, Marcello Cavalcanti e Rita Albuquerque. A moderação esteve a cargo de Paulo Moutinho, editor executivo do Jornal de Negócios.

Portugal atravessou uma transformação notável desde a crise financeira que levou ao resgate da troika, em 2011. O período entre 2011 e 2014 foi “bastante complicado”, recordou Emanuel Silva, CEO da IM Gestão de Ativos, sublinhando que a recuperação subsequente tem sido “fantástica”.

Os números revelam a dimensão da recuperação económica portuguesa. A dívida pública, que atingiu 134% do PIB em 2020, deverá cair para 88% em 2025, o nível médio esperado para a zona euro. “É impressionante o caminho que foi feito, não só na redução da dívida, mas também pelo consenso em torno das chamadas contas certas, que parece ter vindo para ficar”, afirmou Raúl Marques, membro do Conselho Executivo da 3XP Global, durante o painel “A jornada de investimento de Portugal: marcos, impacto e lições aprendidas”, integrado na conferência “Portugal Investment by Global Citizens”, organizada pelo Bison Bank e que contou com o Jornal de Negócios como media partner.

Emanuel Silva considera que vários fatores contribuíram para tornar Portugal mais atrativo, começando pelos benefícios fiscais e pelos programas de golden visa. “Criámos uma série de atrativos que levaram os investidores internacionais a olhar para o país de outra forma. Hoje, temos mais de 130 países interessados em Portugal e, em muitos casos, em viver cá.”

Investimento estrangeiro impulsiona crescimento

Nos últimos dez anos, Portugal recebeu cerca de 150 mil milhões de euros em investimento direto estrangeiro (IDE). Deste montante, cerca de 90 mil milhões foram canalizados para o setor imobiliário, 40 mil milhões para energias renováveis e tecnologias, e cerca de 20 mil milhões associados ao programa golden visa. “Oficialmente, o golden visa representou 7 mil milhões, mas se agregarmos o consumo, a compra de casas e outros efeitos, o impacto total ronda os 20 mil milhões”, detalhou Marcello Cavalcanti, Investment Manager da Octonova.

O impacto económico foi significativo. “Estima-se que, graças a este investimento, Portugal registou um aumento anual de produtividade entre 0,3% e 0,6% nos últimos dez anos. O efeito desse FDI no crescimento económico foi de 1,6% a 1,9% por ano, numa economia que em média cresceu 1,9% na última década”, explicou Marcello Cavalcanti.

Apesar de controverso, o programa golden visa foi decisivo. “Foi um dos aspetos marcantes”, reconheceu Raúl Marques. “Só no ano passado, registámos um novo fluxo de IDE de 13,2 mil milhões de euros, um recorde, cinco vezes superior ao valor de 2010. E apenas 25 a 30% desse montante foi para o imobiliário.”

Mercado de capitais ainda subaproveitado

Rita Albuquerque, responsável pelos mercados primários da Euronext Lisbon, destacou o papel dos mercados de capitais. “Hoje, 80% do volume de transações na Euronext Lisbon provém de investidores estrangeiros, o que diz muito sobre o nosso papel.” Ainda assim, admitiu que o mercado continua “subutilizado” e defendeu a necessidade de o tornar mais central na economia portuguesa.

Apesar dos avanços, persistem fragilidades estruturais. O PIB per capita continua entre 80% e 85% da média europeia, sem sinais de convergência acelerada. A produtividade melhorou, mas “evoluiu menos do que antecipávamos”, reconheceu Raúl Marques.

O consenso entre os intervenientes é claro. É preciso reduzir a burocracia, melhorar a justiça económica e aliviar a carga fiscal. “Costumo dizer que o dinheiro é cobarde, se apanha um susto, foge facilmente”, alertou Emanuel Silva.

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