“O segmento residencial é o maior segmento de todos os ativos a nível de volume de transação no mundo. Os investidores na América compram mais imóveis de habitação arrendados, o chamado built-to-rent, do que compram edifícios de escritórios ou ativos comerciais”, referiu Pedro Lencastre, CEO da Dils Portugal, no debate “Portugal Global: Como manter o mundo a olhar para nós”, integrado na conferência “Portugal Investment by Global Citizens”, organizada pelo Bison Bank e que contou com o Jornal de Negócios como media partner. Acrescentou que “há muito espaço, mas em Portugal ainda não há produto, será uma questão de tempo”. Pedro Lencastre traçou um paralelo histórico, “há 20 anos, uma empresa que quisesse ocupar mil metros quadrados de escritórios em Lisboa também não conseguiria arrendar o escritório, tinha de comprar o escritório”.
“Temos muito interesse em investir no setor da habitação, quer no segmento de luxo, quer no da classe média, quer mesmo nesta área chamada affordable housing”, considerou André David Nunes, Chief Investment Officer da Arrow Global Portugal. O gestor admitiu que os obstáculos têm sido significativos. “Andamos há anos a olhar para esta história do built-to-rent, e a verdade é que os números nunca saem, sobretudo quando estamos a olhar para alternativas entre produto para venda e produto para arrendamento. Há temas de IVA a 23% versus IVA a 6%”.
A revolução da tokenização
Rita Torres-Baptista, cofundadora da MAR - Tokenized Real Estate, apresentou uma visão disruptiva para o setor. “A tokenização é a capacidade de representar, em blockchain, a propriedade fracionada de um ativo real, tal como é possível comprar uma ação em bolsa da Nvidia ou da Apple”, explicou.
Sublinhou que “a indústria do real estate até aqui tem estado muitíssimo protegida da disrupção tecnológica. É talvez a última grande indústria, se não a maior, completamente ao abrigo disso”. E defendeu que a tokenização pode “redesenhar uma cadeia de valor de uma maneira diferente, mas com ganho para todos. Ganho para os developers, ganho para os institucionais, ganho para os high net worth individuals, ganho para um mass market que nunca poderia aceder a este valor”.
José Cardoso Botelho, executive director, Real Estate Sector, mostrou-se recetivo. “É interessante do ponto de vista do risco. Abre o mercado a muito mais gente. É bom para o investidor, é bom para o promotor e, eventualmente, até para o coletivo se quisermos ser um pouco mais competitivos". A escassez de mão de obra surge como problema crítico para José Cardoso Botelho, que defendeu como solução “a tecnologia e a industrialização, que é uma outra forma de tecnologia, têm de ser adaptadas com maior velocidade em Portugal. Caso contrário, tudo isto de que estamos aqui a falar não vai acontecer".