“O tema não é como as empresas portuguesas vão apoiar a transição energética, têm de pôr em causa a transição energética. Esta penaliza a indústria e evita a reindustrialização”, afirmou Carlos Moreira da Silva, presidente da Associação Business Roundtable, no painel “Políticas de Suporte para a Reindustrialização”, na Portugal Energy Conference 2025, organizada pela Associação Portuguesa da Energia. Lembrou que “já houve vários setores perdidos de vez para a Europa e outros estão a caminho”.
Na Comissão Europeia e em Bruxelas tem-se a noção de que “se a Europa descarbonizar o mundo, tem o problema do aquecimento global resolvido”, disse António Nogueira Leite, professor catedrático da Nova SBE. Porém, a Europa representa 7% das emissões globais de gases com efeito de estufa e consome 9% da energia primária mundial. António Nogueira Leite sublinhou ainda que a indústria na União Europeia paga uma energia cerca de 2,5 vezes mais cara do que nos Estados Unidos e 2,4 vezes mais do que na China, afetando a competitividade europeia.
Armindo Monteiro, presidente da CIP, defendeu a neutralidade tecnológica na energia. “Somos consumidores fortes de energia e, se não tivermos custos adequados para sermos competitivos na energia, não o seremos no produto final. É tão simples quanto isso”. Lembrou que Portugal optou por não explorar a energia nuclear e, ao fazer essas opções, “temos de lidar de forma muito consciente, porque isso impacta fortemente na nossa indústria”. Reforçou que a Ibéria é uma ilha energética, com um muro nos Pirenéus que a separa da Europa.
Philomène Dias, administradora da AICEP, destacou que “Portugal beneficia hoje de um capital de confiança por parte dos mercados e investidores, positivo quando há dez anos era visto como um país de salários baixos”. Portugal pontua bem na energia. “Se até há dez anos as empresas não nos questionavam qual era o mix energético, hoje é a primeira pergunta”. Estas empresas investem em Portugal para servir o mercado europeu, selecionando países que oferecem maior estabilidade.
Sem licenças não há energia
No painel “A Energia como Força de Competitividade”, Rodrigo Costa, CEO da REN, fez uma reflexão sobre esta onda de investimentos. “Todos já ouviram falar em 30 gigawatts de potencial consumo, 40 GW, 50 GW, data centers, fábricas de baterias, hidrogénio, refinarias e, portanto, onde é que está essa eletricidade toda que vai fazer falta?”. Esta é a grande preocupação porque “se não houver licenciamento, não há capacidade das empresas financiarem e apresentarem os seus projetos”.
Miguel Stilwell d’Andrade, CEO da EDP, mostrou-se mais positivo porque a procura de energia cresce pela primeira vez após muitos anos de estagnação, com “preços grossistas bastante mais competitivos do que o resto da Europa, o que está a induzir alguma procura adicional, mas não me refiro à fatura que chega ao cliente, porque esta contém uma série de outras alcavalas, impostos e taxas”.
Maria João Carioca, co-CEO da Galp, fez referência à combinação do licenciamento, da fiscalidade e da regulação para não existir um level playing field, mas entende que é a fiscalidade que “tem um efeito mais predominante para o que é crítico em diferentes momentos do mesmo projeto”. Salientou que “a regulação é um dos três fatores mais transversais, mais impactantes em diferentes fases, e que são muitas”. “As energias renováveis são um forte atrativo de investimento, um fator de competitividade. Temos de garantir que estão disponíveis e a preços competitivos”, afirmou Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente e da Energia, no encerramento da Portugal Energy Conference 2025.