A média de idades dos agricultores portugueses é hoje de 62 anos e as cooperativas do setor, em muitos casos, espelham a realidade das comunidades que as constituem. “Temos um setor envelhecido e temos de olhar para este problema de frente. Quantos vão estar daqui a 10 anos a produzir aquilo que comemos? Porque o que estamos a falar é de alimentação”. A pergunta foi de Idalino Leão, presidente da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri), que reúne cerca de 1.000 associados e conhece a fundo um ecossistema marcado também pela heterogeneidade e pelos desequilíbrios na densidade do território, com tudo o que isso representa em termos de serviços e recursos disponíveis, no debate “As cooperativas como fator determinante para o crescimento do negócio agroalimentar em Portugal”, integrado no no Congresso Internacional do Cooperativismo, uma iniciativa organizada pelo Crédito Agrícola e pela Confagri, e que contou com o Jornal de Negócios e o canal Now como media partners.
A renovação e a qualificação dos agricultores e das estruturas que os representam está atrasada e vai ser difícil de fazer sem apoios específicos, para um setor com muitas especificidades e pouca vontade política para mudanças de fundo.
“É preciso vontade política de alocar verbas que permitam mexer em recursos humanos, promover ganhos de escala, infraestruturas…” e faz falta uma “medida específica e exclusiva para as cooperativas”, identificou o responsável.
Reformas antecipadas podem acelerar renovação geracional
A Confagri tem ajudado a dinamizar algumas parcerias com universidades que reconhece não serem ainda de grande adesão, mas também lembra que no único período em que existiu comparticipação pública para este fim, a adesão foi massiva e os resultados significativos. “Há 30 anos houve uma medida para financiar a 80% a formação de altos quadros e as cooperativas que aderiram são as que hoje estão no top 100”.
Estruturas mais profissionalizadas terão mais condições para pôr no terreno a missão das cooperativas e para atrair talento, reclama-se, mas a Confagri defende medidas mais abrangentes para aliar à qualificação a necessária renovação geracional. Admitir reformas antecipadas para o setor agrícola, enquanto profissão de desgaste rápido, é uma das propostas.
“Acelerar essa transição seria uma forma de não desperdiçar a geração mais formada de sempre na agricultura. Muitos filhos formaram-se e querem dar continuidade aos negócios dos pais, mas os pais ainda não estão prontos para fazer a transição. Quando acontecer já não são jovens agricultores” e a falta de perspetiva desse apoio pode levar a outras decisões de carreira entretanto.
Regular e equilibrar preços é fundamental
Onde os representantes do setor acreditam que os governos também podem fazer mais é na regulação de preços com elevado impacto na atividade, como os preços do combustível.
Entre Portugal e Espanha a diferença no preço do gasóleo agrícola rondará os 26 cêntimos e em Portugal não há desconto de preço para frotas cooperativas. “O setor primário e secundário são igualmente afetados e não há vontade política para mexer nisto”, acusa Idalino Leão.
Nesta área, às medidas de curto prazo é preciso juntar uma visão a médio e longo prazo, acrescentou Elli Tsiforou, secretária-geral da Copa-Cogeca, apontando para as metas ambientais europeias e lembrando que as cooperativas precisam de apoio para dar os passos necessários para essa transição.
A secretária-geral da Copa-Cogeca lembrou que a capacidade de investimento e a rentabilidade dos projetos são essenciais para os desafios que se colocam. Se o setor não for rentável e não conseguir pagar bons salários, não consegue atrair nem reter talento. “As cooperativas são fundamentais para o futuro económico da Europa. São uma das grandes conquistas do mercado único”, concluiu Elli Tsiforou.
Para concretizar estas mudanças faltam apoios específicos para a contratação de recursos humanos e para o processo de integração de cooperativas. Os apoios disponíveis ou não cobrem as necessidades específicas do setor, ou não estão disponíveis em condições de igualdade com outros destinatários.
Ao contrário do que se verifica em Espanha, conclui a pesquisa, em Portugal não há medidas de apoio destinadas expressamente a cooperativas. Os apoios que existem e que podem ser aproveitados pelo setor estão altamente fragmentados, um problema que é comum a todo o tecido empresarial.
A análise recomenda que sejam criados incentivos de apoio ao investimento e disponibilizados instrumentos financeiros para a qualificação e redimensionamento do setor cooperativo, bem como sistemas de apoio a ações de eficiência coletiva (qualificação, consolidação e internacionalização).
“Sabemos que o mercado reage mal à desfragmentação e desagregação e por isso é tão importante o papel das cooperativas”, sublinhou Hermano Rodrigues na apresentação. Essa missão ganha mais relevo num país onde 95% das explorações agrícolas são de pessoas individuais, principal da EY - Parthenon.