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Sustentabilidade como valor e competitividade

Entre a pressão regulatória, a necessidade de investimento e a escassez de talento, a sustentabilidade deixou de ser um tema acessório para passar a influenciar a competitividade, a resiliência e o acesso ao financiamento das empresas.

15:03
Debate sobre sustentabilidade e competitividade no Millennium Portugal Exportador.
Debate sobre sustentabilidade e competitividade no Millennium Portugal Exportador. Hugo Monteiro
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O painel “Sustentabilidade como valor”, integrado no Millennium Portugal Exportador 2025, reuniu Gonçalo Pascoal, diretor coordenador do Gabinete de Estudos, Supervisão e Sustentabilidade do Millennium bcp, António Coutinho, CEO da EDP Inovação, João Safara, vogal do Conselho de Administração do ISQ, e João Crispim, diretor de Sustentabilidade do Grupo Casais. No debate, moderado por Hugo Neutel, jornalista do Negócios, ficou claro que a sustentabilidade, nas suas dimensões ambiental, social e de governação, está cada vez mais ligada à continuidade do negócio e à capacidade de competir em mercados exigentes.

António Coutinho sublinhou o papel da inovação como condição para acelerar a transição energética, num esforço que exige ganhos de produtividade e novas soluções tecnológicas. Destacou a automação, a robótica e o uso de drones como respostas a um desafio que atravessa vários setores, a escassez de talento num contexto demográfico adverso. A ideia central foi simples. Sem inovação, não há escala, nem resiliência, nem opcionalidade num ciclo de investimento global que tende a intensificar-se.

Do lado da construção, João Crispim afirmou que, no Grupo Casais, a sustentabilidade está incorporada no propósito e na estratégia, com eixos orientadores que vão das pessoas ao território e à inovação. Defendeu que a sustentabilidade é uma oportunidade e não um custo, numa fase em que a exigência não se limita à eficiência operacional dos edifícios, mas se estende aos materiais, aos processos e à industrialização da construção. A experiência internacional do grupo serviu ainda para reforçar que as prioridades variam por geografia, com a Europa mais focada no ambiental e outros mercados a privilegiar dimensões sociais.

João Safara enquadrou a sustentabilidade como um tema estratégico e transversal, defendendo que não pode existir uma “estratégia ESG” separada da estratégia da empresa. Explicou o papel do ISQ na verificação e validação de financiamento sustentável, com foco na prevenção de práticas de greenwashing e na credibilização de investimentos e emissões associadas a objetivos ESG. Assinalou também diferentes ritmos globais, com a Europa a liderar a regulação, enquanto outras geografias evoluem a velocidades distintas.

Já Gonçalo Pascoal trouxe a perspetiva do banco enquanto parceiro da transformação, indicando que, apesar de alguma incerteza no contexto, há um interesse crescente das empresas em integrar sustentabilidade nos modelos de negócio. Apontou três forças que empurram essa evolução, a regulação, as exigências das cadeias de valor e a incorporação de tecnologias para ganhar eficiência. No plano do financiamento, defendeu que integrar sustentabilidade abre horizontes, alargando o universo de investidores e soluções disponíveis, desde instrumentos bancários a emissões no mercado de capitais, sempre com a condição de uma boa informação e um diagnóstico sólido.

No fecho, ficou uma mensagem comum. Sustentabilidade com valor exige governação capaz de transformar intenção em ação, exige investimento em inovação e pessoas, e exige transparência no relato e na gestão do risco. Não como exercício de “papelada”, mas como caminho para assegurar competitividade, confiança dos financiadores e capacidade de crescer num mundo em rápida mudança.

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