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Durão Barroso: “O problema da Europa é que não acredita em si própria”

A Coreia do Norte forneceu munições de artilharia à Rússia com muito mais rapidez do que a União Europeia cumpriu a sua promessa de entregar munições à Ucrânia. O testemunho foi feito por Dmytro Kuleba, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia.

26 de Junho de 2025 às 17:30
Now Lisbon Conference debate relações Europa-Atlântico
Now Lisbon Conference debate relações Europa-Atlântico Fernando Costa
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A conversa sobre “O Futuro da Ucrânia” foi conduzida por José Manuel Durão Barroso, antigo presidente da Comissão Europeia e por Dmytro Kuleba, ex-vice-primeiro-ministro para a Integração Europeia e Euro-Atlântica da Ucrânia.

“Sou um otimista, mas não há nenhuma hipótese de haver um cessar-fogo de paz, de haver paz na Ucrânia, nestas circunstâncias”, respondeu Dmytro Kuleba, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, quando questionado por Durão Barroso sobre as perspetivas de alcançar a paz na guerra da Ucrânia, durante a conversa sobre “O Futuro da Ucrânia” integrada na conferência The Lisbon Conference: Europe and Transatlantic Relations, que assinalou o primeiro aniversário do canal Now.

Dmytro Kuleba explicou que Vladimir Putin não sente qualquer pressão para fazer concessões. Mantém uma economia de guerra lucrativa, sustentada pelas receitas petrolíferas, que lhe permite produzir mais armamento e fazer “o teatro da pressão”, como a renovação de bases de artilharia ao longo da fronteira com a Finlândia, por exemplo.

A abordagem de Donald Trump às negociações de paz levam a Ucrânia a recear ser pressionada a ceder território, com concessões que serão crescentes motivada pela “tática tradicional russa” de aumentar constantemente as exigências durante as conversações. Segundo Dmytro Kuleba, “ambos os lados têm a capacidade de lutar. Um para atacar, outro para se defender”.

A Rússia quer a aniquilação da Ucrânia enquanto entidade. Não quer que a Ucrânia seja um verdadeiro Estado. Durão Barroso, Curador da Conferência The Lisbon Conference, Antigo Presidente da Comissão Europeia

Por sua vez, Durão Barroso recordou que, em 2014, quando ainda era presidente da Comissão Europeia, Vladimir Putin lhe disse que a invasão da Crimeia não estava a ser feita pelo exército russo, mas apenas por “alguns russos que estavam na Crimeia, família, amigos, etc.” Acrescentou que se fosse o exército russo, posso dizer-vos que podíamos tomar Kiev em menos de duas semanas”. Para Durão Barroso, “a Rússia quer a aniquilação da Ucrânia enquanto entidade. Não quer que a Ucrânia seja um verdadeiro Estado”.

Na sua opinião, “torna-se claro que a Ucrânia não vai sair vitoriosa. Mas, aparentemente, a Rússia não vai ter uma vitória. Assim, a Ucrânia não pode atingir os seus objetivos, pelo menos num futuro previsível, de recuperar o território perdido. Mas também a Rússia não irá atingir os seus objetivos”.

Condições de cessar-fogo

Para que houvesse um cessar-fogo que pusesse termo ao derramamento de sangue e prenunciasse uma resolução diplomática seriam necessários, segundo Dmytro Kuleba, três elementos poderiam alterar o curso do conflito. A queda dos preços do petróleo e a falta de receitas que sufocaria a máquina de guerra russa, o reforço das defesas aéreas ucranianas para proteger cidades e infraestruturas, e os avanços tecnológicos no cmapo de batalha, com investimentos significativos em inovação que permitiriam “ultrapassar a Rússia”.

Para Dmytro Kulena, o objetivo de Putin é “subjugar a Ucrânia e provar aos europeus e ao mundo inteiro que a promessa de unidade concedida pela União Europeia e pela NATO é falsa”. O antigo chefe da diplomacia ucraniana criticou ainda a abordagem europeia, comparando-a a alguém que “reinicia o despertador a cada 15 minutos”, adiando continuamente a tomada de decisões cruciais.

Sobre a postura tradicional da Europa face aos conflitos entre a Ucrânia e a Rússia, observou que, sempre que surgia um confronto, “a primeira pergunta que ouvimos dos europeus foi: ‘Então, meu caro, o que está disposto a conceder?’” E acrescentou que “este tem sido o pensamento estratégico europeu desde 1991”.

Conflito mundial

Relativamente aos Estados Unidos sob a administração Trump, Dmytro Kuleba antecipa uma redução significativa do apoio militar, embora identifique três alavancas críticas que continuam sob controlo americano. São eles, os intercetores Patriot PA-3, essenciais para travar mísseis balísticos; a partilha de informações, onde “As capacidades de informação da Europa são muito inferiores às dos Estados Unidos”; e as peças sobressalentes para o equipamento militar norte-americano em uso na Ucrânia. O antigo chefe da diplomacia ucraniana afirmou ainda que “ficaria extremamente surpreendido, e feliz se estiver errado, se os Estados Unidos chegassem ao ponto de o presidente Trump lançar o seu próprio o programa de financiamento de entregas de armas à Ucrânia”.

A Europa não é fraca. A Europa é forte. O problema é que não acredita em si própria. Dmytro Kuleba, Ex-Vice-Primeiro-Ministro para a Integração Europeia e Euro-Atlântica da Ucrânia

Durão Barroso sustentou que a guerra na Ucrânia se tornou um conflito mundial, afirmando que “temos a Coreia do Norte com tropas e armamento no terreno, as ramificações no Irão, os Estados Unidos, a China, que na realidade é que um grande facilitador para evitar sanções à Rússia”. O antigo ministro ucraniano concluiu com uma mensagem à Europa. “A Europa não é fraca. A Europa é forte. O problema da Europa é que não acredita em si própria”, alertando que “já não há ninguém que venha ajudar, exceto o exército ucraniano”.

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