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Energia para duplicar o PIB em 15 anos

As energias renováveis são uma vantagem ambiental e económica, que podem ajudar a transformar a economia nacional.

14:00
António Coutinho, presidente da Associação Portuguesa da Energia, na abertura da Portugal Energy Conference.
António Coutinho, presidente da Associação Portuguesa da Energia, na abertura da Portugal Energy Conference. Fernando Costa
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António Coutinho, presidente da Associação Portuguesa da Energia, na abertura da Portugal Energy Conference.

“Portugal nunca teve na sua história energia abundante e competitiva como hoje. Com as energias renováveis, temos uma das mais fortes combinações europeias de recursos renováveis, estabilidade institucional, maturidade regulatória e capacidade de execução humana e tecnológica.” Esta vantagem não é apenas ambiental, é económica”, afirmou António Coutinho, presidente da Associação Portuguesa da Energia, na abertura da Portugal Energy Conference, e que teve como tema “Energia: Competitividade na Reindustrialização”.

João Rui Ferreira, secretário de Estado da Economia, defendeu que existe um futuro industrial para Portugal, porque o “país hoje reúne condições únicas para acompanhar e liderar um novo ciclo industrial europeu”. Na sua opinião, “contamos com vantagens decisivas, energia renovável estruturalmente mais competitiva, uma posição geográfica privilegiada para a integração logística e energética e uma base e uma cultura industrial que, sendo madura, tem também um potencial de futuro”. Após anos de declínio, o investimento na energia ressurge impulsionado pela revolução tecnológica do setor, tanto pela Inteligência Artificial (IA) e pelos centros de dados como pela eletrificação e pela reindustrialização em alguns países, ao mesmo tempo que enfrenta um mundo cada vez mais envelhecido, com baixa natalidade e um rácio de dependência de idosos crescente. Para André Anacleto, partner da McKinsey Portugal, P ortugal nunca teve na sua história energia abundante e competitiva como hoje.que apresentou o estudo Plano Energia para Crescer Portugal 2026-2040, o salto exponencial da produtividade pode vir da IA e da automação, o que permitirá ganhos de produtividade de mais de 20 vezes. Por isso, Portugal pode ambicionar duplicar o PIB nos próximos 15 anos, a partir de uma energia verde de baixos custos, em moléculas renováveis e noutros derivados.

Necessidade de segurança e certeza regulatória

“Em Portugal existe uma indústria de aço efetivamente circular, com as melhores tecnologias existentes e com emissões naturalmente muito inferiores à fabricação a partir de minério”, destacou Álvaro Alvarez, CEO da Megasa, no painel “Oportunidades da Indústria Existente”. Para a competitividade, Álvaro Alvarez defendeu que a indústria eletrointensiva tem de apostar no autoconsumo, mas seria necessário “estruturar uma regulação que permita combinar o autoconsumo com uma prestação de serviços do sistema”.

Nuno Santos, administrador da Navigator, explicou que, nas empresas eletrointensivas, “a energia é o principal fator de custo, ou um dos principais fatores de custos da nossa atividade. Portanto, sem competitividade do fator energia, não vamos longe, não vamos conseguir crescer, não vamos conseguir investir mais, não vamos conseguir crescer nas nossas exportações”.

Portugal nunca teve na sua história energia abundante e competitiva como hoje. António Coutinho, Presidente da Associação Portuguesa da Energia

Na comparação com outros países europeus, Nuno Santos revelou que “França tem preços que chegam a ser três vezes inferiores para os clientes eletrointensivos, a Alemanha pode chegar a quase metade, Espanha tem também uma vantagem de cerca de 20% a 30%”.

Jorge Marques dos Santos, presidente do Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro, destacou que “a indústria cerâmica utiliza essencialmente gás natural e, de repente, exigem-se metas muito exigentes para uma transformação quase num curto intervalo de tempo, mas, antes de se mudar, tem de se ver se tecnologicamente é possível”. Sobre o autoconsumo, referiu que “a maioria das indústrias está a instalar painéis fotovoltaicos, mas, face às necessidades energéticas, não é suficiente”.

Indústria europeia ameaçada

“Não há uma solução, há uma soma de soluções que permitem chegar à neutralidade carbónica”, concluiu Cecília Meireles, secretária-geral da ATIC (Associação Portuguesa de Cimento). Alertou para a necessidade de “segurança e certeza regulatória”, sublinhando que “não podemos planear investimentos desta monta num clima de incerteza regulatória”. Na indústria do cimento, “a transformação do calcário em clínquer liberta CO2, o que significa que temos de fazer a captura de carbono”.

Mário Jorge Machado, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), salientou que “a indústria europeia tem um desafio, que é fazer a eletrificação de uma economia sem emissão de CO22, mantendo-se competitiva”. Alertou que “os decisores políticos em Bruxelas têm de perceber que estão a destruir a indústria na Europa. Não podemos continuar num caminho no qual o custo não é relevante e, se a Europa produz mais caro, vamos produzir fora da Europa”.

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